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Novembro azul: urologista esclarece dúvidas sobre câncer de próstata

urologista novembro azul foto reproducao transamerica
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A campanha Novembro Azul foi tema do quadro “Pergunte ao Doutor”, da Rádio Transamérica Juiz de Fora, oferecido pelo Hospital Monte Sinai e pela clínica ReumatoCenter, na última segunda-feira (25). Em conversa com o jornalista Paulo César Magella, o Dr. Sérgio Souza, médico especialista em tratamentos urológicos minimamente invasivos, esclareceu dúvidas sobre o câncer de próstata e alertou a população a respeito da importância da prevenção e do diagnóstico precoce. 

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De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), depois do câncer de pele, o câncer de próstata é o mais comum entre os homens no Brasil. O principal fator de risco é a idade, já que cerca de 6 a cada 10 casos diagnosticados são em homens com mais de 65 anos. Por isso, conforme evidencia o especialista, o assunto precisa ser cada vez mais debatido para dar fim a certos tabus e evitar que pacientes cheguem em um estágio mais avançado da doença. Confira a entrevista completa abaixo: 

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Transámerica: Por que o câncer de próstata é considerado tão prevalente entre os homens? 

Dr. Sérgio Souza: Ele é o segundo mais frequente na população masculina, perdendo apenas para os cânceres de pele. Então, realmente, todo mundo tem algum familiar, algum vizinho ou algum conhecido, que vai enfrentar isso ao longo da vida. Não estou dizendo que todos esses cânceres serão agressivos ou esses pacientes irão falecer desses tumores, não. O câncer de próstata é uma doença muito heterogênea, tem doenças mais agressivas e menos agressivas, mas ele realmente é muito prevalente. Tem um estudo a partir de biópsias nas próstatas de pacientes falecidos por outros motivos, que mostra idosos, de 90 anos, com quase 80% de alguma alteração neoplásica mais ou menos agressiva na próstata. Ou seja, o câncer de próstata é realmente muito prevalente. 

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Transamérica: Então, existe aquele paciente que morre de câncer, mas existe aquele que morre com câncer, mas não necessariamente por isso? 

Dr. Sérgio Souza: Exatamente. Esse tópico é muito importante. Claro, é um diagnóstico oncológico. Tem paciente que chega muito preocupado, muito ansioso, naturalmente, no nosso consultório e, às vezes, quando você vai passar um pente fino na doença que o paciente tem, observa que talvez não seja necessário um tratamento agressivo nesse momento. Às vezes, é uma doença mais indolente, de evolução mais lenta. O que precisamos entender é sobre a importância do diagnóstico, por isso a campanha do Novembro Azul. Após esse diagnóstico, será analisado o que deve ser feito: se for mais agressivo, irá precisar de um tratamento cirúrgico, um tratamento radioterápico, ou menos agressivo, que poderia ser, inclusive, monitorado no momento. 

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Transamérica: Então, não é preciso esperar os sintomas, porque pode acontecer até casos assintomáticos, para poder fazer o exame? É uma questão que você tem que fazer com frequência, pelo menos uma vez por ano, seria isso? 

Dr. Sérgio Souza: A rotina é anual. É recomendado pelo menos uma vez por ano fazer o toque retal e o exame PSA (Antígeno Prostático Específico). O toque é meio questionado, tem muito homem que foge do toque, mas são exames baratos, pouco incômodos e efetivos. Uma vez por ano, todo homem a partir dos 50 anos deve estar em contato com o urologista, e a partir dos 45, para quem tem fator de risco, é o mais indicado. 

Transamérica: Quais são os principais fatores de risco? 

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Dr. Sérgio Souza: Os principais fatores clássicos são: história familiar positiva, principalmente na parte paterna, ou seja, histórico de pais, tios, irmãos, primos que já tiveram; raça negra; tabagismo e obesidade.  Existem alguns que são os cânceres de próstata hereditários verdadeiramente, que têm mutações genéticas, mas esses são representados por cerca de 10% apenas, não é a maioria. No entanto, a maior parte que tem fator de risco é, como falamos, história familiar positiva, obesidade, tabagismo e raça negra. Pessoas desse grupo precisam começar a investigar o câncer um pouco mais cedo, aos 45. 

Transamérica: Quais são os sintomas? 

