A Tribuna inaugura, nesta quarta-feira (7), como parte da programação de celebração dos 40 seus anos, a série “Gente que fez a Tribuna”. O jornal trará, nos próximos 40 dias, textos de jornalistas responsáveis por contar a história de Juiz de Fora nas últimas décadas através das páginas do impresso, em uma contagem regressiva até 31 de agosto, véspera do aniversário de 40 anos da Tribuna, completos no dia 1º de setembro. Os egressos foram provocados a relembrar uma experiência profissional relacionada não só ao jornalismo, mas também às próprias trajetórias enquanto quadros da Redação do jornal. Bastidores de reportagem ou episódios ocorridos na Redação, mas as histórias por trás das histórias. Em última instância, uma memória afetiva, pessoal, de quem contribuiu para construir a Tribuna.
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“A ideia de trazer esses depoimentos para as páginas do jornal é prestar um tributo a quem de fato fez a Tribuna ao longo desses 40 anos e também compartilhar com o leitor as histórias por trás das histórias”, afirma Wendell Guiducci, editor de Cultura e idealizador da série “Gente que fez a Tribuna”. Há uma vida muito rica, que pulsa de uma maneira muito forte, “apaixonante mesmo”, em uma Redação. “O que os leitores têm acesso, ou seja, aquilo que é publicado, é filtrado por essa paixão, por essa vida anterior à máquina de escrever, aos computadores, à rotativa, aos computadores. É muita generosidade dos jornalistas convidados compartilharem um pouco daquela vida nessas crônicas. E, para mim, particularmente, uma honra lê-las em primeira mão.”
A editora executiva de Integração, Luciane Faquini, destaca que são profissionais que ajudaram não apenas a construir a história do jornalismo de Juiz de Fora, mas, sobretudo, a história da cidade. “É uma forma de homenagear essas pessoas. Infelizmente não dá para trazer todo mundo que passou pela Tribuna, mas vamos rememorar os profissionais que ajudaram a construir a história do jornalismo local”, ressalta. “Todo mundo tem uma história para contar. Reunimos repórteres, repórteres fotográficos, diagramadores etc. Cada um com o seu talento e com a sua experiência. Todos viveram experiências por conta dos fatos que cobriram ou das matérias que construíram dentro do jornalismo de Juiz de Fora, além de bastidores, que os leitores não sabem, mas, inevitavelmente, também fazem parte da história”, completa Luciane.
É do jornalista Geraldo Muanis o texto inaugural da série “Gente que fez a Tribuna”, nesta quarta (reproduzido ao fim da matéria). Dentre chegadas e saídas, Muanis integrou a Redação em três oportunidades – a última em 1995. Entretanto, o repórter compunha a equipe que mandou o jornal para as bancas pela primeira vez, em setembro de 1981. Muanis relembra, por exemplo, os bastidores da morte do então presidente eleito Tancredo Neves. “(…) Aliado ao ardor da entrega profissional, era perceptível a dor da perda. Havíamos perdido a grande chance de conquistar as ‘Diretas Já’, com a rejeição da Emenda Dante de Oliveira por um Congresso Nacional manipulado e sem alma. Mas, a eleição indireta de Tancredo devolveu a esperança ao povo brasileiro. E agora?”, Muanis rememora o sentimento à época. Do antigo bar Caros Amigos, na Rua São Mateus, Muanis saiu em debandada para a Redação por volta das 22h30 para cobrir a morte de Tancredo.
Já na quinta-feira (8), a jornalista Júlia Pessôa é quem assina a crônica. Dos 40 anos da Tribuna, Júlia viveu dez diretamente na Redação, entre 2010 e 2020. E, mesmo após a saída, ela ainda está registrada tanto nas páginas, como no site semanalmente – aos domingos – na coluna “Antes que eu me esqueça”. Júlia revela que o maior legado de sua trajetória foram os silêncios, o exercício do silêncio, na verdade. “(…) Entre acertos e erros – parte inevitável do caminho – aprendi que no ofício da palavra ouvida, transcrita, redigida, digitada, solicitada… o valor do silêncio é imensurável. O silêncio que precede a escuta, acenando para a fonte sua posse da palavra (…).” Mas Júlia ainda relembra o imponderável das pautas de rua junto aos repórteres fotográficos. Neste caso, especificamente, com o saudoso Antônio Olavo Cerezo.
