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Golpe da UTI volta a fazer vítimas em Juiz de Fora

santa casa capa
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Parentes de pacientes internados em tratamento intensivo na Santa Casa de Juiz de Fora continuam sendo alvo de criminosos, que, se aproveitando de um momento de fragilidade da família, tentam extorquir dinheiro pelo telefone aplicando o conhecido “golpe da UTI”. Uma das vítimas, que procurou a polícia em junho deste ano, chegou a depositar R$ 1.500 para os estelionatários. Outra, registrou um boletim de ocorrência no último dia 17, após bandidos solicitarem dinheiro para aquisição de medicamentos de uma paciente internada no CTI da unidade. Neste último caso, os bandidos não conseguiram emplacar o assédio.

Para aplicar o golpe, o criminoso, de posse de informações sobre o estado de saúde do paciente, se passa por médico e entra em contato com um parente da pessoa internada. Ele solicita que seja feito um depósito bancário de um determinado valor para a aquisição de medicamento ou para a realização de um procedimento, argumentando que tal serviço não seria coberto pelo plano de saúde. O bandido reforça ainda que, sem o remédio ou o exame, o paciente pode vir a óbito. Abalado, o familiar segue as recomendações do falso médico e deposita o valor solicitado na conta indicada para que o paciente possa ter o atendimento necessário.

Os novos casos registrados reacendem a preocupação em torno da modalidade criminosa. A forma como conseguem acesso a dados sigilosos ainda não foi desvendada, mas há suspeita de que os bandidos se passariam por integrantes do corpo clínico para obter informações via telefone antes de atacarem as vítimas. Os casos seguem em investigação na Polícia Civil

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‘Eles repassaram dados corretos’

Uma dentista, 39 anos, que preferiu não se identificar, contou que sua mãe recebeu o telefonema de um homem que se identificou como Dr. Bráulio, médico plantonista do CTI do Hospital Santa Casa, onde uma amiga de longa data da família estava internada. Conforme o falso médico, a vítima estaria com uma bactéria que impedia efeitos dos remédios disponíveis, comprovado através de exames de sangue. O quadro poderia evoluir e, caso atingisse 50% da circulação, causaria um quadro de leucemia, o que poderia ser irreversível em virtude do estado da mulher. Para a aquisição de um medicamento mais eficiente e não disponível na Santa Casa, o homem alegou a necessidade de um depósito de R$ 3.500.

“Eles falaram sobre a doença dela, repassaram dados corretos e logo depois me deram o número de uma conta para realizar a transação. Ainda no telefone, fomos informados que tal procedimento seria reembolsado pelo plano futuramente, mediante requerimento. Mas, ao lembrar de uma reportagem, minha mãe decidiu ligar para o médico e para o meu irmão, que é policial. Só então, percebemos que se tratava de um golpe”, disse a dentista. Ela procurou o hospital, onde foi informada que o homem citado não fazia parte dos profissionais da Santa Casa e que a paciente não possuía despesas pendentes. A mulher foi orientada a registrar boletim de ocorrência.

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Antes disso, o irmão dela retornou o telefonema e insistiu no contato pessoal com o suposto médico, mas o criminoso desligou o telefone. “Ficamos preocupados. Como essas pessoas conseguem dados do paciente e o telefone da família?”, questionou a dentista. Ela relatou ainda que, na sala de espera da Santa Casa, sua mãe encontrou outras pessoas que chegaram a pagar determinadas quantias. Uma delas, inclusive, realizou o pagamento, via depósito, no valor de R$ 1.500.

No dia 9 do mês passado, uma mulher, 46 anos, procurou a Polícia Militar em Coronel Pacheco, cidade onde mora, para denunciar o golpe. Ela disse ter recebido uma ligação comunicando que sua avó paterna, internada no CTI da Santa Casa, teria sido diagnosticada com leucemia e precisaria realizar um procedimento de urgência no valor de R$ 1.500. A mulher informou aos policiais que o telefone foi feito de um número particular com o código 65. Do outro da linha, o homem determinou que o depósito deveria ser feito em uma casa lotérica. Fragilizada, a vítima fez o pagamento. O golpista realizou novo contato para dizer que, naquele momento, estaria atendendo a enferma.

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A mulher seguiu para a unidade hospitalar e lá descobriu que o profissional que cuidava de sua avó não havia solicitado tal procedimento e que o pedido de pagamento não havia partido da instituição, nem mesmo havia médico com o nome de Bruno Guedes, como identificado pelo estelionatário.

 

Santa Casa alerta parentes sobre crime

Procurada pela Tribuna, a gerente de responsabilidade social da Santa Casa, Silvana Lopes Loures, informou que o hospital já tem tomado diversas medidas para alertar os familiares sobre essas tentativas de golpe. Há cerca de quatro anos foram registrados os primeiros casos. “Todos nossos profissionais passam por treinamento e são orientados a não repassarem quaisquer detalhes e dados dos pacientes. Temos ainda um trabalho educativo e informativo feito através de panfletos e comunicados entregues e afixados na unidade.” Ainda de acordo com a gerente, os familiares alvo destes criminosos são aqueles em que os pacientes estão no CTI da unidade, aonde não é permitido acompanhante. “As tentativas de golpe vão se aperfeiçoando. Eles aproveitam do frágil estado de saúde do internado e utilizam de inúmeras maneiras para extorquir dinheiro, seja alegando exames, medicamento ou ainda cirurgias. Este tipo de golpe, geralmente, acontece no início do mês, por conta do recebimento de salário”, afirmou Silvana, lembrando que a Santa Casa não realiza qualquer cobrança por telefone.

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Em seu site, a instituição divulgou o seguinte comunicado: “Devido à tentativa de pessoas mal intencionadas em solicitar depósitos indevidos, via telefone, em nome da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, o hospital comunica que nunca é feito nenhum tipo de cobrança via telefone ou qualquer outro canal de comunicação. E que também não autoriza nenhuma pessoa ou empresa a fazer isso em nome da instituição. Denúncias devem ser feitas diretamente na Ouvidoria do Hospital, de segunda a sexta-feira, das 8 às 18hs.” As denúncias podem ser feitas ainda pelo 3229-2380.

Sem informar o número de vítimas desta modalidade, a assessoria da Polícia Civil ressaltou que os casos estão sendo investigados pela 1ª Delegacia, inclusive, já foram instaurados inquéritos policiais pelos delegados Luciano Vidal e Eduardo de Azevedo Moura. No entanto, detalhes não foram repassados a fim de não atrapalhar as investigações.

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