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Impressão 3D revoluciona pré-natal para gestantes com deficiência visual

Impressao 3D de bebes Foto Divulgacao DASA
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A tecnologia de impressão 3D de fetos tem transformado a experiência de pessoas com deficiência visual, sobretudo gestantes. Para as mães, a possibilidade de acompanhar o desenvolvimento do bebê por meio do toque em modelos impressos contribui para aprofundar a conexão durante a gestação.

O projeto é resultado de pesquisas do Biodesign Lab, um laboratório de inovação fruto da parceria entre a Dasa e a PUC-Rio, e tem a finalidade de obter imagens médicas de forma não invasiva e reproduzi-las tridimensionalmente por meio de impressoras 3D, trazendo benefícios à Medicina Fetal e outras aplicações clínicas.

O trabalho, iniciado em 2007, já dura quase 20 anos e começou com a reconstrução 3D de imagens de ultrassonografia e ressonância magnética para escolas de medicina, ajudando alunos a entender patologias complexas. Com o tempo, o projeto passou a oferecer possibilidades de inclusão para gestantes com deficiência visual, auxiliando no pré-natal. 

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“Quando eu realizava exames em pacientes com deficiência visual, elas ouviam o coração do bebê, e eu explicava, mas não tinham como vê-lo no monitor. Foi aí que pensamos que esse tipo de trabalho poderia ajudar no entendimento do pré-natal. O primeiro caso foi em 2011, já faz mais de 10 anos, e, desde então, tem funcionado muito bem. Criamos esse projeto para atender pacientes em todo o Brasil, sendo totalmente gratuito, para auxiliar no pré-natal”, destaca o médico ginecologista, obstetra e especialista em Medicina Fetal da CDPI e Alta Diagnósticos,  Heron Werner.

Para a advogada juiz-forana, Maria Villena de Souza Ferreira, 41 anos, grávida de 32 semanas, conhecer os detalhes dos gêmeos Fernando e Gabriela por meio da impressão 3D foi uma experiência emocionante. “Senti que pude realmente conhecer o rostinho deles, antes mesmo do nascimento. É incrível poder tocar e imaginar cada detalhe”, compartilha.

Ela lembra que, no início da gestação, essa possibilidade nem passava por sua cabeça. “Nos primeiros ultrassons, eu me conformava e tentava absorver o máximo de informações que os médicos me passavam. Sempre perguntava, pedia descrições detalhadas, queria saber tudo. O médico falava, e a gente tentava imaginar”, relata.

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No entanto, a experiência de sentir e tocar a imagem dos filhos superou as expectativas. “Eu já sabia do projeto, mas, quando vi de perto e pude tocar, percebi que era muito diferente do que eu imaginava – maiores, mais formados -, e nada do que eu havia pensado se comparava à realidade”, narra emocionada.

(Foto: Arquivo Pessoal)

Exames básicos são requisitos

O ultrassom e a ressonância magnética são considerados exames fundamentais no acompanhamento da gestação, cada uma com suas particularidades e benefícios para a saúde da mãe e do bebê. Enquanto o ultrassom é mais utilizado nas primeiras fases da gravidez, a ressonância é indicada para um acompanhamento mais detalhado, especialmente em gestantes com condições específicas ou com múltiplos bebês.

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“O ultrassom capta o movimento do bebê até, mais ou menos, 15, 16 semanas. Até essa idade gestacional, consigo fazer um 3D do corpinho inteiro. Com a ressonância, por sua vez, consigo realizar até o final da gravidez. Se for um bebê grande, se forem dois ou três bebês, sempre conseguimos captá-los por completo. Essa é a vantagem da ressonância nesse contexto”, acrescenta Werner.

Ele explica que o tempo de impressão varia de acordo com o tamanho do modelo e o material utilizado, podendo levar de três a 24 horas. A tecnologia também tem sido usada para fins acadêmicos, auxiliando estudantes de medicina no entendimento de patologias complexas. Além disso, em situações de gestações de risco, a impressão 3D permite a análise detalhada de condições congênitas e o planejamento de cirurgias.

Contribuição em cirurgias 

Além de auxiliar na inclusão de pais com deficiência visual, a impressão 3D de fetos tem sido utilizada no planejamento de cirurgias pós-natais. Com os modelos tridimensionais, é possível realizar discussões multidisciplinares que contribuem para o tratamento de malformações congênitas e outros desafios médicos.

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O impacto da tecnologia também se estende à educação médica e ao planejamento de cirurgias. A equipe do Biodesign Lab já utilizou a impressão 3D para auxiliar na separação de bebês siameses unidos pela cabeça, bem como na impressão de corações com patologias cardíacas, contribuindo para um melhor entendimento das condições por parte dos pais e da equipe médica.

Uso de tecnologias contribui para acessibilidade

A frase “para pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis” continua mais atual do que nunca. No Brasil, onde mais de 17 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, as tecnologias assistivas contribuem para a acessibilidade e a inclusão. 

A tecnologia assistiva engloba um conjunto de recursos e serviços criados para proporcionar mais acessibilidade e autonomia para pessoas com deficiência. Seu principal objetivo é garantir que essa parcela da população tenha igualdade de oportunidades na sociedade, podendo realizar suas atividades diárias de maneira independente e equitativa.

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Esses recursos podem se apresentar tanto na forma de softwares e equipamentos tecnológicos, quanto em serviços voltados para a educação, saúde e design. A ideia central é ampliar as habilidades das pessoas com deficiência, tornando o mundo mais acessível para todos.

Na avaliação da gestante Maria Villena, além de permitir o toque nos filhos, a tecnologia ajuda a viver a maternidade de forma plena, facilitando até a compra do enxoval. “Uso muitas tecnologias acessíveis no meu dia a dia, cada uma com sua importância e função. Aplicativos de Inteligência Artificial, por exemplo, me ajudam a descrever imagens, mas cabe a mim imaginá-las, o que amplia meu acesso à informação. Tenho utilizado esses recursos para montar o enxoval dos meus bebês, comprando itens on-line e presencialmente, tirando fotos para obter mais detalhes. Muitas vezes, a Inteligência Artificial fornece mais informações do que um ser humano poderia descrever.”

No Brasil, o termo “tecnologia assistiva” foi introduzido oficialmente apenas em 2016, no Comitê de Ajudas Técnicas (CAT). A legislação estabeleceu a obrigatoriedade de sua aplicação em empresas e instituições de ensino como instrumento de inclusão social. Embora o CAT não exista mais, a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) continua garantindo os direitos das pessoas com deficiência, assegurando acessibilidade tanto em espaços físicos, quanto digitais.

*estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli

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