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Tratamento da menopausa é avanço para melhorar qualidade de vida das mulheres

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(Foto: Freepik)

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A enfermeira obstétrica Geísa Sereno Velloso (Foto: Arquivo pessoal)
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“Não tive medo de passar pela menopausa, mas achava que ia passar de uma forma melhor. Não passei tão bem, pois senti ondas de calor, suores noturnos, tive problemas para dormir, irritabilidade e dores nas articulações, além de ficar sem energia, meio triste, perder o foco e até a memória”, relata Geísa Sereno Velloso, de 54 anos, que está passando pelo climatério desde o ano passado e fazendo reposição hormonal. Ela é professora universitária e trabalha como enfermeira obstétrica no Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF).

A menopausa corresponde a data do último ciclo menstrual da mulher, sendo confirmada com ausência de menstruação por um período de 12 meses consecutivos. Geralmente, ocorre entre 45 e 55 anos, mas existe a menopausa precoce antes dos 40 anos. Os sintomas relatados por Geísa Sereno podem marcar o climatério, que é o período que indica a transição da fase reprodutiva para a fase não reprodutiva. Ele pode ser dividido em três fases: perimenopausa, marcada pela queda gradual do estrogênio, que é o principal hormônio feminino produzido pelos ovários; menopausa; e pós-menopausa que se inicia após a menopausa e se prolonga pelo resto da vida da mulher.

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De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há aproximadamente 29 milhões de mulheres entre o climatério e a menopausa no país. O dado totaliza 27,9% da população feminina brasileira.

Segundo a ginecologista e obstetra responsável pelo ambulatório de Climatério do HU-UFJF/Ebserh, Samira Raquel Pereira Rodrigues, o diagnóstico é clínico, com base nos sinais e sintomas da paciente. “Os sintomas vasomotores também conhecidos como fogachos ou ondas de calor estão entre os mais frequentes. Além de alterações de humor, insônia, irritabilidade, alterações urinárias, ressecamento vaginal, alterações de libido, ganho de peso e perda de massa óssea.” Ela também explicou que se houver dúvidas em relação aos sintomas a dosagem do hormônio FSH pode confirmar o diagnóstico, uma vez que existem mulheres que só descobrem ao parar de menstruar.

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A médica Samira destacou que o tratamento da síndrome climatérica é feito de forma individualizada, levando em consideração as necessidades de cada mulher. “A terapia de reposição hormonal atua aliviando os sintomas, melhorando assim a qualidade de vida das pacientes. Além de garantir benefícios a longo prazo, como controle de perda óssea e osteoporose, prevenção de eventos cardiovasculares, diminuição na resistência insulínica e prevenção do diabetes.” Contudo, a ginecologista também explicou que orientações sobre hábitos alimentares, atividade física e aporte psicológico ajudam no auxílio do tratamento, principalmente para aquelas pacientes que não podem ou optam por não realizar a reposição.

Terapia de reposição hormonal na menopausa

Edvânia Araújo, de 54 anos, é uma das mulheres que estão passando pelo climatério e já sente sintomas como ondas de calor, inchaço, dores nas articulações e perda de massa óssea. No entanto, ela tem receio de iniciar a terapia de reposição por envolver hormônios. Por isso, resolveu aliviar os sintomas através do cuidado na alimentação e na prática de exercícios. Já Geísa Sereno optou por fazer a reposição hormonal logo no início dos sinais, para continuar com a qualidade de vida advinda da rotina de prática de esportes.

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Segundo a ginecologista Samira, a terapia de reposição deve ser avaliada individualmente, analisando os riscos e os benefícios de acordo com a história de cada paciente. Ela informou que existem algumas contraindicações para a reposição hormonal. A pessoa que já teve ou tem câncer de mama ou câncer de endométrio e sangramento vaginal, sem causa conhecida, não pode realizar a terapia. A médica ressaltou que não existe uma relação direta entre o uso de hormônios e o desenvolvimento desses dois tipos de câncer. Porém, as pacientes que já tiveram esses quadros não devem fazer reposição hormonal, porque alguns tipos de câncer são hormônio dependentes, e o uso do hormônio pode estimular células cancerígenas já existentes nessas mulheres.

