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Consumo de água precisa cair em JF

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O segundo ano consecutivo de chuvas abaixo da média e temperaturas elevadas já resultou na intensificação do rodízio do abastecimento de água que, três semanas após a implantação, começa a causar consequências. A principal delas é a reclamação de falta de água e o descumprimento dos horários determinados, assim como questionamento daqueles que têm a interrupção no sábado. Para se ter ideia do ano atípico, os primeiros sete meses de 2015 terminaram com calor acima do esperado em seis meses. A exceção foi maio, quando os termômetros ficaram 1,1 grau abaixo do esperado. Em média, a diferença com relação à série histórica dos últimos 30 anos é de 1,7 grau, com pico em janeiro, quando a diferença chegou a 5. Já o acumulado de chuvas somou 59% do previsto no período.

Mesmo com mais um ano fora do padrão de chuvas, a Cesama tem a intenção de utilizar João Penido, ainda a principal fonte de recurso da cidade, com o mesmo volume de água que tinha em 2014, embora esta possibilidade ainda esteja distante. Ontem, por exemplo, ela estava com praticamente a metade da água armazenada em 31 de julho de 2014 (52,98% contra 28%). Apesar disso, a diferença já foi maior, pois em 31 de janeiro o acumulado era de 30,77%, enquanto que, no mesmo dia, mas em 2014, 91,22% (ver quadro).

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Segundo a companhia, a conscientização dos moradores, o rodízio e a entrada de Chapéu D’Uvas no sistema têm contribuído para que esta diferença caia. No entanto, o quadro ainda é preocupante, principalmente se considerar que, em setembro, ela estava com 18%. Ou seja, caso o consumo continue em queda, João Penido corre o risco de praticamente secar, o que provocaria colapso no abastecimento de toda a cidade.

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Se for avaliado que o atual rodízio não esteja resultando em diminuição da demanda por água, o racionamento pode se tornar mais severo. A Cesama já promove revisões diárias e tem autorização da agência que a regula para reavaliar o atual modelo imposto. Uma próxima revisão do rodízio pode acontecer até 13 de setembro, segundo o plano de racionamento desenvolvido pela empresa pública. Conforme o diretor técnico-operacional da companhia, Márcio Augusto Azevedo Pessoa, projeção é que, em novembro, João Penido esteja 13% preenchida, considerando a média de consumo atual e a tendência de queda. “Nunca a operamos abaixo dos 18%, então precisamos reduzir esta diferença ao máximo.”

São Pedro

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A Represa de São Pedro também tem situação delicada, pois segue com perda acelerada de recurso. Para evitar que ela seque, como aconteceu em setembro de 2014, a Cesama já diminuiu o volume de água que sai dela a cada segundo, de cerca de 130 litros para 60 litros. Mesmo assim, o índice de acumulação estava, ontem, em 36%, contra 44% no dia 30 de junho. “Ano passado, com ela seca, conseguimos extrair cerca de 50 litros por segundo só com a água que chegava dos córregos. Agora fazemos o mesmo, com a diferença que a população tem realmente contribuído. Podemos dizer que, na Cidade Alta, o rodízio funciona de fato, e o consumo reduziu”, disse Pessoa.

As outras fontes de abastecimento público na cidade são o Ribeirão Espírito Santo, que é um manancial de passagem, e a Represa de Chapéu D’Uvas. Devido a falhas estruturais na Estação de Tratamento de Água Waldrido Machado de Mendonça (ETA-CDI), na Zona Norte, que deveria tratar a água destas duas fontes, ela não está podendo funcionar com a carga máxima. Por isso, Chapéu D’Uvas ainda contribui com menos de um terço de sua capacidade, obrigando a Cesama a gastar ainda mais água de João Penido.

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População sofre com o rodízio intensificado

Desde o início da intensificação do rodízio, em 13 de julho, consumidores de alguns bairros percebem caixas d’água vazias. No São Pedro, por exemplo, onde o corte ocorre três vezes por semana, a situação é preocupante para comerciantes. A proprietária de um pet shop na Rua José Lourenço, Eloiza Maria de Carvalho, 55 anos, afirma que o faturamento caiu mais de 30%. “Só esta semana deixei de dar banho em 20 cães por falta de água. Antes da mudança no rodízio, também ficava desabastecida, mas conseguia encher a caixa”, disse, acrescentando que, na quinta-feira, dia que não está no rodízio, o corte do fornecimento começou às 17h, estendendo-se para sexta. “Hoje (ontem), dia de maior movimento, só consegui atender a seis cães. Geralmente pego de 15 a 20.”

