Os militantes postados nos dois portões do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo (SP), protagonizaram cenas de tensão ao impedirem a saída do carro que conduziria o ex-presidente Lula até a sede da Polícia Federal em São Paulo. Em torno do carro e no portão, que chegou a ser arrancado, deixaram claro que iriam resistir até o fim. O próprio Lula chegou a ponderar com alguns manifestantes, mas não obteve êxito. Sem saída, voltou para a sede do sindicato, adiando o cumprimento do acordo que seus advogados tinham firmado com a Polícia Federal.
Somente às 18h47, o ex-presidente se entregou, mais de 24 horas após o prazo dado pelo juiz Sergio Moro para que o petista se apresentasse. A pé, Lula atravessou no meio da multidão e entrou no carro da Policia Federal. Os advogados temiam que, diante da situação, a PF poderia imputar ao ex-presidente a responsabilidade do ato, o que poderia implicar dificuldades para obter um eventual habeas corpus em um novo momento. A decretação da prisão preventiva compromete acordos, e foi isso que os advogados e até dirigentes do Partido dos Trabalhadores (estes num carro de som) relataram para a plateia.
Depois da missa em homenagem à memória de dona Marisa, pela manhã, quando fez um duro discurso, Lula gravou um vídeo que, certamente, será utilizado na campanha eleitoral e nos eventos que vão se seguir pelos próximos dias. Segundo pessoas que acompanharam a gravação, os trabalhos foram interrompidos diversas vezes. A cada frase, a voz de Lula ficava embargada. Conforme as informações, em ao menos uma dessas vezes, ele chorou.
Intervenção junto aos militantes
A senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, subiu às 17h50 deste sábado (7) no carro de som e conversou com a militância que não arredava pé da porta do Sindicato dos Metalúrgicos e não deixava Lula sair para se entregar à Polícia Federal. “Vocês estão na mais absoluta liberdade, mas preciso conversar com vocês”, disse a senadora. “Não vim aqui pra induzir nenhuma decisão, vocês estão aqui de livre e espontânea vontade tentando proteger o presidente Lula. Tenho que dividir um problema. Vocês estão na mais absoluta liberdade, mas preciso conversar com vocês. A consequência pode ser para nós, que a polícia venha aqui dar paulada na gente”, alertou.
A senadora ainda disse que ‘o fato é que a consequência para Lula, do ponto de vista jurídico, é alta’.”A Polícia Federal deu meia hora para a gente resolver essa situação” afirmou.
Mais cedo, os manifestantes apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva impediram a saída do ex-presidente do sindicato. Lula estava dentro de um carro, deixando o prédio, mas os militantes barraram a saída do veículo e chegaram a arrancar o portão do local, segurando as grades na frente do carro.
O petista saiu do carro e voltou para o interior do prédio, onde dezenas de pessoas ainda permaneciam. “Cercar, cercar e não deixar prender”, gritavam os manifestantes neste momento.
Minutos antes dessa tentativa, imagens a partir do helicóptero da TV Globo mostraram carros da Polícia Federal estacionando nas proximidades do sindicato.
Negociação
Vinte e quatro horas depois de o prazo imposto pelo juiz federal Sérgio Moro – 17h da sexta-feira (7) – para que Lula se entregasse à Polícia Federal, o ex-presidente continuava entrincheirado no sindicato. Neste sábado, após intensa negociação: de um lado emissários e advogados do petista, de outro lado a Polícia Federal, ele fez seu último comício antes de dar início ao cumprimento da pena de 12 anos e um mês no caso triplex. À sua plateia ele afirmou que se entregaria à Lava Jato.
“Vou de cabeça erguida e vou sair de peito estufado de lá”, afirmou, às 12h55, quando encerrou o comício. “Eu vou cumprir o mandado (de prisão contra ele) e vocês vão ter que se transformar, cada um de vocês vai se chamar Chiquinha, Zezinho, e todos vocês vão virar Lula e vão andar por esse país e vão ter que saber.”
Imprensa internacional repercute decisão de Lula se entregar
Alguns dos principais veículos de imprensa do mundo destacam em suas páginas na internet a decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de se entregar à Polícia Federal (PF) neste sábado.
Jornais norte-americanos como Washington Post e The Wall Street Journal ressaltaram do discurso do ex-presidente que ele voltou a defender sua inocência, após ter sido condenado a 12 anos de prisão por corrupção. “Cumprirei a ordem. Dessa forma, eles saberão que não tenho medo. Eu não estou correndo. Eu vou provar a minha inocência”, destacou o Washington Post.
A rede britânica BBC também repercutiu o anúncio do ex-presidente de se entregar e lembrou que Lula era o favorito nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais deste ano.
O periódico francês Le Monde pontuou que o ex-chefe de Estado desafiou novamente as acusações contra ele e disse que quer provar que seu julgamento é um “crime político”.
O jornal argentino Clarín ressaltou do discurso do ex-presidente o trecho em que ele disse ter negado asilo político. “Eu tive a chance de ir ao Uruguai. Eles me disseram para fazer isso. Deixe-o ir para a embaixada da Bolívia, do Uruguai, da Rússia. Eu disse que não aceito isso. Eu vou cumprir o mandato. Não estou me escondendo.”