Quem sofre com rinites e sinusites alérgicas sabe que é muito difícil lidar com os sintomas, pois pode diminuir a qualidade de vida das pessoas, afetando estudos, trabalho e toda a rotina. Segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), cerca de 30% dos brasileiros possuem alguma alergia respiratória. Com o inverno as crises alérgicas tendem a aumentar pelo tempo seco e com baixa umidade, pensando nesse problema a Tribuna entrevistou a médica otorrinolaringologista Soraya Elias Russo Lima, que atua no Hospital Universitário da Universidade de Juiz de Fora (HU-UFJF/ Ebserh), para falar mais sobre como aliviar os sintomas da rinossinusite e fazer a lavagem nasal de forma correta.
O que é rinossinusite?
A otorrinolaringologista explica que anatomicamente a rinite não existe sem a sinusite, mas os termos são usados popularmente separados, pois em geral os quadros alérgicos são chamados de rinite e os bacterianos de sinusite. “O termo correto na verdade é rinossinusite, pois a mucosa que reveste a cavidade nasal é contínua com a que reveste os seios da face. Logo, uma inflamação dessa mucosa geralmente acomete tanto a cavidade nasal quanto os seios da face, definindo o quadro de rinossinusite”, diz Soraya. Os sintomas são obstrução nasal, coriza, prurido (vontade de coçar) e espirros.
Soraya também contou que as causas podem ser infecciosas, através de vírus, bactérias e fungos, ou não quando é alérgica, hormonal, do idoso, irritativa, entre outros. Assim, o tratamento varia de acordo com o tipo de rinossinusite, mas ela destaca que lavar o nariz com soro fisiológico é essencial para o tratamento das rinossinusites, principalmente nos casos alérgicos e infecciosos.
Como realizar a lavagem nasal com soro fisiológico?
A limpeza da cavidade nasal proporciona redução de secreção acumulada, prevenindo infecções bacterianas secundárias, além de reduzir o tempo de contato dos alérgenos do ambiente com o sistema imunológico, ajudando nos casos alérgicos.
A forma correta de se lavar o nariz é com soro fisiológico, comprado pronto ou preparado em casa. Se houver muita secreção nasal, o ideal é usar o soro em alto volume com seringa ou garrafinha.
- Escolha uma seringa de tamanho adequado. A seringa de 3 ml é indicada para bebês, 5 ml para crianças, a de 10 ml para adultos e a de 20 ml pode ser usada em pós-operatórios de cirurgia nasal ou para lavagem mais intensa em casos de infecções das vias aéreas superiores.
- Encha a seringa com soro fisiológico em temperatura ambiente, pois líquidos gelados ou quentes em contato com a mucosa nasal podem desencadear respostas irritativas locais.
- Fique posicionado de frente a uma pia e incline a cabeça levemente para baixo. Se for fazer com uma criança tem que deixá-la em pé ou sentada.
- Posicione o bico da seringa na narina esquerda utilizando a mão direita e virando o bico levemente em direção a orelha esquerda. Empurre o êmbolo com velocidade e puxe o ar fundo. Parte do soro pode sair pela mesma narina, a oposta ou cair na garganta. Depois faz o mesmo procedimento com a narina direita.
A médica Soraya explica que a frequência da lavagem depende do quadro clínico.“Se houver muita secreção, por exemplo, nas rinossinusites agudas bacterianas, recomenda-se lavar o nariz com alto volume de soro pelo menos três vezes ao dia, sem limite máximo. Nos casos de rinite alérgica, pelo menos duas vezes ao dia. Vai depender da disponibilidade do paciente em realizar a lavagem e da quantidade de secreção acumulada”, acrescenta.
Riscos do uso incorreto do soro fisiológico
A otorrinolaringologista Soraya Elias Russo Lima também destaca que quando injetamos soro fisiológico no nariz com muita pressão, independente do dispositivo utilizado, há chance de mobilizarmos a secreção nasal e o próprio soro para dentro do ouvido, pois há comunicação entre os órgãos sensoriais. “Isso gera desconforto e, por vezes, inflamação no ouvido (otite). Esse risco é maior nas crianças, já que têm um canal menor e mais horizontalizado comunicando o ouvido com o nariz”, explica.
Ela ressalta que não há contraindicação ao uso prolongado quando o soro fisiológico é usado corretamente. “Costumo dizer aos meus pacientes que lavar nariz com soro equivale a escovar os dentes, nada mais é do que uma limpeza”.
O que pode ser feito além da lavagem nasal com soro?
Como casos crônicos podem ter causas infecciosas ou não, o tratamento varia dependendo de cada caso, conforme os profissionais de saúde.“Pode se tratar de sinusite fúngica, com tratamento cirúrgico; rinossinusite alérgica, com tratamento à base de corticoide em spray nasal; rinossinusite atrófica (perda dos tecidos internos do nariz, incluindo a capacidade de aquecer, filtrar e umidificar o ar), que pode ser tratada com o gel hidratante, por exemplo”, explica a médica. O gel hidratante se propõe a hidratar a mucosa nasal e pode ser usado como um sintomático para a sensação de nariz ressecado, principalmente nos dias de baixa umidade do ar, mas Soraya destaca que o produto não pode substituir o soro fisiológico.
Em alguns casos, a aplicação da imunoterapia pode ser muito útil para tratar o problema e diminuir as crises alérgicas de maneira considerável. A imunoterapia consiste em uma exposição em quantidades crescentes ao alérgeno para que o sistema imunológico se adapte ao contato com aquela substância e não gere uma resposta exagerada, como uma vacina. O procedimento tem como finalidade reduzir o grau de sensibilização e a reatividade aos antígenos, diminuindo a dose ou até mesmo retirando a medicação utilizada. Soraya explica que ela é indicada para o tratamento da rinite quando os seguintes critérios são preenchidos: doença mediada por IgE (anticorpo), falha da higiene ambiental no controle dos sintomas, falha da farmacoterapia (ausência de efeito, desenvolvimento de efeitos colaterais ou não adesão) e disponibilidade de extratos de boa qualidade.
Por isso, Soraya afirma que os casos crônicos devem ser acompanhados por um especialista da saúde, uma vez que o diagnóstico e o tratamento podem estar equivocados, alguma causa anatômica nasal poderia estar atrapalhando a resolução dos sintomas. A avaliação por otorrinolaringologista é essencial nos quadros de rinossinusite crônica, por ser capaz de identificar a falha terapêutica, realizar exames endoscópicos nasais e até indicar cirurgia. Contudo, ela informa que a cirurgia não cura a alergia, que é uma condição genética e sua descompensação depende de fatores ambientais. “Em geral, as cirurgias nasais são indicadas se houver algum fator anatômico que impede a ventilação adequada do nariz e dos seios da face ou alguma complicação infecciosa”.
*Sob supervisão do editor Marcos Araújo.