Além de Muanis e Júlia, os jornalistas Fabiano Moreira e Táscia Souza assinarão respectivamente as crônicas das edições de sexta-feira e domingo. E outros 36 jornalistas compartilharão, até 31 de agosto, as histórias por trás das histórias que os leitores desconhecem. A Tribuna reunirá crônicas de jornalistas do calibre de Daniela Arbex, Ismair Zaghetto, Marise Baesso, Humberto Nicoline, Mauro Morais, Fabiano Moreira, Táscia Souza, Tânia Heluey, Ricardo Miranda, Juliana Duarte, Wallace Mattos, Getúlio Vargas Machado etc. para explicitar como as histórias que chegam aos cidadãos são ouvidas, apuradas e escritas.
Morte de Tancredo: missão cumprida com lágrimas, por Geraldo Muanis
Os 40 anos de fundação da “Tribuna de Minas” estão diretamente ligados aos meus 40 anos de jornalismo, uma vez que no dia 1º de setembro de 1981 integrava a equipe que mandou o jornal para as bancas pela primeira vez.
Guardo profundas lembranças dos 10 anos em que lá trabalhei, somando as “três entradas e três saídas”. A última, em 1995. É com gratidão e honra que aceitei o convite para escrever sobre uma experiência marcante e inesquecível dessa trajetória.
O dia 21 de abril de 1985 registra a morte do presidente Tancredo Neves, após um longo calvário, iniciado quando deu entrada no Hospital de Base em Brasília dias antes da posse. Era um domingo e, como em todos os finais de semana, estava reunido com a galera de sempre no Caros Amigos, bar localizado na Rua São Mateus, bem próximo da Rua Doutor Romualdo. Em frente, havia a Cabana da Traíra. Eram 22h20, quando de lá veio um recado do proprietário Antônio César Portes, dizendo que havia um telefonema urgente de alguém do jornal para o Aníbal Pinto, proprietário do “Caros Amigos”. Ele atendeu, sem saber que o “Fantástico” havia sido interrompido pelo então porta-voz da Presidência da República, Antônio Britto, anunciando a morte de Tancredo.
Ato contínuo, Ronaldo Dutra Pereira, editor de Nacional/Internacional, iniciou a tarefa de convocar os jornalistas que por acaso estivessem no bar para fazer uma edição extra da “Tribuna de Minas”, que não circulava nas segundas-feiras. E combinou de passar de carro para nos levar à redação.
Imediatamente, eu, Leopoldo Siqueira e Aníbal Pinto começamos a entrevistar pessoas que estavam no “Caros Amigos”, “Cabana da Traíra” e “Salgado’s Bar”. E rumamos para a redação, que funcionava no alto da Rua Halfeld, em um terreno no interior da Academia de Comércio.
Chegamos. Outros jornalistas e editores já estavam trabalhavam na edição de um caderno de oito páginas. A televisão permaneceu ligada, enquanto no telex as notícias chegavam através das agências “Jornal do Brasil” e “Associated Press”.
Na época, trabalhava diretamente com o Ronaldo e logo passei a colaborar com a seleção do noticiário específico sobre a morte e repercussão no Brasil e no mundo. Enquanto isso, os demais jornalistas trabalhavam com a repercussão em suas respectivas editorias.
Aliado ao ardor da entrega profissional, era perceptível a dor da perda. Havíamos perdido a grande chance de conquistar as “Diretas Já”, com a rejeição da Emenda Dante de Oliveira por um Congresso Nacional manipulado e sem alma. Mas, a eleição indireta de Tancredo devolveu a esperança ao povo brasileiro. E agora?O relógio na parede, acima da tevê, marcava 1h50 da madrugada. A redação parou para ouvir Fafá de Belém cantar o Hino Nacional, símbolo daquele período. Foi assim que vi rolarem as lágrimas do editor de Política, Paulo César Magella. Uma forte comoção tomou conta de nós, paralisados diante da tevê, em um sentimento de cortante dor perpassando a coluna, invadindo a alma e apertando o coração.
Toda a nossa dor também estava naquela edição especial de segunda-feira.