O som das redações
Michael Guedes, jornalista da Tribuna entre 1997 e 2003
No imaginário de muitos, uma redação é aquele lugar poderoso em que se decide o que publicar ou não, quem deve ser ouvido e como, aquela tensão dos filmes americanos, com boas doses de pressão, arrogância e articulações. Foi com essa mesma impressão que cheguei à Tribuna em abril de 1997. Ainda não tinha concluído a Facom quando fui chamado por um então professor Renato Dias para trabalhar com ele na editoria de Política. Seria um teste por três meses. Durou mais de seis anos, sempre na Política, sempre com Renato… um mestre no Jornalismo e na vida.
Ali comecei uma outra faculdade, distante dos livros e bem mais próxima da realidade. A dureza de algumas pautas, a seriedade das apurações que impactavam a sociedade e a dor da proximidade com tudo que precisava (e ainda precisa) mudar nela moldaram, muito mais do que o profissional, a pessoa que me tornei. A Tribuna foi o chão concreto das fábricas que prometeram transformar a cidade, a poeira dos sem-terra que passaram por aqui em marcha, a luz dos bastidores das tantas coligações políticas feitas pelo poder, entre outros muitos temas que tive a oportunidade de presenciar como repórter, editor e colunista.
Porém, depois desses quase 25 anos, o que mais vem à mente daquele período são as pessoas. E que time! A imagem da redação sisuda e prepotente logo foi desmontada por algumas das noites mais agradáveis de trabalho que tive na profissão. Como era boa a convivência com Renato, Ronaldo Dutra Pereira, Ivan Elias, Kaká Guilhermino, Junito Pernisa, Marise Baesso, Oseir Cassola, Lilian Pace, editores que puxavam a fila de uma redação leve. Vou ficar nos editores para não ser injusto esquecendo de algum repórter. Do PC Magella, recebi a confiança máxima de ser o primeiro a poder assinar junto o Painel. Orgulho para se destacar no currículo!
Era uma equipe comprometida, mas absolutamente engraçada. Quantos plantões ou mesões de feriados terminavam literalmente em pizza, comida com a mão tendo guardanapos como prato… Quantos deadlines não foram estendidos porque o Dr. Juracy aparecia e fazia questão de parar conosco para conversar sobre política, economia, filosofia, psicologia, religião… Tinha até terceiro turno regado a cerveja e filé com palmito na manteiga no histórico Faisão Dourado. Quantas vezes fomos “expulsos” de lá pelo Inácio (garçom) às seis da manhã…E no outro dia estávamos na redação de novo, brigando por espaço de destaque nas reuniões de pauta comandadas pela Denise Gonçalves.
A Tribuna provou para mim que o jornalismo, ainda que vigilante, combativo e corretivo, pode e deve ser divertido. A transformação se dá pelos fatos – que o jornal tão bem soube retratar -, mas também pelas pessoas, pelo relacionamento entre elas. Todos, absolutamente todos, deram sua contribuição na lembrança boa que essa oportunidade de escrever aqui me proporcionou. No final, é disso que vale a vida, não é mesmo? Uma lembrança boa…
Certa vez me disseram que a comunicação é a arte de ouvir. Ouço agora as gargalhadas da boa convivência por trás de cada página impressa. E fico feliz que elas tenham ajudado a transformar a cidade.