Quanto perrengue… E que ‘presentaço’!
Ivan Elias, editor na Tribuna entre 1988 e 2000
“Então: qual será a manchete principal da página?” “Pode esperar um pouco?” “Olha, tenho mais páginas para diagramar, o tempo é curto.”
Foi esse o diálogo resumido do meu primeiro dia como contratado da Tribuna de Minas, diante do saudoso diagramador Maurício Ranieri. Vinha de um ano e meio do rádio direto para, agora com o diploma da Facom UFJF, sentar naquela cadeirinha do pensamento.
E agora, José: depois de tanta informação apurada ao longo do dia, qual seria a mais importante para desfilar triunfante no topo da página na nervosa noite de estreia, sem aplausos ou glamour?
Só alguém muito doido mesmo para aceitar entrar direto como editor na página de esportes do principal jornal da cidade e região, ainda por cima sucedendo Mário Helênio de Lery Santos. Que não foi um jornalista, mas uma vanguarda! Uma bandeira (que desfraldamos até hoje no dia a dia do nosso Portal e das redes sociais Toque de Bola).
Mas para quem também já havia entrado na sensacional equipe de esportes da Rádio Solar/B-3/Sociedade direto como repórter de campo sem ter passado pelo plantão seria só mais uma maluquice, não a primeira e muito menos a última.
Foram 12 anos (de 1988 a 2000) de aprendizado, sufoco, lições, realizações e amizades, estas saboreadas e temperadas até hoje.
O curioso é que quando revisitamos e saudamos os 40 anos da Tribuna de Minas as lembranças mais fortes remetem ao aperto, ao perrengue, à estranheza inicial de tratar, no texto do jornal, o hoje como ontem e o amanhã como hoje.
Contar agora que a redação do jogo nacional de destaque nascia da escuta do radinho de pilha na varanda fria da noite (talvez madrugada) e com o sinal da rádio indo e voltando pode parecer horrível. Mas agora soa ótimo!
Documentamos histórias importantes do nosso esporte como, entre tantas, a inauguração do nosso estádio municipal, a medalha de ouro de Giovane Gávio no vôlei olímpico de 1992, as glórias ou desventuras de nossos clubes e personagens…
O fato de trabalhar mais de dez anos nos dois veículos – rádio e jornal – (a “folga zero” ou “marajá português”, como a gente brincava na época) trazia uma sensação incomum. Tínhamos consciência que de segunda a segunda, nós estaríamos exaustos ao voltar para casa, mas muito orgulhosos por testemunhar – e viver mesmo! – cada degrau do nosso esporte.
Sabe aquele papo do ator ou da atriz que arranca aplausos numa peça, num filme ou numa novela, vem a entrevista ele diz “foi um presente para mim” e a gente ensaia debochar?
Ajudar a construir os 40 anos da Tribuna foi um “presentaço” para um recém-formado e ele só tem a agradecer a cada um dos alunos e professores da UFJF, repórteres e operadores da rádio e do jornal, diagramadores, repórteres fotográficos e a tanta gente envolvida. E viva os perrengues de quando não havia internet e o telefone era utilizado – pasmem! – para conversar, apurar e telefonar.