O serviço de marcação de exames laboratoriais de sangue e urina pelo Sistema Único de Saúde (SUS) está suspenso em Juiz de Fora, desde a última sexta-feira (29). Segundo a assessoria da Secretaria de Saúde, cerca de cem destes procedimentos são realizados por dia na rede pública, o que representa, somente até esta terça-feira (2), uma demanda reprimida de 300 análises. A situação se deve ao término do contrato com as empresas que prestam o serviço de gestão de laboratórios de análises clínicas no município e pela determinação da suspensão do pregão eletrônico para licitação de novo prestador, pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), no último dia 21 de março.
De acordo com o órgão, a medida cautelar foi tomada por suspeitas de irregularidades, após a realização de um levantamento técnico do edital de contratação. Contudo, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou que o TCE não viu irregularidades no pregão, apenas orientou três recomendações técnicas ao Município, que prontamente acatou e realizou os ajustes necessários. Por meio de nota, a assessoria de comunicação da PJF informou que o edital será republicado em breve. “Até a finalização deste processo, a Secretaria de Saúde está revendo o contrato existente. Os casos considerados prioritários, como exames para gestantes, diabéticos e outros de indicação médica prescrita, serão atendidos em um período máximo de um mês”, pontuou o texto.
Quem foi ao PAM-Marechal nesta terça-feira com os pedidos de exames saiu indignado. Foi o caso da paciente Vera Lúcia Maria da Silva, 68. Ela contou que havia conseguido marcar seu exame de sangue na Unidade Básica de Saúde (UBS) Monte Castelo para a próxima quinta-feira (4). Contudo, ela recebeu uma ligação de profissionais da unidade comunicando que o exame teria de ser adiado. Também foi feita solicitação para que ela comparecesse no PAM-Marechal para remarcar a data. No entanto, no PAM, teve outra negativa sob a justificativa de não haver vagas disponíveis para a marcação de novos exames. Ela afirma que necessita do resultado com urgência, a fim de conseguir agendar uma consulta com cardiologista. A paciente e outros usuários que estavam no local disseram que não havia esclarecimentos de como proceder.
A assistente administrativa Alaine Stefani Teixeira de Oliveira, 23, também não conseguiu agendar seu exame de sangue nesta terça. Ela saiu da Vila Ideal, região Sudeste, para tentar a marcação no PAM-Marechal, mas foi informada de que não havia mais vagas. De acordo com a usuária da rede pública de saúde, foi solicitado que ela retornasse ao local na próxima quinta-feira, pela manhã, para nova tentativa. “É um descaso com a população. Tive que perder meu dia de trabalho para tentar marcar meus exames. Além de não estarem marcando, também não informam a população”, reclamou.
Sueli Martins, 52, também esteve no PAM-Marechal, na tarde desta terça, para tentar marcar exame de sangue para a filha, que está com suspeita de anemia. Ela não conseguiu o agendamento por meio da UBS Milho Branco, unidade referência do bairro onde ela reside, e precisou se deslocar até o Centro para a marcação. No entanto, também não conseguiu uma vaga e deixou o local sem receber uma previsão de quando conseguiria definir uma data para o procedimento da filha.
Questionado sobre a gravidade da situação em Juiz de Fora, o representante do Conselho Municipal de Saúde, Jorge Ramos, afirmou: “Sequer fui informado pela Secretaria de Saúde de tal decisão. É inadmissível que pacientes da rede de urgência esperem por 30 dias por estes exames”.
Secretaria de Saúde promete realizar mutirão
A Secretaria de Saúde do município informou que, assim que a situação for regularizada, haverá um mutirão para agilizar os exames da demanda reprimida. Além disso, também garantiu que os funcionários que trabalham no setor de marcação de exames laboratoriais foram orientados a informar os pacientes. Contudo, a Tribuna esteve no PAM-Marechal, no início da tarde desta terça-feira (2), e conversou com usuários que tentavam marcar seus exames no local. Todos afirmaram à reportagem que não receberam esclarecimentos sobre a justificativa de o setor não estar com agendamento disponível e que apenas foram comunicados que não haviam vagas.
Conforme a ouvidora de Saúde, Samantha Borchear, embora ainda não tenham denúncias formalizadas, muitos usuários do SUS já estariam encaminhando reclamações ao órgão. Com isso, na última sexta-feira, a Ouvidoria encaminhou notificação à Secretaria de Saúde e aguarda retorno sobre a situação.