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‘Gente que fez a Tribuna’: Ricardo Miranda e as histórias por contar

Nas desconfianças, nascia o jornalismo

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Ricardo Miranda, repórter da Tribuna entre 2003 e 2013

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Uma tarde, lá pelos idos de 2003, estava em um boteco no Cosme Velho comemorando a aprovação no mestrado da Escola de Comunicação quando recebi a intimação da minha amiga jornalista Fabíola Costa:
− A Tribuna de Minas procura um repórter de política. Venha!
Olhei para o copo, fechei os olhos e tomei o último trago. No dia seguinte, trocava a companhia de Muniz Sodré pelos fortes cumprimentos com mãos espalmadas nas costas de Juracy Neves.
Agora o incansável Juracy é uma saudade, e o ano de 2003 apenas uma antiga lembrança de calendário. Mas a Tribuna de Minas continua. O passar dos dias mudou muita coisa: o estilo, o formato, os autores e os personagens. Mas a vida é assim e não podia ser diferente com o jornalismo.
O problema do tempo para jornalista é que quase tudo acaba virando história a ser contada. E, sem o zelo para secar o estilo, como manda o manual, muita coisa parece beirar o delírio. Em certa noite, estava com as brilhantes Táscia Souza e Daniela Arbex em Lima, no Peru, tentando compreender Juiz de Fora, como Zavalita e Ambrosio no Catedral.
Na manhã seguinte, já na redação do Poço Rico, com a firmeza da menina que aprendeu a andar de salto alto nas calçadas de Goianá, Leila Herédia me despachava para cobrir o encontro entre Walfrido dos Mares Guia, Roberto Jefferson, Clésio Andrade e o então prefeito Alberto Bejani. À noite, ainda com algum dinheiro escondido no bolso, junto com o companheiro Ailton Alves, recorremos a um boteco na Rua Santa Rita. Era necessário.
Certa feita, nos 40 anos do golpe de 1964, fomos saber da filha do general Mourão, a fantástica Laurita Mourão, como foram as horas que antecederam a partida das tropas de Juiz de Fora. Ao nos receber em seu apartamento em Copacabana, a octogenária socialite carioca se encantou com o saudoso repórter fotográfico Cerezo, que, como ela nos ensinou, seria cereja em espanhol.
E assim, no devagar depressa dos tempos, ia tocando minhas pautas. Quais pautas, insistia a virginiana Juliana Prado. Nunca sabia, mas desconfiava de muita coisa. Nas desconfianças, nascia o jornalismo. Pelo menos para nós mineiros, sempre às voltas com o que há atrás dos morros, há reiteradamente uma história mal contada a ser bem contada.
A regra, se houver, é saber olhar bem para as coisas. Vai ver que, no exercício de aprender a olhar, foi que vi brotar, na redação da Tribuna de Minas, um amor já crescido, que preservo ainda hoje.
E teve uma noite, em meados de 2013, que resolvi ir embora. Mas não é nada não, falei com o Paulo César. A Tribuna de Minas era ainda minha casa, mas eu estava como cristaleira velha, quase apenas ornamentando, sem função. Ele entendeu.
− Obrigado por tudo!

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