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Segunda graduação é aposta de quem busca realizar sonhos e projetos

segunda graduação capa
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A procura por uma segunda graduação tem sido crescente em instituições de ensino de Juiz de Fora e de outras cidades. O comportamento já havia sido identificado no último Censo do IBGE, realizado em 2010, que apontava que 10,8% dos universitários do país cursavam o segundo curso superior. Oito anos depois, faculdades do município registram que esta demanda por novas carreiras em uma área bem diferente da que foi escolhida anteriormente continua aumentando. O índice mais significativo entre as instituições pesquisadas pela reportagem se dá no Centro Universitário Estácio JF, onde, este ano, 20% dos matriculados estavam em segunda graduação, enquanto, no ano passado, eram 9%. No Instituto Vianna Júnior, o índice pulou de 3% em 2015 para 8% em 2017. Já na Suprema, 4,5% dos estudantes matriculados este ano estão cursando a segunda graduação. Na UFJF, não é feito levantamento de alunos que concluíram a graduação em outras instituições. Em relação ao número de alunos já graduados que continuam estudando, em 2017, eram 98, e, em 2016, 248.

Para a pedagoga e doutora em educação Ilda Micarello, esse fenômeno não se manifesta igualmente em todas as faixas etárias. “Com os mais jovens, muitas vezes, se observa que, quando acabam de concluir uma graduação e retornam em um período de tempo curto para uma segunda graduação, isso pode ter relação com o fato de que o mercado de trabalho não tem mostrado condições de absorver todas as pessoas. Assim, permanecer na universidade é uma alternativa para não ficar naquela situação de não estar fazendo nada. No caso da universidade pública, há algumas possibilidades em que ser estudante de graduação é até melhor do que ser um profissional já formado e desempregado. Por exemplo, o envolvimento com bolsas de iniciação científica, de treinamento profissional ou de apoio estudantil”.

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Já em relação aos mais experientes, a pedagoga identifica um outro perfil. “Aquele profissional que se formou há algum tempo e se encontra, de algum modo, insatisfeito com a carreira e retorna para uma nova graduação. Isso tem a ver com um fenômeno do nosso tempo, que é o fato de que, muitas vezes, você se forma para uma carreira, que rapidamente fica obsoleta. A sociedade muda tão rapidamente, que uma carreira que, em dado momento, parecia promissora, num intervalo de tempo muito curto, já se mostra obsoleta. Então a pessoa busca uma nova graduação para poder fazer a opção por uma carreira que seja, naquele momento, mais promissora. Isso advém de uma insatisfação, mas não necessariamente porque aquela primeira opção não tenha sido uma boa escolha, mas porque ela já não é mais tão viável. A pessoa busca se adequar a essa nova demanda do mercado de trabalho.”

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Depois de fazer Administração, Karoline Turba voltou ao mundo acadêmico para cursar Design de Moda (Foto: Marcelo Ribeiro)

O curso de Design de Moda sempre foi a maior área de interesse da estudante Karoline Turba, 27 anos. No entanto, sua primeira graduação foi em Administração de Empresas, pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). “Ingressar no Design de Moda era o meu sonho, mas infelizmente, por questões financeiras, minha mãe não tinha condições de me ajudar.” Nessa época, os pais de Karoline se separaram, e, apesar de a mãe dela trabalhar, a então vestibulanda precisou assumir responsabilidades financeiras da casa, já que a renda era pouca, e havia mais dois irmãos pequenos para sustentar. Ela chegou a passar no vestibular da UFJF para cursar o tão desejado curso, mas por ser uma graduação que oferece aulas em período integral, precisou abrir mão por conta da situação da família. “Optei por Administração porque era um curso que eu conseguiria emprego mais rápido. Não podia abandonar minha família naquele momento.”

Karoline diz que cursar Administração não foi prazeroso, mas que as circunstâncias falaram mais alto. “Não era algo que eu me identificava muito, eu estava lá mais pela circunstância, porque precisava estudar para trabalhar. Dava desânimo sim, mas eu pensava que tinha que terminar.”

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Ela diz que não se arrepende de ter se formado em Administração e acredita que conseguirá aliar as duas profissões: “Cursar Administração me trouxe certa maturidade. Hoje tenho uma visão muito diferente em relação a mercado e conseguirei explorar minha carreira melhor”.

