Esta semana, a Secretaria de Estado de Saúde do Governo de Minas confirmou o décimo caso de varíola dos macacos em Juiz de Fora. A confirmação se deu por meio de exames da Fundação Ezequiel Dias (Funed) e o paciente foi orientado a se manter em isolamento, sendo monitorado pela Secretaria de Saúde do município. Incluindo este caso, todos os registrados no município atingiram homens, com idades entre 20 e 59 anos. Em Minas Gerais, conforme o último boletim, divulgado na segunda-feira (26), são 475 casos confirmados, e outros 617 em investigação.
A varíola dos macacos preocupa muitas pessoas, e há dúvidas sobre formas de contágio, desenvolvimento e prevenção. Por isso, a Tribuna conversou com o virologista Aripuanã Watanabe, professor e pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora, para esclarecer as principais questões sobre a doença. Confira:
É verdade que os primeiros sintomas da varíola dos macacos podem ser confundidos com outras doenças?
De acordo com o especialista, os primeiros sintomas da varíola dos macacos podem ser confundidos com outras doenças, já que inclui febre, linfonodos inchados e erupções na pele (que podem parecer espinhas ou bolhas, apresentar dor e coceira).
“Esse comecinho com febre e linfonodos inchados pode parecer outras doenças, então tem que ficar de olho”, ele recomenda. Também sinaliza que são sintomas comuns a febre, calafrios, cansaço, dor no corpo, dor de cabeça e sintomas respiratórios. Estes sintomas podem ou não aparecer associados, e a duração tende a ter de 2 a 4 semanas.
É mito que a varíola dos macacos seja transmitida da mesma forma que a Covid-19?
A varíola dos macacos é transmitida principalmente pelo contato direto com erupções na pele causadas pela doença, contato através de roupas ou objetos que pessoas infectadas usam e contato próximo e prolongado com pessoas infectadas.
O especialista explica que também existe a possibilidade, bem menor, de contágio pela via respiratória, mas novamente, tem que estar muito tempo com contato próximo com a pessoa. “Essa transmissão por via respiratória é muito menos comum”, ressalta.
“Então, não é transmitida da mesma forma que a Covid-19. A principal forma de contágio é esse contato próximo prolongado com pessoas doentes”, diz.
Varíola dos macacos afeta apenas homossexuais e bissexuais?
Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter recomendado a redução de parceiros a gays e bissexuais como prevenção à variola dos macacos, o virologista Aripuanã Watanabe destaca que não são só homens homossexuais ou bissexuais que se infectam. “Temos uma parcela de pessoas heterossexuais que se infectam, então a questão é o contato. Principalmente o contato entre uma pessoa saudável e uma pessoa com a doença, com erupções”, diz.
Ele ainda destaca que é preciso tomar cuidado com a estigmatização da doença, que pode inclusive prejudicar as formas de combate. “Não podemos falar que é específico de um grupo. A OMS pode até ter percebido que tem um ou outro grupo, não só falando de homossexuais, que têm uma frequência maior com a doença, mas não dá pra associar”, diz.
A relação sexual é a principal forma de contágio?
A relação sexual não é a principal forma de contágio, mas sim o contato. “O que acontece é que na relação sexual se tem um contato muito próximo, e geralmente por um tempo prolongado”, explica. No entanto, ele destaca que não é uma infecção sexualmente transmissível.
É verdade que a doença pode atingir diversas partes do corpo?
Sim, as lesões podem aparecer em qualquer lugar do corpo. Normalmente, o especialista explica que elas aparecem onde o indivíduo efetivamente entrou em contato com a pessoa infectada, mas podem se espalhar para qualquer região da pele.
“Vamos supor, por exemplo, que uma pessoa está em um local apertado e entra em contato com uma pessoa com ferida no braço e eu entro em contato com essa ferida no meu braço também. A tendência é que as primeiras feridas apareçam no braço, mas podem aparecer em qualquer lugar do corpo”, exemplifica.
Somente os imunossuprimidos podem desenvolver a forma grave da varíola dos macacos?
Watanabe esclarece que não são só os imunossuprimidos que podem desenvolver a forma grave da doença. Normalmente, é notado um desenvolvimento com gravidade maior em pessoas com imunossupressão, mas isso não é uma regra entre os casos. “As pessoas que têm o sistema imune realmente alterado e elas tendem a ter maiores problemas, mas não é específico a gravidade só neste grupo”, diz.
Qual a chance de haver contaminação entre humanos e animais?
O especialista destaca que, a princípio, a transmissão entre animais para humanos não é comum. “Temos que fazer uma ressalva que é muito pouco provável essa transmissão, então não podemos culpar os macacos por esse surto que estamos tendo, essa pandemia mundial”, pontua.
Ele também explica que os macacos não são os principais transmissores. “O principal transmissor, na África, são os roedores. Chamou-se de varíola dos macacos porque, inicialmente, a doença foi identificada nos macacos, mas ele inclusive pega a doença também, algo que os hospedeiros não desenvolvem”, diz.
Para evitar essa crença de que os macacos seriam culpados pela doença e inclusive tentar acabar com casos de agressão contra esses animais motivadas por esse cenário, ele conta que existe um movimento para chamar esta doença de ‘nova varíola’.
Existe vacina para a varíola dos macacos?
Sim, já existe uma vacina para varíola humana que também protege contra a varíola dos macacos. O Ministério da Saúde está em processo de importação de doses.