Morreu no final da noite desta segunda-feira (8), aos 75 anos, a cantora e compositora Rita Lee. Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão ainda em 2021, mas vinha fazendo tratamentos contra a doença e chegou a anunciar a remissão do câncer no ano seguinte. Em março de 2023, ela teve que ser internada novamente, mas havia retornado para casa.
Rita Lee Jones é um dos principais nomes da música brasileira, tendo marcado gerações por sua liberdade e rebeldia. Ela nasceu em São Paulo, em 31 de dezembro de 1947, filha do dentista e imigrante Charles Jones e da pianista italiana Romilda Padula. O falecimento foi comunicado por sua família, através das redes sociais. “Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no final da noite de ontem, cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou”. O velório vai ser aberto ao público e vai acontecer no Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira (10), das 10h às 17h.
A artista é lembrada por ter sido um dos grandes nomes da revolução do rock no Brasil, tendo feito parte do movimento da tropicália e participado da banda Mutantes. Sua segunda autobiografia, intitulada “Outra autobiografia”, em que conta sobre seu processo de tratamento e aborda sua vida após deixar os palcos, estava prevista para ser lançada em 22 de maio.
A artista é considerada por muitos como a maior estrela do rock nacional. Seu último álbum de canções inéditas foi lançado em abril de 2012, sendo chamado “Reza”. Durante todos os anos de carreira, foram 40 álbuns, sendo 6 dos Mutantes e 34 em carreira solo. Sua carreira começou aos 16 anos, quando ela integrava o trio vocal feminino, as Teenage Singers e fazia apresentações em escola, até que o cantor e produtor Tony Campello ficou impressionado com seu talento e chamou o grupo para trabalhar como backing vocals.
Em 1964, ela passou a compor o grupo Six Sided Rockers que, mais tarde, deu origem aos Mutantes. O grupo foi fundado em 1966, e inicialmente tinha como membros Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. Em meio a polêmicas e o fim do relacionamento com um dos membros, ela decidiu seguir carreira por outro rumo, com o grupo Tutti Frutti. Foi neste momento, em 1975, que o disco “Fruto Proibido” marcou a nova fase da cantora e se tornou um dos grandes sucessos de sua carreira, com as músicas “Ovelha Negra” e “Agora Só Falta Você”.
Aos 64 anos, ela anunciou que deixaria de fazer turnês e shows por conta da fragilidade física causada pela idade. Em 28 de janeiro de 2012, no Festival de Verão de Sergipe, ela fez o show anunciado como último da carreira, quando discutiu com um policial e chegou a ser levada para uma delegacia. Depois da data, fez apenas duas apresentações pontuais. Em 2016, ela lançou “Rita Lee: uma autobiografia”. Ela já tinha familiaridade com o universo literário, tendo lançado obras anteriores. A que conta sobre sua vida aborda eventos marcantes, como a saída Mutantes, em 1972, e temas de sua vida pessoal que estiveram na mídia ao longo de sua carreira.
Em maio de 2021, Rita Lee foi diagnosticada com câncer de pulmão, e seguiu tratamentos de imunoterapia e radioterapia. Nos seus últimos anos de vida, escolheu ficar próxima da família em um sítio no interior de São Paulo.
Conheça Rita Lee pelas respostas espirituosas que ela dava em entrevistas
– “Eu e minha vidinha besta” (sobre temas que inspiram suas canções).
– “Não pretendo mais votar, chega de voto obrigatório, respeitem meus cabelos brancos pintados de vermelho”.
– “O tropicalismo foi a semente mais genial que foi plantada na minha cabeça, viver aquilo de perto me ensinou a ser o que sou hoje, uma Joana d’Arc sessentona que não tem pudores em desfilar por quaisquer avenidas musicais”.
– “Carne crua nem pensar, não como cadáveres de animais, mas pratico o autocanibalismo devorando as peles dos meus dedos.”.
– “Minha musa Carmen Miranda já está no céu, quem sabe rola um ‘ao vivo’ quando eu for pra lá também… Mas será que eu vou pro céu?”.
– “Comigo era só dengo, afinal, eu não representava a menor ameaça à coroa de melhor cantora” (sobre Elis Regina).
– “Nos tempos de chumbo, você ia pessoalmente duelar com os censores, baita humilhação. Das raras vezes que conseguíamos driblar uma palavrinha, era uma felicidade. Hoje, não há censura e o que se vê é um monte de bananas preguiçosas. Censura não, talento sim.”
– “O que mais me orgulha nos 50 anos de estrada foi nunca ter vendido a alma para leis rouanets e palanques políticos. Dos palcos, quero distância; da música, nunca, continuo fazendo o que mais gosto que é compor. Escrevi a biografia daquela ‘ritalee’ de cabelos de fogo que saía em turnês – a de hoje está beirando os setentinha, deixou os cabelos brancos e acha a vida de dona de casa o maior barato. Envelhecer não é para maricas. Ainda me falta muita coisa a fazer.”
– “A moral da minha história no momento é ‘pretendo viver para sempre, até agora estou indo bem’.”
– “Envelhecer já é complicado – sem uma boa dose de humor e de sarcasmo imagino que possa ser um inferno.”
– “Como avó, sou um misto de Dona Benta com Dercy Gonçalves, contadora de histórias e meio desbocada.”