Há quem condene o pão, tornando-o um alimento “do mal” (como se tal conceito existisse) e chegando a excluí-lo completamente da dieta, buscando padrões de beleza irreais e injustos. Mas uma alimentação equilibrada e, de fato saudável, não é proibitiva, e a gente que ama pão (e comer bem, em geral) folga em saber que seu consumo, além de uma delícia, também faz bem, sobretudo em versões caseiras como a da Receita de Família deste domingo. “Como nutricionista, gosto de destacar que um pão caseiro é livre de conservantes, melhoradores de farinha e produtos químicos. Além disso, esse é um pão de batata de verdade, e não de fécula de batata, coisa rara hoje em dia. O sabor é outro, e a qualidade nutricional, também”, aponta Gabriela Gomes de Paiva, para quem os atributos do pãozinho vão muito além dos valores nutricionais e do paladar.
A receita remete às suas espiadelas na cozinha enquanto sua avó Jane fazia o passo a passo, diariamente. “Durante muitos anos ela fez o pão para vender no restaurante em que meu avô trabalhava e complementar a renda da família. Cresci vendo a rotina de produção do pãozinho e sempre tinha um extra pra gente tomar café. Ele é mais que uma receita gostosa que minha vó faz pra gente, ele foi fonte de sustento de sete filhos e é um representante da mulher forte e à frente do tempo que minha vó é”, derrete-se a neta, feito manteiga que se derrete sobre o pãozinho fresco e macio ao sair do forno. “Mesmo depois de se aposentar e parar de vender o pão, minha vó sempre faz pra gente, ele continuou fazendo parte dos lanches na casa dela. Quando falta pão de batata, a gente fica chateado!” (risos)
De tanto ficar de butuca na cozinha, Gabriela acabou se encantando por cozinhar e por alimentação em geral, e, movida pela tradição dos quitutes familiares, acabou se tornando nutricionista. “Sou apaixonada por comida, desde nova eu seguia minha vó na cozinha, querendo aprender a fazer as coisas. Sempre tive um ligação muito forte com a minha bisavó e com a minha vó, e pra mim não tem nada igual à comida, aos bolos e biscoitos delas. Acho que aprender essas receitas é valorizar nossa cultura, nossa origem. Quando eu fui fazer faculdade fora, minha maior saudade eram as refeições caseiras, e aí corri atrás de aprender cada vez mais. Na nutrição, aprendi a valorizar ainda mais o fato de preparar minha própria comida”, observa ela, que, seguindo os passos da avó, também descola um extra com a produção dos pães, que podem ser comprados no Espaço Brûlèe (Avenida Barão do Rio Branco 2872, loja 6, São Mateus). “Os costumes na minha família me influenciaram muito, sempre nos reunimos para cozinhar e comer juntos. Hoje em dia, trabalhando em uma escola de gastronomia, tenho aprendido muitos outros aspectos da gastronomia, além desse lado da tradição familiar”, completa ela, que atua no Instituto de Gastronomia das Américas (IGA).
Além de ter o trunfo incontestável de ser “comida de verdade”, o pãozinho também é bem versátil e pode ser feito com diferentes bases, como explica Gabriela. “Com as mesmas proporções dá pra fazer o pão usando inhame, batata doce e mandioca, todos ficam deliciosos. O de inhame é meu favorito e o que fica mais fofinho! Além disso, a banha de porco pode ser trocada por manteiga e por gordura de coco, mesma proporção e mesmo processo, mas eu sinceramente acho a banha essencial pra ter o sabor tradicional”, orienta a nutricionista, que dá outras orientações importantes. “Não pode esquentar muito o leite para não ‘matar’ o fermento. A dica é colocar o dedo e contar 10 segundos. Esperar a banha esfriar também é importante, eu costumo derreter e pesar a banha antes de tudo para ela ir esfriando enquanto preparo o resto. Respeitar o tempo de crescimento da massa é essencial, porque senão o pão não cresce direito, fica duro e compacto”, pontua ela, garantindo o sucesso da receita. “Para mim, tem sabor de infância e amor de vó. Mas, falando sério, ele é um pão leve, saboroso e que combina com tudo: recheio doce, recheio salgado, manteiga, queijo… e para quem já comeu pão na roça, sabe que é difícil encontrar esse gostinho, é bem único.”
Pão de batata
por Gabriela Gomes de Paiva
Ingredientes:
1kg de batata inglesa
1kg de farinha de trigo
1 xícara de chá de açúcar cristal
1 colher de sopa rasa de sal
3 ovos
1/4 de xícara de chá de leite integral
1/4 de xícara de chá de banha de porco
10g de fermento biológico seco (1 envelope)
Modo de preparo:
Cozinhe as batatas inteiras na panela de pressão com um pouco de água por 15 minutos. Descasque as batatas e passe pelo espremedor. Em uma tigela grande, coloque as batatas e abra um buraco no meio. Acrescente a farinha de trigo e abra um buraco. No meio do “vulcãozinho”, acrescente o sal, o açúcar e os ovos bem batidos. Amorne o leite, dissolva o fermento e coloque na massa.
É preciso derreter a banha antes de medir a quantidade. Enquanto ela esfria um pouco, porque não podemos colocá-la muito quente na massa, unte os tabuleiros com a própria banha ou manteiga se preferir. Misture os ingredientes e sove a massa. Atenção: esse pãozinho não precisa de muita sova. Deixe descansar por 20 minutos.
Enrole bolas médias, a receita rende 30 pães. Cubra com um paninho para não ressecar e deixe crescer até dobrar de tamanho. O tempo para crescer depende do clima, em dias mais quentes eles crescem mais rápido. Preaqueça o forno e asse por 30 minutos em fogo alto. O tempo depende da potência do seu forno. Dica: Se gostar, pode fazer recheado, a gente faz com com queijo, frango com requeijão e presunto e muçarela, todos combinam muito bem com a base.