O aumento de casos de febre Oropouche em Minas Gerais se tornou ponto de atenção para a Secretária de Estado de Saúde (SES-MG) devido aos novos diagnósticos registrados nas últimas semanas. No último boletim, disponibilizado nesta quarta-feira (8), o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-MG) da Fundação Ezequiel Dias (Funed) identificou 283 amostras que testaram positivo para a doença no estado. Os dados mostram concentração dos casos nas regiões do Vale do Rio Doce e Zona da Mata.
No Vale do Rio Doce, algumas cidades apresentam números elevados: 140 casos em Joanésia, 30 em Coronel Fabriciano e 15 em Timóteo. Na Zona da Mata, a situação também é preocupante, com um total de 92 casos registrados. A maior parte ocorreu em Piau, com 86 registros, mas também há 3 casos em Coronel Pacheco e casos isolados em Bom Jardim de Minas, Rio Novo e Tabuleiro. Outras regiões de Minas, como Sul e Sudeste, tiveram casos isolados.
Identificada pela primeira vez no Brasil em 1960, a febre Oropouche apresenta casos isolados e surtos, sobretudo, na região amazônica, considerada endêmica. Entretanto, em maio de 2024, Minas Gerais identificou o primeiro caso. Até o momento, 22 estados já apresentaram diagnósticos para a doença, sendo mais de 13 mil notificações no Espírito Santo, estado com maior concentração de casos (98,7%), em 2024.Apenas Rio Grande do Norte, Goiás, Distrito Federal, Paraná e Rio Grande do Sul não registraram transmissão local. Desde 2023, o país enfrenta o aumento da disseminação da doença.
Sintomas, tratamento e fatores de risco
Sendo transmitido pela picada do mosquito-pólvora, os sintomas da febre Oropouche são parecidos com os da dengue: dor de cabeça intensa, dor muscular, náusea e diarreia, além de relatos de manchas vermelhas pelo corpo e febre alta.
Para o médico infectologista Marcos Moura, o diagnóstico é clínico, epidemiológico e laboratorial. O protocolo é tratar como uma arbovirose, notificar a vigilância sanitária e coletar material para análise para, então, confirmar o diagnóstico. Somente após a confirmação, o tratamento deve ser feito como febre Oropouche, focado nos sintomas e com indicação de repouso e hidratação.
Não há vacina ou tratamento específico para a doença e, por isso, a melhor forma de não contrair a doença é a prevenção. “O mosquito tem hábito mais noturno, diferente do Aedes aegypti. É comum em áreas de mata, por isso, é recomendado o uso de repelente e evitar locais com muitos mosquitos, perto de lagos e rios. Também é importante usar roupas fechadas.” aconselha o especialista.
O infectologista comenta sobre a gravidade da arbovirose. “Não é comum a febre Oropouche causar casos letais. Eles são muito raros e estão associados a outros fatores, como comorbidades, pacientes que já têm doenças graves e imunossuprimidos”
O estudo “Além da Amazônia: A Dispersão e os Impactos da Febre Oropouche no Brasil”, de Ana Paula da Silva e Diógenes José Gusmão Coutinho, publicado em dezembro de 2024 na revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, identificou fatores que contribuem para a dispersão da febre Oropouche no Brasil. A urbanização desordenada aproxima as populações humanas dos habitats naturais do vetor, aumentando o risco de surtos. Além disso, o desmatamento e mudanças no uso do solo favorecem a migração do vetor, ampliando a área de ocorrência da doença.
Mudanças climáticas interferem na proliferação da doença
As mudanças climáticas têm um impacto direto na distribuição dos vetores e patógenos, facilitando a expansão da febre Oropouche para áreas que antes não eram afetadas. O aumento das temperaturas e as mudanças nos padrões de chuva criam condições ideais para a proliferação do mosquito-pólvora, permitindo que ele se espalhe para regiões mais distantes. Com isso, as variações climáticas alteram a dinâmica de transmissão da doença, ampliando a temporada de risco e expandindo as áreas vulneráveis. Além disso, a mobilidade humana, seja por migrações ou turismo, contribui para a introdução do vírus em novas localidades, acelerando sua disseminação e dificultando o controle.
Moura alerta para a manutenção dos cuidados daqueles que estão infectados. “Um mosquito picando uma pessoa infectada pode transmitir a doença para outras, por isso, é necessário o uso de máscara e repelente também para aqueles que já têm o diagnóstico.”
As mudanças climáticas também modificam os períodos em que a febre Oropouche é mais comum, o que pode complicar os esforços de vigilância e controle. Os surtos podem ocorrer fora dos períodos tradicionais de maior incidência, tornando ainda mais desafiador o combate à doença. Essa alteração nos padrões de transmissão exige uma adaptação nas estratégias de monitoramento e prevenção, para que as autoridades de saúde possam atuar de forma mais eficaz em um cenário em constante mudança.
Ações governamentais
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde informou que, como estratégia de vigilância ativa, foi implantada em Minas Gerais a Vigilância Sentinela da Febre Oropouche. A medida inclui unidades sentinelas em todas as Unidades Regionais de Saúde e o envio regular de amostras à Fundação Ezequiel Dias (Funed) para testagem. Em agosto de 2024, a Prefeitura de Juiz de Fora informou a instalação de uma vigilância sentinela na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Santa Luzia.
A vigilância sentinela é uma ferramenta utilizada para detectar, de forma sistemática e rotineira, a introdução e circulação de arbovírus de interesse para a saúde pública. “Com ela, será possível analisar o cenário epidemiológico, definir ações prioritárias, atuar na vigilância entomológica, identificar a cadeia de transmissão, selecionar áreas prioritárias para intervenção, implementar medidas de enfrentamento adequadas e oportunas, além de promover o envio regular de amostras à Funed para testagem”, explicou a Superintendência Regional de Saúde na ocasião.
*estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli