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IML e polícia identificam todas as vítimas do acidente aéreo de Vinhedo, em SP

Avião da VoePass que caiu em São Paulo realizou voo na Zona da Mata na quinta-feira

Modelo ATR-72 usado pela VoePass nos voos regionais. (Foto: divulgação VoePass),

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Os 62 corpos das pessoas que morreram na queda do avião da Voepass em Vinhedo, no interior de São Paulo, na última sexta-feira (9), já foram identificados e 41 foram liberados para o recolhimento pelas famílias. A informação foi divulgada pela Polícia Técnico-Científica do Estado de São Paulo e o Instituto Médico Legal (IML) nesta quinta-feira (15), em coletiva de imprensa. A conclusão das identificações aconteceu na noite da quarta-feira (14).

De acordo com Claudinei Salomão, superintendente da Polícia Técnico-Científica do Estado de São Paulo, 40 corpos foram identificados por análise de impressões digitais. Oito estados de origem das vítimas foram mobilizados para o levantamento dos dados de identificação. Até mesmo as duas crianças que estavam no voo já tinham Registro Geral (RG), o que facilitou a identificação.

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As outras vítimas foram identificadas por exame odontológico, que comparou tomografias feitas em vida pelas vítimas (cedidas pelas famílias) e análises antropológicas, feitas com base em características fenotípicas, como por exemplo o peso do cadáver, altura, raça, se havia prótese de silicone, entre outros.

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“Não houve necessidade de fazer os exames genéticos, de DNA, que são exames mais caros e que levam mais tempo. Mas, se fosse necessário, para termos certeza das identidades, nós faríamos”, afirmou Vladimir Alves Dos Reis, diretor do IML.

Grande parte dos cadáveres têm as mãos e digitais preservadas, pois estavam com as mãos entre os braços no momento do incêndio, que foi controlado rapidamente, segundo relatado pelas autoridades. “Isso aconteceu, provavelmente, porque a queda foi mais longa ou houve algum comando da tripulação. Não aconteceu na TAM (acidente de 2007), por exemplo, porque o avião estava pousando segundo antes do acidente.”

De acordo com a equipe, o acesso a informações de identificação também é maior hoje, tanto por plataformas tecnológicas, quanto por conscientização e acesso da população a serviços. Por isso a perícia tende a ser mais rápida e precisa que em casos anteriores, como acidente aéreo da TAM, de 2007, em que morreram 199 pessoas.

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Os trabalhos de perícia e identificação dos corpos começaram na noite de sexta-feira, logo após a queda. Ainda estão sendo concluídos laudos da equipe de antropologia. Todos os corpos passaram pelos diferentes tipos de exames, para ter dupla ou tripla confirmação. Do total de vítimas, 23 puderam ser identificados pelos exames odontológicos.

Avião enfrentou nuvens de -40ºC e ventos acima de 50 km/h

O meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas, classificou como “caóticas” as condições meteorológicas enfrentadas pela aeronave.

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O especialista analisou dados do voo e imagens de satélites e radar das condições de tempo do local e reconstituiu, minuto a minuto, todo o trajeto do voo que saiu de Cascavel (PR) em direção ao Aeroporto de Guarulhos (SP), caiu em Vinhedo (SP) e matou 62 pessoas.

“A análise permitiu identificar que a aeronave enfrentou uma zona meteorológica crítica, por quase 10 minutos, entre 13h10 e 13h19. Nesse período, a aeronave reduziu a velocidade e atravessou nuvens supercongeladas de até 40 graus negativos”, diz o professor.

A partir da análise das imagens, é possível verificar, de acordo com o especialista, que a aeronave saiu rapidamente de uma área sem nuvens para outra com formação de gelo e, em seguida, enfrentou mais uma área adversa com água supercongelada.

Havia condições atípicas de congelamento em razão de muita umidade, formada por gotículas de água líquidas supercongeladas. A região do voo do ATR 72 tinha alerta de “gelo severo”. Nesse cenário, o fenômeno meteorológico mais provável do acidente foi a aeronave ter entrado em condições de formação de gelo.

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Quando a água supercongelada leva à formação de gelo nas asas do avião, a aeronave perde sustentação, de acordo com especialistas. Imagens do satélite Meteosat mostram também nuvens do tipo Cirrocumulus, que se formam em razão de muita umidade. Houve grande variação nas temperaturas e nas condições de pressão. Também ventava muito.

Os ventos fortes, com velocidade em torno de 53 km/h, atuavam na mesma direção do voo, trazendo ainda mais instabilidade. De acordo com Barbosa, essas condições meteorológicas provocaram severas turbulências e também podem ter afetado a aerodinâmica do avião.

Não há ainda qualquer conclusão oficial sobre a queda do voo da Voepass. “Essa é apenas uma das possibilidades levantadas. De maneira geral, as quedas das aeronaves são provocadas por vários fatores que atuam em conjunto. Nunca é um fator só. Mas a situação meteorológica era caótica.”

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A atuação conjunta desses diversos fatores ajuda a explicar a grande variação de velocidade da aeronave ao longo do trajeto. As variações da velocidade parecem não ter relação direta com a queda, mas ilustram como as condições das atmosféricas influenciavam o comportamento da aeronave.

Às 13h06, o avião saiu rapidamente da velocidade de 604 km/h para 491 km/h. A partir daí, começou a perder velocidade. O último dado registrado ocorreu às 13h22, com o avião numa velocidade de 63 km/h e altitude de 1.798 metros.

A aeronave despencou mais de 4 mil metros de altura em apenas um minuto até atingir o solo. A aeronave não explodiu no céu. Teve uma queda praticamente livre. Imagens da queda do avião, que mostram a aeronave caindo em um giro vertical, posição chamada de “parafuso chato” no meio da aviação, é o principal indicativo de que o acidente ocorreu devido a uma perda de sustentação, o “estol”.

O Instituto Médico-Legal de São Paulo concluiu que as vítimas do acidente morreram de politraumatismo. Ocorreu um incêndio somente após a queda do avião. A Polícia Civil de São Paulo, por meio da Delegacia de Vinhedo, instaurou inquérito policial para investigar o acidente aéreo, em paralelo às investigações do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

Gravação em cabine tem gritos e pergunta de copiloto, diz TV

Análise preliminar do gravador de voz da cabine do avião da Voepass indica que o copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva perguntou ao piloto Danilo Santos Romano o que estava acontecendo após perceber que a aeronave perdia sustentação. Conforme reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, na quarta-feira (14), até o avião cair se passou cerca de 1 minuto e a gravação é finalizada com gritos.

O Laboratório de Leitura e Análise de Dados de Gravadores de Voo do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão da Força Aérea Brasileira (FAB) responsável pela investigação, transcreveu cerca de duas horas de conversa entre o piloto o copiloto.

A FAB afirma que a imprensa não teve acesso aos áudios, transcrições e dados das caixas-pretas (leia mais abaixo). Segundo a Globo, não foi possível identificar até o momento a causa para a queda do avião e, como o avião modelo ATR 72-500 tem as hélices muito próximas da cabine, o excesso de barulho dificultou a compreensão dos diálogos.

Não foram identificados sons de alertas de presença de fogo, falha elétrica ou de pane no motor. Conforme investigadores ouvidos pelo Jornal Nacional, o copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva chegou a dizer que era preciso dar potência para estabilizar a aeronave e impedir a queda depois que percebeu que o avião estava perdendo sustentação. O relatório preliminar sobre o acidente deve ficar pronto em 30 dias.

As causas estão sendo investigadas pelo Cenipa, ligado à Força Aérea Brasileira (FAB). É o acidente com o maior número de vítimas desde a queda da aeronave da TAM, em São Paulo, em 17 de junho de 2007, que vitimou 199 pessoas. A Voepass afirma que a aeronave, do tipo ATR, estava em boa condição e havia passado por manutenção. O modelo, considerado seguro, é bastante usado na aviação comercial em viagens curtas.

FAB diz seguir protocolos legais

A Força Aérea, por meio do Cenipa, “assegura que nenhum veículo de imprensa teve acesso aos áudios, transcrições, tampouco aos dados dos gravadores de voo, popularmente conhecidos como caixas-pretas (Cockpit Voice Recorder e Flight Data Recorder) da aeronave de matrícula PS-VPB”, envolvida no acidente aéreo em Vinhedo.

O Cenipa destaca, ainda, que “segue estritamente os protocolos específicos estabelecidos pela Lei 7.565/1986 (Código Brasileiro de Aeronáutica – CBA), pelo Decreto 9.540/2018 e pelo Anexo 13 à Convenção sobre Aviação Civil Internacional, de 1944”.

Além disso, a FAB “reitera seu compromisso com a transparência e a seriedade na condução das investigações, bem como pelo respeito à dor dos familiares das vítimas envolvidas no acidente”.

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