O arroz com feijão, prato queridinho dos brasileiros até bem pouco tempo atrás, está perdendo cada vez mais espaço para refeições prontas, pobres em nutrientes e ricas em gorduras, como os chamados fast foods. Em um período de dez anos, a substituição de alimentos tradicionais por comidas ultraprocessadas e de preparo rápido pode ter contribuído no aumento do excesso de peso e da obesidade entre homens e mulheres. É o que aponta artigo publicado nesta segunda (6), na “Revista de Nutrição”, por pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A pesquisa também constatou redução no consumo de frutas, café e chá, peixes e frutos do mar, carnes processadas, leite e derivados. Por outro lado, houve aumento no consumo de frango e ovos.
Para entender a atual dinâmica alimentar dos brasileiros, os cientistas compararam dados dos blocos de consumo alimentar das Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos anos de 2008 e 2018. Do total de entrevistas, foram selecionados cerca de 50 mil questionários respondidos por homens e mulheres, de 20 a 59 anos, residentes em todo o território nacional, contemplando os diferentes perfis geográficos e socioeconômicos da população.
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Segundo a pesquisa, o consumo médio de arroz por homens, por exemplo, diminuiu de 209 gramas por dia registrados em 2008 para 174 gramas em 2018, enquanto o consumo de feijão e outros legumes caiu de 250 gramas para 231 gramas por dia. Já o consumo de fast food aumentou de 31 para 48 gramas diárias no mesmo período. “Essa mudança nos padrões alimentares sugere um aumento no consumo de alimentos ultraprocessados, que estão associados a indicadores de obesidade com tendências positivas, independentemente do sexo e da faixa etária”, explica llana Nogueira Bezerra, pesquisadora da Uece e uma das autoras do estudo.
Aumento de peso está ligado a sedentarismo também
A pesquisadora lembra que o ganho de peso excessivo está associado também a fatores como “comportamento sedentário, diminuição da prática de atividade física e aumento no número de pessoas residindo em áreas urbanas, onde as atividades laborais e o deslocamento tendem a ser mais sedentários”.
Quando a comparação é de gênero, o levantamento mostra que a proporção de homens com sobrepeso é maior do que a das mulheres, mas o aumento ao longo dos anos entre as mulheres foi maior do que entre os homens. Para elas, o aumento foi de seis pontos percentuais, de 29%, em 2008, para 35%, em 2018. Enquanto entre os homens, o aumento foi de cerca de quatro pontos percentuais, de 38,4% para 42%. Quando o parâmetro é a obesidade, as mulheres apresentam maior proporção que os homens, mas não houve diferença significativa no período, passando de 16,2% para 17,2%. Já os homens, passaram de 9,8% para 12,9%.
Na mudança de comportamento alimentar, as mulheres apresentaram aumento da ingestão de vegetais e também de bebidas alcoólicas. O aumento do consumo de álcool também foi registrado entre os homens.
Para a autora do artigo, uma das estratégias para resgatar a cultura alimentar do nosso país é priorizar os alimentos consumidos e preparados em ambiente familiar diante do aumento de serviços de vendas online e delivery de comidas feitas fora de casa. Além disso, são fundamentais iniciativas como “adequações na rotulagem nutricional, tributação de itens ultraprocessados e regulamentação da publicidade e promoções relacionadas a esses produtos”, conclui Bezerra.
Conteúdo publicado sob licença da Agência Bori