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Mais venezuelanos reconstroem a vida em JF

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Venezuelanas dizem ter encontrado “uma nova chance” de vida em Juiz de Fora (Foto: Felipe Couri)
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Na Casa Benjamin, situada no Dom Bosco, na Zona Sul de Juiz de Fora, quatro venezuelanas e três crianças nos aguardavam. Bem-vestidas, maquiadas e com um senso de esperança no olhar, após deixarem para trás seu país natal, em caos e sem perspectivas de futuro, além de uma temporada conturbada em Boa Vista (RR). Atualmente, a capital de Roraima abriga 25 mil venezuelanos, de acordo com mapeamento realizado pela Prefeitura do município. O número representa 7,5% dos moradores da capital. No entanto, é em Juiz de Fora que elas encontraram “uma nova chance”.

“Na Venezuela, era impossível pensar em qualquer qualidade de vida para os meus filhos. Sair de lá foi o primeiro passo, mas chegar a Juiz de Fora, depois de toda a falta de estrutura em Boa Vista com tanta gente chegando, significa um novo passo, uma nova chance de seguir em frente”, diz Idania de Pablos, de 42 anos, mãe de Jennifer, de 15, e Ruben, de 4, também hospedados temporariamente na casa mantida pela Associação dos Amigos (Aban), assim como seu marido, o médico cubano Yaniel Puig, que, até então, estava radicado na Venezuela.

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Em Juiz de Fora, atualmente, a casa abriga sete mulheres (sendo uma bebê) e sete homens (dos quais dois são crianças), numa expansão do imóvel desde que a Aban começou a receber os imigrantes, em outubro do ano passado. Ao todo, 37 pessoas tiveram o local como residência provisória, até que se estabelecessem no mercado e pudessem alugar um imóvel por conta própria. “Temos conseguido manter o plano inicial de que eles fiquem aqui na casa por um período de três meses, para podermos sempre acolher mais pessoas com uma boa infraestrutura. Mas, ao longo dos meses, o projeto foi crescendo tanto que mudamos o funcionamento da casa”, avalia Camila de Paiva Riani, coordenadora da iniciativa.
Antes, parte do imóvel era destinado à hospedagem de famílias de pessoas em tratamento, mas elas foram transferidas para outro andar, porque a demanda dos imigrantes era maior.

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“O projeto está caminhando muito bem, de fato estamos conseguindo transformar a vida das pessoas, e sem fazer assistencialismo, mas garantindo que elas sejam as próprias agentes desta mudança para uma vida melhor. Inclusive, todos participam das atividades de manutenção da casa”, conta Camila.

Imigrantes buscam inserção social

Durante o encontro dos imigrantes com a nossa reportagem, estavam também Wendy Orellana, de 24 anos, com seu filho Juan, de 3, e Wendy Gonzalez, de 34, mãe da pequena Larissa, de pouco mais de um ano. “Nossa batalha agora é para conseguirmos creches para as crianças, para que possamos procurar empregos e termos tempo de resolvermos questões burocráticas”, conta Gonzalez, engenheira de sistemas, que pretende buscar meios para validar seu diploma no Brasil. “Entretanto, existe uma concepção errônea da sociedade de que os imigrantes estariam ‘tentando’ tirar o emprego dos brasileiros. Mas na verdade, o que estão buscando são trabalhos de base mesmo, para os quais há muita demanda na cidade e, ainda assim, possuem remuneração melhor do que os cargos de suas especialidades na Venezuela”, destaca a coordenadora Camila Riani.

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“O que se vê na televisão sobre a Venezuela não corresponde à realidade, as coisas estão muito piores do que o que é mostrado. As pessoas estão mesmo passando fome, matando por comida, e não só os mais pobres, mas a classe média mesmo, gente que até outro dia tinha trabalho e uma boa qualidade de vida”, diz a jovem Jennifer, que pretende angariar uma vaga no Colégio Tiradentes, similar à instituição em que estudava em seu país natal. “Quando vimos o desabastecimento causado pela greve dos caminhoneiros, fiquei apavorada, foi assim que as coisas começaram na Venezuela, e seguiu-se uma onda de violência, empobrecimento geral, mas fiquei aliviada depois que percebemos que foi um movimento isolado”, aponta Idania, mãe de Jennifer.

Eventos promovem integração cultural e arrecadação de dinheiro

Segundo Camila Riani, coordenadora do projeto de acolhimento aos imigrantes, com o sucesso da iniciativa, aumentou a necessidade da Aban de receber apoio. “Com a ampliação do projeto, fomos passando a ter mais gastos naturalmente. Hoje, esta é a frente de atuação para a qual precisamos de mais dinheiro. Nunca faltou coisa alguma, está todo mundo bem instalado, mas para manter a casa, comprar alimentos… custa dinheiro mesmo”, destaca ela. Para angariar fundos, a associação tem feito eventos cuja verba é revertida para os fins destacados por ela.

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No próximo sábado (30), a associação promoverá a festa “Latino America”, que busca não só o levantamento de fundos, mas a integração cultural entre imigrantes e brasileiros. “A ideia é mostrar os traços culturais venezuelanos por meio de apresentações, comidas típicas e outras atrações, para que os brasileiros conheçam um pouco a Venezuela mostrada pelos próprios nativos”, diz ela, contando que os venezuelanos, por sua vez, têm aulas de português ministradas por voluntários, e também uma ambientação na cultura brasileira em eventos e junto à comunidade do Dom Bosco (no caso, enquanto vivem na Casa Benjamin).

A festa será realizada em parceria com a escola Park Idiomas (Rua Padre Café 179, São Mateus), e a programação cultural prevê apresentações às 14h, às 16h e às 18h. O destaque gastronômico são as tradicionalíssimas arepas, espécie de bolinho ou pão feitos com massa a base de milho e recheios variados. A entrada custa R$10 e será completamente revertida para a Aban.

Parcerias e doações também são maneira de ajudar

Camila destaca que parcerias, como as feitas com o curso de idiomas e outras instituições, são importantes meios de obter qualidade de vida e inserção profissional para os imigrantes. “Estamos tentando buscar creches particulares que possam acolher as crianças. Isso porque, no meio do semestre letivo, não conseguimos inscrevê-las nas creches públicas, o que poderemos fazer semestre que vem. Seria uma medida temporária. Além disso, orientação jurídica e burocrática, como temos recebido da OAB, por exemplo, são muito importantes para que os venezuelanos tenham acesso pleno à cidadania, e todo auxílio no sentido de orientação é bem-vindo”, destaca ela.

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A coordenadora explica que a Aban não precisa de doações de roupas, mas qualquer quantia em dinheiro ou donativos de alimentos não-perecíveis auxiliam bastante o trabalho da associação. “Paramos de receber roupas realmente porque não precisávamos mais. Mas ajuda para manutenção dos custos da casa é muito importante. Temos alguns poucos colaboradores mensais, que contribuem com o montante que podem, e seria ótimo poder contar com mais pessoas”, diz Camila. Doações isoladas também são aceitas.
“Sobre os alimentos, é melhor que a associação mesma cuide do abastecimento de itens frescas como frutas e verduras, entre outros, mas sempre ajuda recebermos alimentos como leite, pão, arroz e outros não-perecíveis, além de materiais de higiene pessoal e de limpeza.” Os interessados em contribuir com o projeto podem fazer um depósito na Caixa Econômica Federal, agência: 3065, operação: 003, conta corrente: 1780-6, em nome da Associação Beneficente e Cultural Amigos do Noivo, com CNPJ: 04.704.512/0001-90. Para informações, os telefones são (32) 98852-2440 ou (32) 98429-2490.

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