Moradores de vários bairros da cidade se sentem diariamente prejudicados por conta das más condições dos pontos de ônibus. Eles convivem com problemas, como falta de abrigos, de assentos, mato alto e má conservação do piso. Em alguns locais, o mato diminui a visibilidade, encobre a sinalização do equipamento e até impede o acesso dos usuários nos pontos. No caso do piso, há situações em que não há acessibilidade.
A Tribuna percorreu várias regiões da cidade de onde partiram reclamações. Um desses locais é a Rua Monsenhor Gustavo Freire, no Bairro São Mateus, na Zona Sul, em que há vários buracos na calçada onde está instalado o ponto. Usuários temem que a situação possa levá-los a sofrer uma queda. “Uso o ponto diariamente e fico indignado com o abandono desse lugar. O mato é muito alto. Quando descemos do coletivo, a vegetação fica no nosso rosto. Não enxergo muito bem, já quase caí várias vezes, já torci o pé”, diz o aposentado Haroldo Gomes de Oliveira. Ele relata que esse quadro dificulta a visão. “Isso ocorre principalmente durante a noite, porque esse espaço também não é bem iluminado. O ônibus para e faz sombra. Quando o passageiro desce, há risco de colocar o pé dentro dos buracos, o que é complicado.” Na mesma via, uma menina de 11 anos teve o pé esquerdo ferido pela roda traseira de um ônibus, após escorregar e cair. A garota foi encaminhada ao Hospital de Pronto Socorro (HPS), onde foram constatadas contusão e entorce no membro, conforme a Polícia Militar.
Condições semelhantes são encontradas em outros espaços, como na Rua Pedro Gonçalves de Oliveira, no Bom Pastor, também na Zona Sul, em que a parada de ônibus fica sobre o passeio próximo ao número 490. O mato tira a visibilidade e dificulta a passagem. O problema é recorrente em outras regiões, como na Rua Diva Garcia, Linhares, Zona Leste. Neste mesmo bairro, a reportagem encontrou um ponto em local perigoso na esquina da Rua José Sobreira, em frente ao número 238. A placa também fica encoberta pela marquise do imóvel.
Sem acesso
Um ponto onde o usuário fica sem nenhuma proteção e em meio à vegetação está na Rua Francisco Fayer Sobrinho, no Aeroporto, na Cidade Alta. Quando a equipe de reportagem esteve no local, encontrou uma cena bucólica, com galinhas soltas pela área e mato impedindo que as pessoas fiquem na calçada.
Também na Cidade Alta, na Rua Senhor dos Passos, no Bairro Caiçaras, há uma parada que era usada como ponto final, conforme o copeiro André dos Santos, em que a sinalização do ponto está envolta na vegetação, quase não havendo espaço para as pessoas. “Tem muito tempo que está dessa forma. Isso atrapalha as pessoas, porque se tornou um ponto perigoso, isolado. Hoje em dia a população evita ficar esperando lá. À noite, não tem a menor condição.” No próximo ponto, a alguns metros de distância, outro flagrante de dificuldade. Um cadeirante esperava pelo ônibus na via, porque, além de não haver rampa próxima, o local também estava cercado pelo mato.
Prefeitura garante que irá fiscalizar os pontos
Em nota, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou que todos os endereços citados serão visitados pela fiscalização. A PJF reforça que o Código de Posturas do Município define que os proprietários de imóveis, edificados ou não, são obrigados a construir e conservar os respectivos passeios e seus lotes, mantendo-os em perfeito estado de conservação e limpeza. “Portanto, sobre as situações relacionadas a lotes particulares, a fiscalização da Secretaria de Atividades Urbanas irá, caso necessário, intimar os proprietários a adotarem as medidas necessárias. Com relação à localização dos pontos de ônibus, a Secretaria de Transporte e Trânsito avaliará para as devidas providências. Sobre a capina dos logradouros públicos, o Demlurb irá providenciar a limpeza, de acordo com a necessidade.”
No caso da iluminação da Rua Monsenhor Gustavo Freire, um técnico do setor elétrico e de iluminação da Empav vai ao local para avaliar a situação. “Se for constatada a necessidade de melhoria da iluminação pública, será elaborado projeto para aprovação na Cemig e posterior execução de acordo com a disponibilidade orçamentária/financeira. Se o problema for apenas lâmpada queimada, a mesma será substituída.”
A Prefeitura ainda lembra que as solicitações de manutenção da iluminação pública devem ser feitas no JF + Luz pelo telefone 0800 940 3777. O prazo de atendimento, após a ligação, é de 48 horas em área urbana e 72 horas em área rural. Já os pedidos de melhoria da iluminação pública devem ser realizados no Espaço Cidadão JF.
Cinturb
Os Consórcios Integrados de Transporte Urbano (Cinturb), que venceram a licitação dos ônibus em 2016, explicam que a manutenção dos abrigos é uma contrapartida da concessão para a operação de transporte. Desse modo, a obrigação das empresas é implantar e retirar os pontos e preservar a conservação da estrutura metálica que os sustenta, incluindo telhado e banco, onde eles já estão instalados. Os pontos que hoje são acompanhados pelos consórcios incluem praticamente toda a Avenida Rio Branco, entre o Cruzeiro do Sul até o Manoel Honório, toda a região central e alguns em outras localidades. A assessoria do Cinturb também destacou que a maioria dos abrigos e marquises em que os pontos estão instalados fogem à alçada das empresas. Os abrigos instalados pelo Cinturb têm a responsabilidade dividida entre as empresas. No entanto, conforme a assessoria, nenhum dos pontos citados na matéria se encaixam nessa descrição.
Reclamações
Demandas como as más condições de conservação dos pontos de ônibus são recebidas com frequência na Câmara Municipal, de acordo com o presidente da Comissão de Urbanismo, Transporte, Trânsito, Meio Ambiente e Acessibilidade, vereador José Márcio (Garotinho PV). Os problemas que mais chegam até o Legislativo são “especialmente em relação à sujeira e aos equipamentos danificados. Já solicitamos à Settra uma reunião sobre esse tema, para que a pasta nos apresente um levantamento desses problemas, onde estão. A Settra acompanha esses pontos”.
Ainda de acordo com José Márcio, quando essas reclamações chegam ao Legislativo são encaminhadas ao Executivo. “A Settra encaminha a situação para as empresas, que são responsáveis pelos reparos. Mas também há outros desafios, como o caso de pontos que ficam embaixo de barrancos. Ou seja, os ônibus têm dificuldade de parar.”