Coluna de Respeito
1998. O Concurso Miss Brasil Gay, em sua 21ª edição, já mobilizava o trade turístico LGBT de Juiz de Fora e, mesmo contra a resistência dos conservadores, passava a ser reconhecido como o maior evento turístico do município. O Calçadão da Rua Halfeld fervia de drag queens e atrevimentos, prenunciando o que viria a ser o concurso à noite, no Sport Club. A pequena cena gay da cidade invadia os noticiários, construía tradições e trazia à tona o debate sobre o acolhimento da “Manchester Mineira” aos homossexuais de todo o país.
Enquanto a diversão era a tônica do final de semana na cidade, o mundo assistia atônito ao avanço da aids, questionava a homofobia e intensificava o debate em torno dos direitos LGBT. Naquele ano, porém, num palanque e uma barraquinha no Calçadão, um grupo de gays obstruía o footing, aplicava um pequeno questionário e distribuía preservativos e folhetos com dicas de prevenção. Por ali passaram e deixaram seu testemunho figuras históricas da cena gay brasileira, montadas e desmontadas, com uma abordagem nova naquelas plagas, onde temas como direitos dos gays, casamento entre pessoas do mesmo sexo, prevenção à aids como política pública, começaram a ser ouvidos num ambiente onde predominavam as conversas sobre os vestidos, as candidatas, as maquiagens e, claro, os bofes!
Ali nascia o Rainbow Fest, evento que foi a semente do MGM, o Movimento Gay de Minas, que viria a ser uma das mais respeitadas organizações sociais de defesa e promoção da cidadania LGBTQI+ do Brasil, cuja metodologia de mobilização e atenção à comunidade tornou-se um modelo de sucesso difundido em todo o país.
Em maio de 2000, a Câmara Municipal votou e aprovou o projeto de lei que incluiu na Lei Orgânica Municipal, o respeito ao amor entre pessoas do mesmo sexo, com destaque para o seu direito a manifestações de afeto em público. O projeto, construído pelo MGM e o gabinete do vereador Paulo Rogério, ganhou as páginas dos jornais com ares de pornografia e libertinagem e, com o tempo, o temor de que a cidade se tornasse uma Sodoma ou Gomorra, se transformou no reconhecimento da “Lei Rosa” como uma importante ferramenta para que ela fosse conhecida como pioneira na garantia dos direitos de seus cidadãos, independentemente de suas diferenças.
Além do Rainbow Fest, as ações do MGM se estendiam durante todo o ano em torno de um Centro de Convivência onde aconteciam palestras semanais, eventos culturais e prestação de serviços de assistência jurídica, psicológica e social, através de estudantes e profissionais voluntários. Centenas de cidadãos LGBTQI+, jovens ou não, de todas as raças, sexos, identidades de gênero, além de pais e mães se beneficiaram dos serviços gratuitos prestados pela ONG.
Paralelamente, o MGM ampliava suas ações e criava o primeiro Ponto de Cultura LGBT do Brasil, o Ponto G de Cultura, com atividades de teatro, dança, inclusão digital e a inusitada e original primeira escola de drag queens do Brasil, que supria a cena gay de Juiz de Fora e região com artistas do gênero.
Os resultados do trabalho do MGM passaram a ser vistos para além dos horizontes de Minas e, durante mais de dez anos, a ONG representou os LGBTQI+ do Estado em importantes instâncias nacionais e internacionais de defesa de direitos e, principalmente, nas questões relativas à aids e à redução das vulnerabilidades dos homens que fazem sexo com homens.
Em agosto de 2019, apesar dos avanços de um movimento conservador que questiona os nossos direitos conquistados, o MGM organizará mais uma vez o Rainbow Fest Brasil, em sua 21ª edição, dessa vez de volta ao Parque Halfeld, onde nasceu. Apesar de todas as tentativas de prejudicar sua realização, o evento de 2019 se anuncia um sucesso. O tema escolhido lembra e faz um paralelo com o levante de Stonewall – marco da luta do movimento LGBT moderno, que aconteceu em Nova Iorque, há 50 anos – e a posição do Rainbow Fest, do MGM e dos gays de Juiz de Fora: #resistiremos!
Data: 17 de agosto
Local: Terrazzo · Juiz de Fora
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