Entre os dias 14 e 16 de novembro, ocorreu o G20 Social na cidade do Rio de Janeiro, reunindo mais de 30 mil pessoas em atividades organizadas pelos movimentos sociais, debates específicos sobre favelas, comunicação, juventudes, mulheres, cidades, entre outras tantas discussões acontecendo simultaneamente. A participação da sociedade civil de forma institucionalizada, antes da cúpula, é uma iniciativa inédita que aconteceu na presidência do Brasil. Com o lema “Construindo um mundo justo e um planeta sustentável”, os trabalhos de um ano foram consolidados nas plenárias de combate à fome e às desigualdades; mudanças climáticas e sustentabilidade; e reforma da governança global.
A Tribuna de Minas esteve no evento e conversou com o João Paulo Capobianco, Secretário-Executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Ele destacou que, como em todo o mundo, os desafios para cidades médias são grandes. A elaboração local do Plano de Mitigação e Adaptação às Mudanças do Clima é tarefa fundamental, para que se possa planejar e desenvolver ações de curto, médio e longo prazo, além de obtenção de recursos públicos ou financiamentos específicos. Ele também ressaltou o Fundo Floresta Tropical para Sempre (TFFF). “Esse recurso vai remunerar países e, por consequência, municípios que conservam suas matas, pagando por hectare conservado ou restaurado”, lembrando da importância da Mata Atlântica e a possibilidade da aplicação do recurso para preservação de fragmentos.
A principal entrega do Brasil e do presidente Lula à frente do G20 é a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Mais de oitenta países aderiram, inclusive a Argentina, com assinatura do presidente Javier Milei na última segunda (18). A meta é que, até 2030, seja erradicada a fome e a pobreza, haja redução das desigualdades e cooperações globais para fomentar o desenvolvimento sustentável. A experiência brasileira do Bolsa Família e do Programa Nacional de Alimentação Escolar são referências. “Conseguimos sair do Mapa da Fome da FAO em 2014, para o qual voltamos em 2022, em um contexto de desarticulação do Estado de bem-estar social. Em um ano e onze meses, o retorno desses programas já retirou mais de 24, 5 milhões de pessoas da extrema pobreza. Até 2026, novamente sairemos do Mapa da Fome”, enfatizou Lula, referindo-se a importância de financiar e dar continuidade a políticas públicas eficazes.
De um modo geral, tanto sobre o desafio de combater a fome e as desigualdades, quanto no enfrentamento à crise climática, ministros e outras referências mundiais enfatizam a correlação de causas e consequências, e o custo elevado para todos. A crise climática afeta diretamente a produção de alimentos, aumentando preços e inflação, provocando doenças e até promovendo deslocamentos populacionais. Desta forma, é fundamental que aqueles que mais poluem e mais detém recursos contribuam.
Negacionismo e esperança
Durante o o G20 Social, Laurence Tubiana (França), economista e diplomata, negociadora-chefe do Acordo de Paris, falou sobre as dificuldades que o mundo enfrenta no cumprimento das metas estabelecidas em 2015, para a redução das emissões de carbono, especialmente com o negacionismo de governos como o de Donald Trump nos Estados Unidos. Hoje é urgente a reversão, pois o aquecimento global já atingiu a marca de aumento de 1,5 grau da temperatura. Ainda assim, ela reconhece a importância de seguir realizando encontros e novos esforços multilaterais. “A inteligência coletiva e a solidariedade podem fazer milagres”, finalizou.