Teo Pasquini, jornalista e ator de 39 anos, conta que levava uma vida relativamente saudável: praticava esportes, trabalhava, saía e se movimentava com frequência. Além disso, não era uma pessoa nervosa e estressada. “A princípio, nenhum motivo aparente foi detectado para justificar meu Acidente Vascular Cerebral (AVC). Não sofro com hipertensão, diabetes, tabagismo, alcoolismo”, afirma. Segundo investigações realizadas por meio de exames até o momento, seu caso teria acontecido “do nada”.
“Comecei a ficar tonto e perder o equilíbrio. Não cheguei a ficar desacordado, mas demorei um pouco – algumas horas – para recuperar minhas energias e sair de casa para procurar atendimento médico. A princípio, nem eu e nem os profissionais de saúde pensaram que seria um AVC. Foi cogitado um infarto, pois um lado do corpo estava mais dormente, além de estar suando muito e a temperatura corporal estar elevada.”
O episódio aconteceu na parte da tarde. Só à noite, após uma tomografia, foi descoberto um edema grande no cerebelo, responsável pelo equilíbrio. Desta forma, chegaram ao diagnóstico de AVC. “Fiquei internado durante uma semana no Rio de Janeiro, onde moro. Depois, fui para Juiz de Fora, de onde sou e tenho família”, relata. Conforme Teo, só depois de duas semanas, ele começou a sentir as sequelas em toda a sua parte motora: fala, andar e escrita. “Tive que reaprender, por meio de fisioterapia e exercícios. Igual uma criança recém-nascida. Ainda estou nesse processo. De modo geral, já recuperei bastante coisa, mas ainda sinto tontura em algumas atividades, por exemplo.”
O dia 29 de outubro, que em 2024 acontece nesta terça-feira, é conhecido como o Dia Mundial do Acidente Vascular Cerebral. A data tem o intuito de conscientizar a população a respeito da doença e suas particularidades. Conforme dados divulgados pela Sociedade Brasileira de AVC, obtidos por meio do Portal da Transparência do Centro de Registro Civil do Brasil – com dados dos atestados de óbitos brasileiros -, 50.133 pessoas morreram pela doença no país em 2024 até o mês de agosto.
AVC
O neurologista Ricardo Martello esclarece que o Acidente Vascular Cerebral é uma doença causada por uma alteração súbita do fluxo sanguíneo no cérebro, levando à disfunção cerebral e à morte dos neurônios. Existem dois tipos de AVC: o isquêmico, quando ocorre uma obstrução do fluxo sanguíneo devido ao entupimento do vaso (geralmente causado por um coágulo); e o hemorrágico, quando ocorre uma ruptura do vaso sanguíneo, levando ao extravasamento de sangue no tecido cerebral.
Já em relação aos sintomas, Ricardo explica que dependem da área do cérebro em que ocorre a alteração do fluxo sanguíneo. “Os mais comuns são boca torta, dificuldade para falar e dificuldade para movimentar um lado do corpo. Além desses, também pode acontecer dor de cabeça, vertigem e alteração da visão, entre outros.”
Outro tópico que demanda atenção da população são os fatores de risco do AVC. Segundo o neurologista, os principais são os mesmos do infarto agudo do miocárdio, conhecidos como fatores de risco cerebrovasculares: hipertensão arterial, diabetes, obesidade, sedentarismo, tabagismo, colesterol alto, consumo excessivo de álcool, arritmia cardíaca e idade avançada.
Importância de agir rapidamente
Aos 31 anos, a cineasta e acadêmica de Medicina Clareana Turcheti de Souza (35 anos atualmente) estava numa festa de aniversário quando começou a sentir dor de cabeça e perda de força no lado esquerdo do corpo. Neste momento, percebeu que sofria um AVC. “Pedimos socorro médico, mas houve uma grande demora para me atenderem. Isso me deixou com sequelas”, lamenta. Ela explica que cada minuto sem oxigenação no cérebro leva à perda de um milhão de neurônios.
Clareana desenvolveu hemiplegia e epilepsia como sequela do seu AVC. Ricardo Martello destaca que o Acidente Vascular Cerebral, quando diagnosticado rapidamente, pode ser tratado com terapias que possibilitam restabelecer o fluxo sanguíneo quando ocorre um entupimento. Dentre elas, o uso de medicamentos que dissolvem o coágulo. “No entanto, esses medicamentos só podem ser administrados até quatro horas e meia do início dos sintomas, sendo o tratamento da doença aguda uma corrida contra o relógio.”
Além disso, o neurologista ressalta que o AVC pode ocorrer em qualquer idade. De acordo com estudos atuais, 35% dos acidentes vasculares cerebrais ocorrem em pessoas com menos de 50 anos. “Já a reabilitação pós-acidente envolve o trabalho de força e equilíbrio com a fisioterapia, trabalho de linguagem com a fonoaudiologia e trabalho psicoterápico com a psicologia e a terapia ocupacional”, completa. “Acredito que os gestores devem investir em conscientização da população, tanto em relação à prevenção, atuando no controle dos fatores de risco, como também ensinando as pessoas a reconhecer os sinais e os sintomas de AVC, para que um tratamento efetivo em tempo hábil seja oferecido a esses pacientes.”
*sob supervisão da editora Fabíola Costa