Dr. Sérgio Souza: Não dá para esperar sintoma do câncer para procurar o médico. Isso é muito, muito importante. A próstata é uma glândula que fica logo abaixo da bexiga, próxima ao reto, por isso é feito o exame de toque através da via transretal, mas ela é um órgão mais do sistema geniturinário. Não dá para esperar sintoma para procurar o médico, porque o câncer acontece principalmente na zona periférica da próstata e o canal da uretra é mais central. A próstata pode causar problemas e sintomas no homem? Sim, mas geralmente o que causa sintoma é o crescimento benigno ou outras doenças prostáticas, que não o câncer. O câncer altera o PSA, altera o toque ou não causa nada. 

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Transamérica: Então, a pessoa com alguns problemas de micção não necessariamente está com câncer de próstata? 

Dr. Sérgio Souza: Os sintomas da pessoa que tem problemas de micção, como jato fraco, dificuldade urinária, acorda várias vezes à noite pra fazer xí, raramente se deve ao câncer. Inclusive, quando nos raros casos em que esses sintomas são decorrentes de câncer, são cânceres já avançados. Felizmente, hoje em dia, na era pós-PSA, principalmente com a conscientização masculina, o paciente com esse grau de sintoma tem aparecido bem menos no consultório. Aparecem casos em fases mais precoces. 

Transamérica: Os tratamentos adotados hoje estão bem avançados? 

Dr. Sérgio Souza: Sim, com certeza. Não tem como falarmos de câncer de próstata hoje sem falarmos sobre a nova geração de tratamentos. Basicamente, o paciente após o diagnóstico de câncer de próstata tem três caminhos possíveis: a vigilância ativa, que é o acompanhamento do tumor, sem necessariamente realizar um tratamento, essa opção é apenas para casos de baixa agressividade, ou seja, tumores pequenos, iniciais; a cirurgia ou a radioterapia. Felizmente, hoje em dia, tanto a rádio, que é uma opção razoável, quanto a cirurgia, tem alguns avanços tecnológicos que são muito vantajosos para os pacientes. 

Transamérica: O que é a cirurgia robótica? 

Dr. Sérgio Souza: Não tem como falar de câncer de próstata sem falar de cirurgia robótica. Essa é a menina dos olhos para nós cirurgiões, porque vemos que isso repercute de forma direta no resultado do paciente. E agora tem robô na cidade. Antes os pacientes precisavam ir para Belo Horizonte, São Paulo ou Rio de Janeiro para fazer esse procedimento. Agora não, ele é feito aqui em Juiz de Fora. É uma vantagem enorme para os pacientes, porque ele recupera muito mais rápido. É uma cirurgia que tem um grau de delicadeza na mobilização dos tecidos, preservação da função sexual, da função urinária. Não tem como falar de câncer de próstata e não pensar em impotência, né? Esse papo é sério. A cirurgia do câncer de próstata pode ter repercussões na saúde urinária e na saúde sexual masculina. A função sexual masculina é mais complexa do que apenas uma cirurgia. Claro que essa cirurgia pode piorar um pouco, mas o que conseguimos em termos de delicadeza, de preservação dos nervos que causam ereção, na cirurgia robótica é uma grande vantagem. Sempre que possível, nós favorecemos ao paciente essa via de acesso à próstata. 

Transamérica: Novembro Azul é um mês de referência para o combate ao enfrentamento ao câncer de próstata, mas esse é um trabalho anual, né? Qual mensagem você gostaria de deixar, Dr. Sérgio? 

Dr. Sérgio Souza: Sim. O mês de novembro está acabando, mas não é só novembro que é azul. Eu brinco com os pacientes que o ano inteiro tem que ser azul. Do mesmo jeito que você tem que cuidar da sua saúde cardiológica a partir de uma certa idade, a mulher tem que estar sempre no ginecologista, o homem também tem que ter um contato mais próximo com o urologista. Porque o homem não é só a próstata. Tem muitas questões relacionadas ao envelhecimento masculino que precisam ser cuidadas. As mulheres são mais cuidadosas com a saúde, mas eu tenho visto que esse tabu masulino tem se quebrado um pouco, está mudando, os homens estão se conscientizando mais. Ao longo do ano, tem paciente que fala: “ah, doutor, não deu pra vir em novembro, mas tamo aí, vamos ver, temos uma saúde toda pra cuidar”. O que nós queremos é gerenciar o envelhecimento desse homem, além de apenas dosar um PSA e fazer um toque retal. Eu quero cuidar da saúde sexual desse paciente. Nós temos muito mais coisas para ver do que apenas um toque e um PSA. 

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