Discursos de ódio e até ameaças de morte nas redes sociais contra agentes penitenciários que atuam no sistema prisional de Juiz de Fora têm provocado a indignação da categoria e o receio de que terminem em ataques reais contra os servidores, inclusive resultando em motins. Atualmente, 800 agentes atuam nas unidades prisionais do município para dar conta de cerca de 2.500 prisioneiros, conforme a Associação do Sistema Socioeducativo e Prisional de Juiz de Fora (Assprijuf).
De acordo com o presidente da Assprijuf, Wanderson Pires, a entidade irá, por meio de seu departamento jurídico, buscar formas de rastrear a identidade de quem faz as postagens, a fim de que providências sejam adotadas, inclusive com pedidos de abertura de inquérito policial. “As pessoas estão atingindo a imagem dos agentes prisionais nas redes sociais, fazendo generalizações e criando uma revolta muito grande na categoria”, observa Pires, ressaltando que essa situação pode refletir de forma violenta dentro das cadeias. “Nós fazemos parte do dia a dia dos presos. Damos nosso melhor e só recebemos críticas, ameaças, até ameaças de morte”, lamenta.
Pires explica que os trabalhadores se preocupam, uma vez que ficam na mira dentro e fora das penitenciárias.”Corremos risco aqui fora, pois já recebemos ameaças reais. Nosso acesso ao complexo penitenciário é perigoso, deserto. Quando saímos, procuramos deixar o local em grupo, nunca sozinhos, pois temos receio”, afirma. Os comentários de ódio e ameaças aumentaram depois de uma fuga na Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires, registrada na madrugada do último dia 20, quando três detentos fugiram e um buraco, que estaria sendo cavado há dez dias, foi encontrado na cela.
O medo dos agentes é de que essa repercussão negativa também resulte em novos motins, como o que aconteceu em 31 de janeiro deste ano, ocasião em que fezes e urina foram jogadas por prisioneiros contra agentes penitenciários durante confusão na Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires.
Durante a revolta, alguns acautelados também atearam fogo em colchões, sendo necessário o uso de mangueiras a fim de combater o incêndio. Para conter o tumulto e evitar uma rebelião, os servidores precisaram agir com bombas de efeito moral, tiros de munição de borracha calibre 12 e sprays de pimenta.
Seis presos ficaram feridos e foram medicados na própria penitenciária. O motim teria começado durante o procedimento de finalização do banho de sol e direcionamento de presos às suas celas. Os detentos das unidades quatro e cinco contestaram as determinações do Grupo de Intervenções Rápidas (GIR) para manter a ordem no interior do pátio e não atenderam as ordens. Além disso, eles teriam iniciado a incitação de todo o pavilhão 3, provocando uma desordem generalizada, com xingamentos e ameaças de morte.
Salvaguardar agentes e impedir mensagens
Nas mensagens que circulam nas redes, há comentários que afirmam ser os próprios agentes os responsáveis pela entrada de drogas e celulares nas unidades. Algumas dizem que os servidores são corruptos e que facilitam as fugas de detentos em troca de pagamentos. Conforme o presidente da Assprijuf, uma das pessoas que fizeram postagens contra os agentes se identificou como conselheira da OAB.
“Chegamos a consultar a Ordem (OAB ) sobre essa determinada pessoa e fomos informados de que ela não faz parte e, assim, também faz uso indevido do nome da entidade, que nos garantiu que, caso haja necessidade, estará junto conosco para tomar providências”, afirma. As medidas, segundo Pires, têm objetivo de salvaguardar os agentes e impedir a circulação dessas mensagens negativas.
“As pessoas não conseguem enxergar a gravidade. Dependendo da forma como esses comentários chegam para o agente penitenciário, se ele se sente ultrajado, no lugar de prestar um bom serviço, pode mudar sua forma de trabalhar, o que é perigoso, pois pode acarretar em motim. Queremos respeito, pois somos os responsáveis para lidar com os presos no dia a dia.”
De acordo com Pires, a repercussão da imagem negativa dos agentes deixa os trabalhadores revoltados. “A população precisa saber que, se não fôssemos profissionais, as cadeias de Minas e, principalmente, de Juiz de Fora, que é a segunda maior cidade em número de unidades prisionais no estado, ficando atrás só de Ribeirão das Neves, estariam largadas”, pontua. Segundo ele, a categoria está cobrando uma postura muito firme da Associação. “Porque trabalhamos, atualmente, não apenas como agentes, somos psicólogos, pedagogos, assistentes sociais, médicos e enfermeiros, porque temos que trabalhar as deficiências do Estado.”
A Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) informou que todas as denúncias, devidamente formalizadas, são apuradas pela Seap nos termos da lei.