A verdadeira casa de vó. Uma máquina de costura, uma vitrola bem grande, um fogão a lenha, um rádio também grande, um pote lotado de pirulito, um altar lotado de santo. A maioria dos objetos, é verdade, não funciona mais: fica ali naquela casa para fazer a decoração. Mas, ao mesmo tempo, remetem a um tempo que, com certeza, tudo tinha muita funcionalidade. A máquina preparava as roupas da família toda, enquanto o rádio ecoava as músicas da época e, no fogão, a comida mais mineira saia, exalando o cheiro pela casa toda. É esse tempo que Lucrecia Visona tenta eternizar, de certa forma, em sua casa e nas coisas que prepara. “Porque a casa de vó remete ao melhor tempo. Tudo de bom que a gente teve, as memórias, o cheiro da casa.”
Ela deu uma sorte grande: conviveu com pessoas que tinham o hábito de preparar, em casa, aqueles doces e quitutes que ela chama “de roça”, de broa a doce de abóbora. Seguindo essa tradição, ela realmente fazia, em casa, alguns bolos para seus filhos e viu a demanda de pedidos por esses eles crescer. Foi quando ela decidiu criar a Casa de Vó: vender comidas, principalmente bolos, carregados de memória afetiva com base nas receitas de sua tia, quem melhor os fazia. O nome, claro, não poderia ser outro: é ele quem melhor representa seu intuito com o negócio, que é resgatar exatamente aquele tempo que ela considera ter sido o melhor de sua vida. E, além disso, fazer com que outras pessoas possam colecionar novas memórias afetivas a partir de seu preparo.
E tudo é bem mineiro. Um de seus bolos mais pedidos é o de pamonha. Ela já tinha vontade de vender a pamonha mas, para ela, não fazia sentido apenas as trouxas. Pensou, então, em um bolo que tivesse a base da receita de pamonha, mas incorporado com outros ingredientes. Foi preciso muita pesquisa para chegar no ponto certo. Entre erros e acertos, Lucrecia encontrou a medida certa do bolo. Fez ainda uma versão doce e outra salgada. E, mesmo com o recheio, faz jus à sua ideia de, ao experimentar, ser carregado, imediatamente, aos lugares mais afetuosos da memória, na casa de vó.
O Casa de Vó é uma forma, ao mesmo tempo, de fazer com que ela mesma seja carregada até essas próprias histórias. Ao experimentar, fazendo as adaptações que o tempo de hoje exige, Lucrecia ajusta cada detalhe para que seja o mais próximo de sua experiência. E isso independente da receita, se doce ou salgada. Neste Receita de Família, ela deu a opção das duas receitas de seu bolo de pamonha. Para o recheio e cobertura, ela diz que vai, mesmo, do gosto de quem vai fazer. Para dar certo, ela sugere seguir a risca o passo a passo. Não vale, por exemplo, comprar o milho de lata, e ele precisa ser ralado (nada de bater). Talvez o mais trabalhoso seja o preparo das palhas que envolvem o bolo. Mas, pelo resultado, vale a pena, ainda mais nessa época – quase acabando – de festejos julinos. E, para encomendar, basta entrar em contato pelo Instagram (@casadevojf), com antecedência.
Bolo de pamonha salgado
Por Lucrecia Visona
Ingredientes
5 espigas de milho (aproximadamente 450 gramas)
240 gramas de ovos
100 gramas de manteiga
100 ml de leite integral
100 gramas de queijo canastra ralado grosso
60 gramas de fubá de canjica
10 gramas de fermento
Modo de preparo
Descasque as espigas, corte as pontinhas e retire os cabelinhos. Reserve. Em uma panela, ferva água, coloque as palhas e deixe por aproximadamente 10 minutos. Escorra e coloque para secar individualmente. Rale as espigas (ralador fino) e reserve. Em uma tigela, acrescente os ovos e manteiga e bata bem com o fouet. Acrescente o leite, o milho ralado e misture. Acrescente o fubá de canjica, o queijo e por último o fermento. Em uma forma furo central untada, disponha as palhas. Verta a massa e leve para assar em forno médio pré-aquecido a 180 graus, por aproximadamente 45 minutos. Pode rechear com carne seca, carne de panela, queijo minas, requeijão, entre outros.
Bolo de pamonha doce de milho verde
Por Lucrecia Visona
Ingredientes
7 a 8 espigas de milho verde (aproximadamente 700 gramas)
240 gramas de ovos (preferência gema vermelha)
100 gramas de manteiga sem sal em ponto de pomada
100 ml de leite coco (boa qualidade)
1 e 1/2 xícara de açúcar refinado
150 gramas de queijo da canastra (ralado grosso)
10 gramas de fermento
Modo de preparo
Descasque as espigas de milho. Corte as pontinhas e retire os cabelinhos. Reserve. Em uma panela, ferva água, coloque as palhas e deixe por aproximadamente 10 minutos. Escorra e coloque para secar individualmente. Rale as espigas (ralador fino) e reserve. Em uma tigela, acrescente os ovos e a manteiga. Com ajuda de um fouet, misture bem. Acrescente o leite de coco e misture um pouco mais. Acrescente o milho ralado e o queijo, misturando sem parar e, por último, o fermento. Em uma forma de furo no meio untada, disponha as palhas, verta a massa e leve para assar em forno médio pré-aquecido a 180 graus, até dourar, aproximadamente 45 minutos.
Pode rechear com pedaços de goiabada cascão, doce de leite, queijo de minas, requeijão, entre outros.