Ícone do site Tribuna de Minas

Movimento social faz ato simbólico pelos negros mortos na cidade

Vidas Negras 3 Marcelo1
Vidas Negras Marcelo
Ato contou com participação de estudantes, jovens e ativistas do movimento negro (Fotos: Marcelo Ribeiro)
PUBLICIDADE

Bryan, Diego, Vicente, Ivan e Miguel não se conheciam, mas possuem algo em comum: são negros mortos pela violência em Juiz de Fora. Juntam-se a eles inúmeros jovens na mesma condição. A lembrança de todos eles aconteceu na manhã desta quarta-feira (1), no Calçadão da Rua Halfeld, na abertura da programação do Mês da Consciência Negra, organizado pelo movimento social Convergência Negra e pela Superintendência Regional de Ensino. O início das atividades ocorreu com montagem da instalação “Vidas negras importam”, com mais de cem cruzes pintadas de preto, que simbolizavam negros mortos em Juiz de Fora, identificados por um adesivo com o nome.

Com microfone e surdos, jovens, professores e ativistas chamavam a atenção de quem passava pela Rua Halfeld, com falas de protesto e declamações de poesias que criticavam a desigualdade social vivenciada, e que valorizam a cultura negra. Um deles foi o estudante da Escola Estadual Maria de Magalhães Pinto Diego Francisco, 17 anos, que fez uso do microfone para declamar uma poesia relatando as dificuldades de conviver com o preconceito diariamente. “Avisaram no colégio em cima da hora e eu vim. É uma chance de colocar para fora essa dor e expandir os nossos pensamentos, de ter a chance de falar para o público, mesmo que não atinja tantas pessoas. A gente se corrói por dentro com o que acontece, mas essa instalação é a chance de falar do tema, o que nos conforta na tentativa de mudar a sociedade.”

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

Segundo o coordenador do movimento Convergência Negra, Martvs das Chagas, um estudo publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) – órgão vinculado à ONU -, em parceria com a Fundação João Pinheiro e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrou que Juiz de Fora é a terceira cidade do Brasil em desigualdade entre brancos e negros. A  pesquisa, publicada em junho deste ano, leva em conta o Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) da população negra. O município aparece depois de Porto Alegre (RS) e Niterói (RJ).

 

PUBLICIDADE

movimento tem como objetivo sensibilizar a sociedade e o poder público sobre a necessidade de políticas públicas inclusivas, valorizando a cultura e a educação,  demonstrando para cidade a necessidade de agir diante de tantas mortes, tanta desigualdade em Juiz de Fora. O poder público não faz nada pra coibir, não existem políticas públicas para o tema. Por isso nós resolvemos montar essa instalação como início das nossas atividades para este mês

   Martvs das Chagas, coordenador do Convergência Negra 

 

A superintendente regional de ensino, Fernanda Moura, presente no ato, relembrou os acontecimentos na Escola Estadual Fernando Lobo para ressaltar a importância dessa parceria para elaboração do ato e das atividade. Em setembro, frase com conteúdo racista foi pichada nos muros da instituição, no Bairro São Mateus. “Nós estamos perdendo muitos jovens das escolas para violência, presídios e centros sócio-educativos, então precisamos agir diante disso. O que está acontecendo é um genocídio da juventude negra, por isso essa parceria em conjunto para divulgarmos e trabalharmos esses temas dentro de sala de aula, incentivando a reflexão.”

PUBLICIDADE

 

Mobilização

PUBLICIDADE

Durante todo o mês, até o Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro, o grupo organiza atividades diárias em diferentes bairros e instituições de ensino da cidade, em parceria com a Superintendência Regional de Ensino. Até o dia 20, o movimento pretende desenvolver mais de 40 ações, como atividades culturais, rodas de conversa, apresentações e simpósios, mobilizando a sociedade, alunos e o Poder Público. A programação completa será anunciada nesta quinta-feira (2).

O encerramento da programação acontece no dia 20, com uma marcha que contará com a presença da secretária de Estado de Educação, Macaé Maria Evaristo dos Santos, e com audiência pública organizada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que debaterá a mortalidade de jovens negros e a disparidade social na cidade. O evento acontece às 17h, no prédio da OAB/Juiz de Fora, localizado na Avenida dos Andradas 696, Bairro Jardim Glória.

 

PUBLICIDADE
Sair da versão mobile