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Janeiro Branco renova discussões sobre o lugar do cuidado em saúde mental

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Janeiro é o mês escolhido para a campanha por demarcar, de forma simbólica, momentos iniciáticos nos projetos pessoais (Foto: Pexels)
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“Saúde mental enquanto há tempo” é o tema da campanha Janeiro Branco deste ano, que completa uma década em 2024. De acordo com o Instituto Janeiro Branco, a cor escolhida para a causa almeja representar “folhas ou telas em branco”, sobre as quais se podem projetar novas trajetórias. Em Juiz de Fora, ações em prol da saúde mental, da qualidade de vida e do bem-estar emocional são parte do calendário oficial do município desde 2017, ano em que o projeto de lei foi aprovado.

Para a psicóloga Priscila Vieira, discutir saúde mental precisa ser pauta o ano todo. No entanto, o mês de janeiro é oportuno para intensificar e estender as ações sobre o tema, uma vez que demarca, simbolicamente, momentos iniciáticos nas vidas e nos projetos pessoais. “Apesar de ser um rito considerado positivo, em que se fala sobre recomeços, a chegada de um novo ano pode ser experienciada negativamente, com medos, frustrações e muitas dúvidas”, comenta.

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O Janeiro Branco, ainda para a psicóloga, também abre espaço para ir além das listas de metas a serem alcançadas e as checagens sobre o que se produzirá, mas suscita o questionamento sobre o lugar do cuidado com a saúde mental nesses contextos, de maneira a buscar formas de compreensão de si e de como viver saudável em relação às adversidades, prestando atenção a sinais de irregularidades psíquicas.

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“A escolha de um mês, como é o caso também do Setembro Amarelo, traz mais visibilidade sobre os temas importantes dentro da saúde mental, que vão muito além do suicídio. Janeiro possibilita a ampliação das informações seguras sobre processos de adoecimento mental, lançando conhecimento sobre doenças que ainda são estigmatizadas atualmente, como depressão e ansiedade”, esclarece.

O papel da psicologia, dentro desse esforço, é significativo. Segundo Priscila Vieira, ela cumpre uma das forças, que se norteiam na ética e no conhecimento científico, e integram o movimento pela conscientização sobre saúde mental. “Essa área do saber contribui e é responsável por construir espaços de escuta e fala, ações e treinamentos, além de dialogar com a população de forma geral para possibilitar a criação de autonomia, quebra de preconceitos e que se saiba identificar sinais, sintomas e situações que possam vir a indicar doenças mentais em surgimento ou já instaladas”, explica.

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Estilo de vida e rotina

Alguns dos sinais de alerta para serem atentados, informa a psicóloga, são caracterizados por mudanças relacionadas ao estilo de vida e à rotina. “O sono, a alimentação e o corpo são exemplos. Se a pessoa passa a dormir muito ou a dormir pouco, ou se começa a comer demais ou comer de menos, se o corpo, de alguma forma, sente dores inexplicáveis ou sinais que são persistentes e que, ao consultar o médico, há uma negativa de algo físico, podem indicar questões psicológicas que precisam ser olhadas.

A própria ansiedade, que é natural ao ser humano, se ela vem de forma recorrente e intensa, chegando até a atrapalhar a rotina, é um fator a ser considerado. Além disso, uso excessivo de substâncias psicoativas, álcool e outras drogas, como escape da realidade, sentimentos de desesperança, de falta de energia, uma sensação de que nada afeta, nem para o lado bom, nem para o lado ruim, como se estivesse do lado de fora da própria vida.”

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Saúde mental também é empenho coletivo

Para além dos cuidados individuais, falar de Janeiro Branco deve considerar o papel das atitudes institucionais e das políticas públicas. Para a psicóloga especialista em saúde mental e atenção psicossocial Beatriz Guedes Mattoso, além das propostas de divulgação do mês, essas instâncias devem pautar a garantia de direitos e o acolhimento a quem sofre.

“O cuidado em saúde mental é responsabilidade compartilhada entre os equipamentos de saúde de diferentes níveis, desde as unidades básicas de saúde, que podem fazer um importante papel preventivo. Outros espaços para além da saúde também estão envolvidos nesse cuidado, como a assistência social. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são os responsáveis pelo gerenciamento dos casos graves, devendo ser uma das referências no planejamento do cuidado das pessoas em sofrimento mental”, destaca.

Desse modo, tornar o cuidado possível, segundo Beatriz, envolve a construção de uma rede entre serviços, familiares, comunidade e profissionais. “Ainda enfrentamos muitos desafios no cuidado em saúde mental, através de muito estigma e resistência. Nesse sentido, quanto mais espaço para falas responsáveis e comprometidas sobre o tema, melhor.” Em termos de desconstrução do estigma, a psicóloga destaca a presença das ações ainda antes da Lei de 2007, a partir das mobilizações geradas pela luta antimanicomial na cidade, que se faz presente em outras datas, como o Carnaval e o 18 de maio. “Os serviços de saúde mental estão na rua em peso, lembrando que para a loucura o remédio é liberdade, autonomia e garantia de direitos”, defende.

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O mês da campanha também é visto como uma oportunidade de visibilizar o trabalho da saúde mental localizado no município. “Esse setor é importante e necessário, mas carece de investimentos e infraestrutura adequada para atender a cidade de forma devida. Para ajudar nesse fortalecimento, a população precisa conhecer os espaços de serviço em saúde mental e os abraçar, lutando pela sua manutenção e ampliação junto a trabalhadores, usuários e familiares.”

Bruna Furtado, estagiária sob supervisão da editora Fabíola Costa

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