A guerra entre a Rússia e a Ucrânia deve reduzir a rentabilidade da agricultura brasileira neste ano. Se de um lado os dois países são importantes produtores mundiais de grãos, como trigo e milho, respectivamente, e os conflitos devem diminuir a oferta mundial desses itens e pressionar os preços, de outro os custos de produção da agricultura, que vinham subindo, devem aumentar ainda mais.
A Rússia é o segundo maior produtor e exportador mundial de nitrogênio e o terceiro maior em fósforo e potássio, insumos básicos para a formulação de fertilizantes. Além disso, o aumento do preço do petróleo afeta um custo crucial no campo: o do óleo diesel usado para mover máquinas e no transporte das cargas.
O economista Fabio Silveira, sócio da consultoria Macro Sector considera as pressões de custos advindas do conflito entre Rússia e Ucrânia, como a alta do petróleo e dos fertilizantes. “Antes da eclosão da guerra, a rentabilidade já seria menor, pois o custo vinha subindo.”
A perspectiva é de que, com a alta dos juros nos Estados Unidos, os investimentos especulativos de fundos em commodities devem migrar para a compra de bônus do Tesouro americano. Com isso, os preços das matérias-primas cotadas nas Bolsas internacionais perdem impulso, explica Silveira. “O balanço entre custo e receita não é favorável ao produtor brasileiro, porque os preços da soja e do milho não terão uma elevação que compense o aumento de custos dos insumos.”
Alta dos grãos deve impactar carnes e aves
O impacto do conflito ambém provoca estragos na cadeia da pecuária. Criadores de bovinos, suínos e aves, que têm boa parte de custos baseada no consumo de grãos (como milho e farelo) para alimentar os animais, terão pela frente um cenário mais complicado. Mesmo que o trigo, produzido pela Ucrânia, não seja usado como ração no Brasil, quando o preço do grão sobe, ele puxa a cotação de outros grãos.
Apesar da alta moderada esperada para o preço do milho, a principal fonte de ração animal, na casa de um dígito, analistas afirmam que o nível atual das cotações do grão já é muito elevado e pressiona custos. “O aumento dos preços das commodities vai impactar no custo das cadeias de produção de aves, suínos e bovinos”, afirma Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA.
Ele diz que essa alta adicional de preço do milho por conta do conflito piora um quadro que já era crítico para muitos pecuaristas. Isso porque houve quebra na segunda safra de milho de 2021, e a primeira safra do grão deste ano foi afetada pela seca no Sul.