A auxiliar de bibliotecária Olívia Lopes, 51, moradora do condomínio Flamboyant, na Cidade Alta, também se diz prejudicada. Segundo ela, desde o rodízio da última terça-feira não há água em sua residência. “Desde que o rodízio foi intensificado, estamos constantemente sem água. Infelizmente estou precisando comprar água para consumo. Para outras situações, como limpeza, estou pegando em uma mina.”

Segundo o diretor técnico-operacional da Cesama, Márcio Augusto Azevedo Pessoa, a companhia promoveu uma obra de interligação esta semana, próximo à Rua Roberto Stiegert, para melhorar as condições de reabastecimento, pois havia dificuldade de recuperação em algumas áreas. “No Flamboyant, também faltou água por isso, e hoje (sexta) foi dia de rodízio. Sacrificamos agora para não ter mais problemas daqui em diante”, disse, garantindo que, na quarta, o abastecimento no bairro foi normal.

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No Granjas Bethânia, Zona Nordeste, a indignação é com relação ao corte nos sábados. “Estou com um bebê de 70 dias em casa e, no último sábado, não tinha uma gota dentro de casa. Eu entendo a necessidade de racionar, mas porquê não fazem um rodízio dos bairros prejudicados aos sábados? Minha esposa e eu trabalhamos a semana toda, e só temos este dia para cuidar da casa. Quando o racionamento era durante a semana, não tínhamos este tipo de problema”, disse o vigilante Rodrigo da Silva Carvalho, 45, acrescentando que, no sábado da semana retrasada, a água só voltou a cair por volta da meia-noite.

Conforme Márcio, pelo plano de racionamento, a companhia tem até 12 horas para restabelecer o abastecimento a todos os consumidores. Mesmo assim, o tempo tem sido inferior, chegando a, no máximo, seis horas em situações mais extremas. Ele também afirmou que não está descartada a hipótese de intercalar os bairros desabastecidos aos sábados, em avaliações futuras. Fato é que, atualmente, a região incluída no rodízio de sábado é a que a Cesama tem maior dificuldade em abastecimento em toda a cidade.

Qualidade da água piora com represa vazia

Além do rodízio no abastecimento, a Cesama tenta poupar água da Represa João Penido por outros meios. Um deles é o corte da descarga técnica, medida que deveria ser adotada para renovar a água parada no fundo do lago, garantindo sua limpeza e diminuindo o processo de sedimentação. Ao longo de 2013, por exemplo, a companhia descartou de 304 a 1.353 litros de água por segundo, dependendo do mês, para realizar a renovação do lago. Para se ter ideia do que representa este volume, atualmente saem do manancial cerca de 600 litros de água por segundo para o tratamento.

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Mais que impactar na qualidade da água, esta iniciativa, interrompida em janeiro do ano passado, contribui para a diminuição da vida útil da represa, conforme explica o diretor técnico-operacional da companhia, Márcio Augusto Azevedo Pessoa. “Estamos há todos estes meses sem renovar o manancial, captando tudo que chega, por meio dos córregos de contribuição e das chuvas. Isso piora a qualidade da água e pode resultar em um tratamento mais caro. Ainda não percebemos este impacto financeiro, mas a tendência é que esta qualidade diminua. Ali é um verdadeiro ecossistema. Não sei estimar quanto, mas, ao longo destes quase dois anos, diminuímos muito a vida útil de João Penido. Vamos voltar a dar descarga quando tivermos uma resposta com o retorno das chuvas dentro dos padrões. Mas com relação ao que já fizemos com o manancial, a perda é irreversível”, lamentou.

Para o doutor em geografia Cézar Henrique Barra, que coordena o curso de especialização em análise ambiental da UFJF e avalia a qualidade da água de João Penido desde 2012, a interrupção da descarga significa concentração de mais sedimentos no fundo do lago. Ou seja, a cada ano, a capacidade de armazenar água diminui, o que representa que, o atual nível dela, de 28%, pode conter menos água do que o mesmo patamar em anos anteriores.

Por isso ele concorda com a redução da vida útil da represa, o que, no entanto, não é possível estimar em quantos anos. Ainda conforme Barra, os sedimentos ficarão mais evidentes à medida que o volume cair, pois a água chegará para tratamento mais suja, aumentando os custos do processo. “Isso também aumentará o tempo de tratamento. É preciso ter muito cuidado e atenção também, pois esta água poderá estar contaminada com bactérias e protozoários que precisam ser eliminados antes de chegar aos consumidores”, alertou, dizendo que se o tratamento não for adequado os moradores poderão sofrer, por exemplo, com problemas gastrointestinais.

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