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Uma pedra, um palácio, uma luta: Ilson Marques e o movimento pró-memória de Juiz de Fora

sr ilson leonardo costa

Ilson Marques, 94 anos, ao lado da pedra símbolo da resistência cultural de Juiz de Fora. Quase quatro décadas após o protesto contra a demolição do Palácio Episcopal, ele segue guardando a memória de uma cidade que lutou - e ainda luta - para preservar sua história (Foto: Leonardo Costa)

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Essa história se divide em passado e presente. O início de tudo foi em 1985, período em que muitas construções antigas de Juiz de Fora enfrentavam o risco de serem demolidas para dar lugar a prédios maiores. Diante desse cenário, o Movimento Pró-memória de Juiz de Fora surge encabeçado por artistas da cidade, mas abraçado pelos moradores, na tentativa de impedir a destruição das edificações. Uma dessas construções se tratava do Palácio do Bispo, localizado na Avenida Rio Branco 2872, ao lado do Cenáculo São João Evangelista – hoje o local é um edifício comercial. Com referências da arquitetura neoclássica, o Palácio contava com um grande jardim e foi doado à Arquidiocese, abrigando o bispo durante anos. Várias manifestações foram realizadas pedindo o tombamento do imóvel. Talvez a que tenha chamado mais atenção aconteceu em frente ao Cine-Theatro Central, no Centro de Juiz de Fora.

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O ato reuniu cerca de 20 pessoas que protestaram contra a demolição do Palácio Episcopal. “Foi uma manifestação grande, com cartazes e a presença inusitada de uma pedra”, relembra Ilson Marques, de 94 anos. Com pouco mais de 70 centímetros de altura e 40 centímetros de largura, a pedra viajou em uma caminhonete do Bairro Barbosa Lage, na Região Norte da cidade, até a praça João Pessoa, levada por um escultor desconhecido. Ela foi colocada bem em frente do teatro e o escrito lapidado na sua superfície despertava a curiosidade dos que por ali passavam: “À memória de Juiz de Fora antes que tarde”.

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Ilson Marques, 94 anos, ao lado da pedra símbolo da resistência cultural de Juiz de Fora. Quase quatro décadas após o protesto contra a demolição do Palácio Episcopal, ele segue guardando a memória de uma cidade que lutou - e ainda luta - para preservar sua história (Foto: Leonardo Costa)

“Foi em vão a nossa tentativa e o Palácio do Bispo veio ao chão”, lamenta Ilson. Em contrapartida, a pedra ainda existe. Os anos se passaram desde o protesto, a pedra foi tirada do caminho e colocada em um canto da praça. Foi assim por sete anos. “Um dia eu passei por ali, ao redor do teatro, e percebi que ela não estava mais ali. Estranhei e comecei a procurar. Perguntei para alguns engraxates que trabalhavam ali e me falaram que ela tinha sido levada para o Parque Halfeld”, conta o juiz-forano. Ainda hoje, a pedra reside no Parque Halfeld em frente a Igreja de São Sebastião.

Ilson se entristece pela única parte que resta dessa história não estar sendo bem cuidada, conforme avalia. “Agora, ela serve de banheiro para cachorro”. Ele diz que já formalizou ao Poder Público pedidos para que a pedra seja levantada para melhor visualização e tenha uma placa explicando sua origem, mas ainda aguarda uma resposta. Para ele e muitos do que vivenciaram esse momento, mais que uma simples pedra, ela simboliza uma luta. “Ela está aí até hoje. Nesses 40 anos, eu passo por aqui e ainda olho ela aí. É essa a história dela.”

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