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Conheça a febre Q, doença negligenciada que pode ser confundida com a dengue

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(Foto: Alexandre Dornellas/UFJF)

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Febre, calafrios, dor de cabeça, fadiga, mal-estar e tosse. São esses os primeiros sintomas frequentemente atribuídos a gripes ou até mesmo a dengue. Contudo, esses indícios também podem indicar uma zoonose mundial pouco divulgada: a febre Q. 

Essa doença é transmitida aos seres humanos principalmente pela inalação de partículas de poeira contaminadas por animais infectados, como ovelhas, cabras e gado. Apesar de sua seriedade, a doença ainda é pouco conhecida na prática médica, conforme revela uma pesquisa de pós-doutorado realizada pelo farmacêutico e doutor em saúde, Igor Rosa Meurer,  pelo Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). 

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Em entrevista à Tribuna, o especialista explica que a febre Q pode ser classificada em aguda e crônica. “Na fase aguda da doença, os pacientes geralmente apresentam sintomas parecidos com os da dengue e da influenza, como febre, dor de cabeça, dores no corpo, fadiga, dentre outros. Já na fase crônica, os pacientes podem desenvolver problemas mais graves como endocardite, osteomielite e infecções vasculares, podendo o paciente ir a óbito.  Além disso, a febre Q tem sido relacionada à síndrome da fadiga crônica”, explica.

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Em Minas, 20 municípios entre os 126 que fizeram parte da pesquisa, tiveram pelo menos um paciente com exposição prévia ao patógeno causador da doença, sendo eles: Arcos; Belo Horizonte; Belo Vale; Brumadinho; Campos Gerais; Cristina; Divinópolis; Igarapé; Lima Duarte; Mariana; Oliveira; Pedro Leopoldo; Rio Piracicaba; Sabará; Santa Bárbara; Santana do Deserto; São José da Barra; Sarzedo; Três Corações; e, Varginha.

Prevenção e diagnóstico

Igor também ressalta que a prevenção em humanos é realizada seguindo regras de higiene pessoal durante o contato com animais e de higienização dos espaços em que estão abrigados. “A vacinação em rebanhos de animais tem sido utilizada em alguns países, e tem tido ótimos resultados no controle da febre Q.  Reduzindo a doença nos animais, é possível reduzir a contaminação ambiental e, consequentemente, o risco de transmissão ao ser humano”, diz o pesquisador.

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Já o diagnóstico é feito por meio de métodos sorológicos, que têm a finalidade de detectar anticorpos e, em alguns casos, componentes antigênicos. Quanto ao tratamento, existem algumas estratégias, sendo a mais importante a utilização de medicamentos.

90% dos médicos desconhecem a febre Q

Durante sua pesquisa, o farmacêutico revelou que mais de 90% dos médicos desconhecem a febre Q, “uma doença infecciosa negligenciada”. A investigação, que entrevistou 254 médicos de hospitais, consultórios e Unidades Básicas de Saúde, mostrou que 236 profissionais, 92,9%, não tinham conhecimento da doença, e 228, 89,7%, estavam desinformados sobre aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais.

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Dos 26 médicos que afirmaram ter algum entendimento sobre a febre Q, apenas três conseguiram responder corretamente mais de 50% das perguntas em um questionário estruturado com 25 questões. O estudo destaca a necessidade urgente de melhorar a formação e conscientização sobre doenças negligenciadas entre os profissionais de saúde, integrando as abordagens de saúde humana, animal e ambiental.

Por fim, o especialista destaca que é fundamental aumentar a divulgação e a conscientização sobre a febre Q no Brasil. “Órgãos competentes, profissionais de saúde e a população devem unir esforços para implementar medidas de investigação, monitoramento, controle e prevenção dessa doença, que ainda é negligenciada e subnotificada no país. A colaboração de todos é essencial para enfrentar esse desafio de saúde pública”, conclui o especialista.

*sob supervisão da editora Júlia Pessôa

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