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‘Gente que fez a Tribuna’: um mergulho no cinema com Carlos Pernisa Júnior

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Uma breve lembrança de algo muito especial para mim

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Carlos Pernisa Júnior, trabalhou na Tribuna entre 1996 e 2000

Lembrar da minha passagem pela Tribuna de Minas é sempre reavivar na memória um acontecimento especial na minha vida. Já havia trabalhado antes em diversos locais de imprensa de Juiz de Fora, quando retornei ao jornal, desta vez como contratado do quadro. Já havia estado na casa por um breve período, quando cobri as férias do então editor de Esportes, Ivan Elias. Era alguém que estava se formando e fiquei como repórter da editoria por dois meses mais ou menos. Na minha volta à Tribuna, era o responsável pela coluna de serviços do Caderno Dois, mas a editora, Katia Dias, perguntou se eu faria um texto sobre um filme que estava sendo lançado naquela época em Juiz de Fora. Eu sempre gostei de cinema e havia feito um mestrado com alguma ênfase na área, por isso não foi difícil aceitar a proposta. Não fazia textos para o jornal, mas achei que seria uma oportunidade de fazer algo mais interessante do que a coluna de serviços.

Saí para ver o filme e fazer a matéria. Não sabia bem o que ia dar. Resolvi não só ver a sessão, mas também observar as pessoas que estavam assistindo. Era um filme sobre a Copa do Mundo de Futebol de 1994, vencida pelo Brasil, chamado Todos os corações do mundo (Two Billion Hearts, Murilo Salles, 1995), em que a perspectiva principal não estava no campo de jogo, mas nas torcidas dos vários países. Esse olhar para os torcedores me fez olhar para os espectadores, possivelmente. Entrevistei alguns após a sessão para saber como se sentiram, afinal todos já sabiam do resultado da Copa do Mundo, pois estávamos em 1996, ano do lançamento do filme em terras brasileiras. Mesmo assim, vários disseram que torceram durante o filme e que tinha algo nele que fazia com que fosse especial, ainda que alguns não tivessem gostado.

Aproveitei este mote e fiz, ao mesmo tempo, uma matéria sobre o filme e também uma parte com a reação do público. Ficou um texto bastante longo e achei que a editora não fosse aprovar. Para minha surpresa, ela não só aprovou o texto como o colocou na primeira página do Caderno Dois e ainda deu espaço para o restante do material na segunda. Foi minha primeira reportagem publicada. Fico emocionado quando me lembro e agradeço muito a Katia Dias por esta oportunidade.

Além desta lembrança, guardo também uma fala do editor de Esportes, Ivan Elias, que entrevistei sobre o filme e que me fez uma pergunta depois que a matéria foi publicada. Ele quis saber porque eu coloquei a opinião de tanta gente sobre o filme e não fiz uma crítica na minha matéria, pois em momento algum coloquei minha impressão sobre o que eu vi. Respondi que não estava fazendo uma crítica e que, mesmo que fosse para fazer isso, não colocaria a minha opinião. Sempre me lembro de uma passagem de Gilles Deleuze falando de La rampe, de Serge Daney, em que a crítica de cinema não estava na impressão que o filme causava em quem estava escrevendo, mas muito mais na possibilidade de o crítico deixar para o espectador espaço para que ele visse o filme e tirasse suas impressões. Não era para dizer se a obra era boa ou ruim, era mais para chamar a atenção para o espectador ir ao cinema ver o filme. Para que ele tirasse suas próprias impressões do que viu.

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