Após se estabilizar profissionalmente e contando com o apoio moral e financeiro do marido, que, na época como namorado, acompanhou a sua decisão em prol da família, ela ingressou, há dois anos, no curso de Design de Moda.

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Conhecimentos de áreas distintas

Graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e atual estudante de Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Raphaela Mansur, 28, conta que sempre quis lidar com a área da saúde e por isso escolheu Veterinária, mas a rotina e a falta de valorização da profissão a frustraram. “Quando eu percebi que não iria atuar como veterinária, comecei a tentar outras oportunidades. Alguns amigos de faculdade, que tinham passado em programas de trainee para sair da área, sugeriram que eu trabalhasse em alguma empresa. Nessa época eu ainda estava muito perdida em relação ao que eu ia fazer, então comecei a fazer uma pós-graduação em Administração”, conta Raphaela, que, durante a pós, descobriu um talento para as ciências exatas. Foi então que, após algumas conversas com professores da UFJF, ela decidiu que cursaria Engenharia Elétrica. O plano de Raphaela é aliar as áreas de formação, criando tecnologias em prol da saúde dos animais. “Eu acredito que meu trabalho só é válido se melhorar a vida de alguém. Quando você melhora a saúde e a qualidade de vida de um animal, você imediatamente melhora a vida de todos ao redor do paciente, então nada melhor do que atuar na área da saúde usando as habilidades e facilidades que eu tinha que eram na área de exatas.”

 

Thiago e Fernando deixaram a advocacia em segundo plano para empreender (Foto: Olavo Prazeres)

Vontade de empreender abre novas possibilidades de carreira

Os graduados em Direito pela UFJF, Thiago Massena, 33, e Fernando Junqueira Marques, 33, viram suas carreiras se transformarem totalmente devido ao espírito empreendedor. Thiago, formado em 2008, passou um ano em São Paulo após a formatura e retornou para Juiz de Fora para estudar para concurso, o que não era exatamente o que ele pretendia. Em 2012, abriu um escritório de advocacia junto com Fernando, que havia concluído o curso em 2010, e um terceiro sócio, Luís.

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Cerca de um ano e meio depois, os três sócios, movidos pelo desafio e pela oportunidade de ter uma renda maior, resolveram deixar a advocacia em segundo plano e explorar um nicho de mercado antes nem cogitado. “Eu pensava em me especializar em um segmento de clientes, e, diante disso, começamos a discutir o que seria mais interessante para se especializar. O pai do Luís é do setor elétrico brasileiro e apresentou para a gente o nosso outro sócio, que é engenheiro elétrico. Ele tinha ideias e também a vontade de empreender, e vimos ali a oportunidade de realizar a vontade que estávamos amadurecendo”, conta Fernando. Assim nasceu a Arion, empresa voltada para otimização energética.

Otimização

Conforme a empresa crescia, a necessidade de mão de obra aumentava, então Thiago teve que deixar o trabalho no escritório de advocacia para coordenar a área financeira da empresa, parte que, até então, era desconhecida para ele. “Como a minha formação não era voltada para a área, eu resolvi fazer Ciências Contábeis.” Apesar da decisão, Thiago diz que só cursa esta graduação por necessidade, já que não é uma forma de realização pessoal. “Foi uma maneira de me alfabetizar em uma área que eu precisava saber e opinar. A faculdade me traz desempenho profissional, a parte de satisfação vem com o empreendedorismo.”

Mercado pode não pagar ‘o quanto você vale’

A pedagoga Ilda Micarello avalia que o mercado pode não dar o retorno esperado para uma pessoa que possui mais de uma graduação. “Estamos em um período de recessão da economia, não só no Brasil, o que significa que a qualificação, embora possa ser um diferencial, só vai sê-lo, realmente, nos casos de carreiras de grande especialização, quando você tem uma formação que é um diferencial na sua área. São, em geral, formações que pegam um nicho de mercado pouco explorado ou que trazem uma experiência inovadora, pois aí você tem uma moeda de troca forte. Um conhecimento do qual a sua empresa, a sua organização realmente necessita e por isso ela vai te pagar mais por isso. Caso contrário, não faz diferença você ter uma, duas, três graduações, até porque não existem tantos bons postos de trabalho assim. Às vezes, a empresa até reconhece seu valor, mas não há condições de pagar aquilo que você vale.”

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