Além disso, há contraindicação para as doenças coronariana (obstrução das artérias coronárias, que irrigam o coração), cerebrovascular, trombótica ou história de trombose prévia (formação de um coágulo sanguíneo em uma ou mais veias grandes das pernas e das coxas) e hepática descompensada. O tratamento também não é recomendado a quem tem porfiria (doença rara causada por um defeito na produção de enzimas da hemoglobina, responsável pelo transporte de oxigênio no sangue) e lúpus eritematoso sistêmico (doença inflamatória crônica causada quando o sistema imunológico ataca seus próprios tecidos).

Quando usada de forma adequada, a terapia hormonal traz benefícios para o bem-estar da mulher, como diminuição das ondas de calor, melhora dos quadros de irritabilidade e depressivos, melhora na qualidade do sono e auxílio na melhora da gordura corporal, dentre outros benefícios. “Em relação à parte sexual, muitas mulheres apresentam ressecamento vaginal e uma diminuição importante da libido no período climatérico, e a terapia hormonal age melhorando a lubrificação vaginal e auxiliando na melhora da libido, garantindo assim uma melhora na vida sexual das pacientes”, explica a médica.

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Projeto de lei de tratamento no SUS

Em fevereiro, a Comissão de Direitos Humanos (CDH) aprovou projeto de lei que prevê tratamento do climatério e da menopausa pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A proposta também institui a Semana Nacional de Conscientização para Mulheres na Menopausa ou em Climatério em março.

O PL 3.933/2023, de autoria do senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR), tem o objetivo de assegurar o tratamento integral à saúde previsto na Constituição às brasileiras em idade de climatério. Atualmente, a terapia hormonal, principal tratamento para amenizar os sintomas, não é oferecida no sistema público de saúde. Dessa forma, o projeto determina que caberá ao SUS, por meio de sua rede de unidades públicas ou conveniadas, prestar serviços de saúde específicos para mulheres na menopausa ou em climatério. Entre essas medidas, estão a disponibilidade de medicamentos hormonais e não hormonais; a realização de exames diagnósticos; a capacitação dos médicos; e o acompanhamento psicológico e multidisciplinar especializado das mulheres, desde o diagnóstico.

Segundo o Senado Federal, o texto foi aprovado pela relatora na comissão, a senadora Ivete da Silveira (MDB-SC), que ofereceu emenda de redação. Depois da CDH, o documento será analisado pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS), que dará o voto final.

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Alimentação e nutrição como aliados 

Para aliviar os sintomas do climatério, Edvânia Araújo buscou a ajuda de uma nutricionista e iniciou a academia com o auxílio de um personal, especialmente por causa do quadro de dores nas articulações. Ela contou que essa nova rotina mais saudável ajudou a manter sua qualidade de vida.

A nutricionista especializada em emagrecimento e menopausa Fernanda Mendonça explica que pequenas mudanças na alimentação podem ajudar no alívio de alguns sintomas. “Uma alimentação baseada em frutas, legumes, verduras, grãos integrais, ervas e especiarias pode fornecer fitoestrogênios e antioxidantes que ajudam a desinflamar o corpo e a equilibrar os hormônios. Também é importante aumentar o consumo de alimentos ricos em cálcio e vitamina D para manter a saúde óssea, além de incluir alimentos fonte de ômega 3 como os peixes de água fria.” Além disso, ela alertou que diminuir a ingestão de alimentos processados, cafeína e álcool pode minimizar os sintomas e contribuir para o controle do peso e da massa muscular.

Fernanda também destacou que, neste período, é importante procurar um nutricionista para receber orientações específicas, uma vez que os sintomas se diferenciam entre as mulheres. Ela também apontou que, muitas vezes, as pessoas não estão atentas para ouvir os sinais do corpo e acabam convivendo com o desconforto, acreditando que é normal. “O nutricionista poderá identificar deficiências nutricionais, ajudar no controle do peso e gerenciar os sintomas, promovendo uma transição mais tranquila e saudável para essa fase da menopausa.”

*Nathália Elis Fontes, estagiária sob supervisão da editora Fabíola Costa

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