Apontada como a terceira maior facção do país, atrás apenas do PCC e do Comando Vermelho, a Família do Norte do Amazonas matou cerca de 60 detentos do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, o Compaj. As mortes estão relacionadas com a disputa entre a FDN e o PCC. Para os investigadores ouvidos pela reportagem, não se trata de um rebelião e sim de um “limpa geral” da FDN contra integrantes da facção paulista no Amazonas.
A FDN atua no tráfico de drogas, em especial de cocaína, na região Norte do país por meio do domínio da Rota do Solimões, responsável por escoar toda a droga produzida no Peru e Bolívia para os centros consumidores no Brasil e no exterior. Aliada do Comando Vermelho, a FDN foi alvo da operação La Muralla da Polícia Federal em 20 de novembro de 2015. Os principais líderes da facção foram presos e transferidos para presídios federais.
Na investigação que deu origem à La Muralla, a Polícia Federal já havia mapeado a disputa entre as duas facções. Em pouco mais de 6 meses de investigações, segundo a PF, “foram interceptadas e analisadas mais de 1 milhão e cem mil mensagens e chamadas telefônicas relacionadas a todo tipo de práticas criminosas, sendo coletados importantes elementos de informação e de prova de crimes como tráfico internacional de drogas, tráfico de armas, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, homicídios, sequestros, torturas, corrupção de autoridades públicas e outros conexos, que são praticados e/ou planejados diariamente por praticamente por seus membros.”
Durante a investigação também foram realizadas 11 grandes apreensões de aproximadamente 2,2 toneladas de drogas, avaliadas em mais de 18 milhões de reais, além de armas de fogo de grosso calibre, que incluem submetralhadoras 9mm e granadas explosivas de mão.
Assim como outras facções, a FDN possui um estatuto próprio com os “pilares de hierarquia e disciplina, para difusão através de extrema violência aos detentos do sistema prisional amazonense”. A regra número um é que nada é feito ou definido sem a ordem ou aprovação de seus fundadores e principais lideranças que são: Gelson Lima Carnaúba, vulgo “G”, e José Roberto Fernandes Barbosa, antigo traficante do Bairro Compensa, conhecido pelas alcunhas de “Z”, “Messi” e/ou “Pertuba”.
Esquartejamentos e decapitações
Cerca de 60 presidiários morreram em sangrento confronto de facções no Compaj, entre a tarde de domingo, 1º, e a manhã desta segunda-feira, 2, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Amazonas. Houve esquartejamentos e decapitações, informou a Polícia Militar.
Durante a rebelião, dez agentes carcerários foram feitos reféns, mas posteriormente liberados. Os detentos do regime fechado haviam tomado a área dos presos no semiaberto, após abrirem uma passagem. Outros presos também foram feitos de reféns. Alguns dos liberados saíram feridos do complexo. A situação foi controlada por volta das 9h desta segunda.
Segundo o secretário de Segurança, Sérgio Fontes, a carnificina se deu por conta de um confronto interno entre as facções Família do Norte e Primeiro Comando da Capital. Paralelamente à rebelião, pelo menos 20 detentos fugiram de outra penitenciária na capital amazonense, o Instituto Penal Antonio Trindade (Ipat), também na tarde de domingo. Oito já foram capturados.
Epitácio Almeida, presidente da Comissão de defesa dos Direitos Humanos da OAB-AM, coordenou as negociações com os presos e trabalhou na libertação dos reféns, que foram soltos na manhã desta segunda. De acordo com ele, este é um dos piores massacres em presídio que já houve no país.