O hacker Walter Delgatti Neto mudou de estratégia na segunda etapa do depoimento prestado à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro nesta quinta-feira (17). Se durante a manhã ele apresentou denúncias de supostos crimes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), quando a maioria das perguntas partiu de governistas, na parte da tarde ele não respondeu a nenhum dos questionamentos feitos por parlamentares da oposição.
Durante o questionamento ao hacker, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) acabou admitindo, ainda que indiretamente, que o então presidente Jair Bolsonaro teve encontro com Delgatti no Palácio do Alvorada. “As conversas sempre foram no sentido de instruir o TSE. Para mostrar: TSE dá para melhorar a segurança das urnas”, disse Flávio.
Antes de Flávio iniciar a inquirição, a senadora Damares Alves (PL-DF) e o deputado André Fernandes (PL-CE) usaram o tempo para fazer discursos em vez de fazer perguntas. Já na vez do senador filho de Bolsonaro, Delgatti respondeu a todas as perguntas dizendo que ficaria em silêncio. A mesma estratégia foi adotada quando o senador Marcos Rogério (PL-RO) fez perguntas. O silêncio só foi adotado durante os questionamentos da oposição.
“O seu silêncio é mais convincente do que as palavras lançadas para agradar os membros do governo nessa CPMI”, disse Marcos Rogério.
A defesa Delgatti, conhecido como Vermelho, pediu salvo-conduto ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira, para que ele pudesse ficar em silêncio na comissão. O pedido foi autorizado pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão afirma que ele tinha o direito de consultar os advogados durante o depoimento e podia decidir quais perguntas vai responder.
Flávio fez uma série de perguntas relacionadas às denúncias apresentadas por Delgatti. O senador questionou se ele tinha alguma ligação com partidos de esquerda, se sabia quem pagava os honorários do seu advogado de defesa, se sabia quantas linhas têm o código fonte das urnas eletrônicas e se ele conhecia a pessoa que tirou a foto do seu carro na visita a Bolsonaro ao Palácio da Alvorada.
“Se eu fosse o relator dessa comissão eu estaria preparando o pedido de prisão porque ele está mentindo”, disse Flávio. O senador ainda mostrou uma publicação do advogado de Delgatti em que ele segura o livro biográfico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), escrito por Fernando Moraes, e anuncia que as vendas do livro em uma sessão de autógrafos do autor seriam revertidas para custear despesas Delgatti.
“Os direitos autorais dos seus livros vendidos no dia serão revertidas ao Walter Delgatti”, disse o advogado no Instagram. O caso chamou atenção da oposição na CPMI.
O único parlamentar de oposição que teve as suas perguntas respondidas por Delgatti foi o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), que foi alvo do hacker ao ter suas conversas com procuradores da operação Lava Jato vazadas. Delgatti chegou a chamar o parlamentar e ex-juiz titular da força tarefa em Curitiba de “criminoso contumaz”.
“Eu fui vítima de uma perseguição em Araraquara, inclusive comparável à perseguição que o senhor fez com o presidente Lula e o PT. Ressaltando que eu li as conversas de vossa excelência, li a parte privada, e posso dizer que o senhor é um criminoso contumaz. Cometeu diversas irregularidades e crimes”, disse Delgatti.
Moro retrucou: “O bandido aqui, que foi preso, é o senhor. O senhor é inocente como o presidente Lula, então?”. “Nós temos um depoente que é acusado e processado por diversos crimes de estelionato. Há um caso de condenação de que envolveria 44 vítimas, sinais claros de que ele está envolvido em práticas criminosas e faz do crime a sua profissão”, prosseguiu o senador
Delgatti ficou conhecido em 2019 por ter invadido celulares e vazado mensagens atribuídas a Sérgio Moro e a integrantes da Operação Lava Jato. No início deste mês, o hacker voltou a ser preso pela invasão de sistemas da Justiça para inclusão de mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF. Em depoimento ontem à PF, Delgatti disse que recebeu R$ 40 mil da deputada Carla Zambelli para fazer o serviço.