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Famílias atípicas enfrentam dificuldades com a quebra da rotina escolar durante as férias

ferias escolares autismo

Luana Xavier Bilheiro com o filho Francisco (Foto: Arquivo pessoal)

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Luana Xavier Bilheiro com o filho Francisco (Foto: Arquivo pessoal)
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“Atualmente o meu filho está começando a ser verbal, já sabe falar algumas coisas. Mas durante as férias, ele fica tão nervoso que chega a diminuir a capacidade de verbalização das vontades, e aumenta muito a agressividade”, conta Luana Xavier Bilheiro, mãe de Francisco, 3 anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nível de suporte 3 (grande necessidade de suporte, em uma escala de 1 a 3). Para ela e outras famílias, as férias escolares representam um desafio para a continuação do tratamento para o TEA e a formação educacional.  

Francisco estuda em uma creche pública desde setembro de 2022 e todas as férias requerem esforço de adaptação. “Na primeira vez, ele estava começando um sistema de comunicação alternativa, o PECS, que utiliza o Sistema de Comunicação por Troca de Figuras, e retrocedeu 100%. Inclusive, parou de falar as palavrinhas que ele começava a esboçar. Isso sem contar o aumento da agressividade, que acontece sempre”, conta Luana. Depois dessas férias, o menino nunca mais conseguiu mexer com o PECS. 

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Para a mãe de Francisco, o real desafio das férias é a saída da rotina. “A rotina é âncora da pessoa autista, que regula e ajuda. Ficar sem uma atividade tão importante, que tem um peso tão grande no dia a dia da criança, como é a escola, causa uma confusão enorme. Afeta o sono e a alimentação. Meu filho perde peso todas as férias, não consegue seguir a alimentação como segue na creche”, desabafa. Luana ainda revela que algumas coisas melhoram quando as aulas voltam, como a alimentação, fazendo com que ela não precise procurar uma intervenção extra. No entanto, alguns comportamentos e regressões são permanentes, e demandam uma abordagem diferente nas terapias. 

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Segundo a neurologista pediátrica Ivy Rosa Coelho Loures, a alteração na rotina de atividades de uma criança com TEA pode acarretar mudanças de comportamento, ocasionando mais frequentemente comportamentos disruptivos (irritabilidade e agressividade). “Isso acontece por vários motivos: ausência de terapias, excesso do uso de telas, alteração na higiene de sono e ausência das atividades escolares estruturadas, além do contato com pessoas que a criança vê diariamente”, explica a médica. 

A neurologista pediátrica também informa que, para minimizar essa situação, é importante manter a higiene do sono com horários regulares, gerenciar o tempo adequado de telas, aumentar atividades ao ar livre em contato com a natureza, e promover atividades que estimulem o desenvolvimento. Uma preocupação de Ivy é que isso pode fazer os cuidadores ficarem muito sobrecarregados, sendo necessário que as famílias tenham pessoas que possam ajudar nos cuidados com a criança. No entanto, muitas delas não têm rede de apoio e há dificuldades em manter as terapias, por causa de problemas com planos de saúde, conforme matéria publicada anteriormente pela Tribuna.

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Recesso das aulas requer adaptação e paciência, diz especialista

A sócia da Casa Ninho, Ludmilla Teixeira Bittar, explica que o trabalho da instituição, que promove o acolhimento às crianças e adolescentes com transtornos do desenvolvimento, é altamente impactada pelo período do recesso escolar. Para ela, a quebra da rotina dificulta o processo de intervenção nas terapias. 

“Os pacientes ficam mais agitados, menos responsivos às terapias, como ocorre com a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), que atua em diferentes ambientes do cotidiano. Por vezes, eles querem acessar itens que normalmente não usamos, como o celular”, conta Ludmilla. Uma das premissas centrais da ABA é a abordagem de contextos cotidianos, isto é, fora do espaço terapêutico, em que as pessoas com TEA estão inseridas, o que inclui a escola ou creche. “Isso envolve a observação detalhada, coleta de dados, análise e intervenção a partir de comportamentos específicos do aprendiz em diversos ambientes, buscando sempre promover habilidades funcionais a seu cotidiano, por meio de técnicas baseadas em princípios científicos”, explica Dora Alves, estudante de psicologia que faz capacitação em acompanhamento terapêutico na Casa Ninho. Ela acrescenta que, com o recesso, a aplicabilidade das técnicas da ABA fica comprometida, e é preciso fazer adaptações na abordagem.

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De acordo com Ludmilla, sócia da instituição, para melhorar o resultado terapêutico, os profissionais e familiares precisam entender que esse momento de férias é necessário e tem data para acabar, além de respeitar as mudanças de comportamento. Ela ainda destaca que é necessário ir adequando os processos à resposta dos estudantes, de forma que as intervenções fiquem o mais produtivas possíveis, sem fingir que a rotina não mudou.

Casa Ninho oferece acolhimento às crianças e adolescentes com transtornos do desenvolvimento (Foto: Divulgação)

Ludmilla idealizou a Casa Ninho em abril de 2022, por ter experiência na área de acolhimento educacional e por sentir falta de um espaço para ajudar as famílias e as crianças com algum transtorno do desenvolvimento. “Pensávamos num espaço onde a ciência pudesse se juntar à leveza e à alegria. Onde as pessoas se sentissem acolhidas nas suas demandas, ainda que fosse só para uma escuta ativa”. Como resultado, atualmente, o local atende de forma intensiva cerca de 40 crianças e adolescentes, além de aproximadamente 130 pessoas pontuais, ajudando muitas a passarem por essas mudanças das férias. 

*Estagiária sob supervisão da editora Júlia Pessôa

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