
Conduzir um ônibus todos os dias no trânsito de Juiz de Fora não é uma tarefa fácil. Ruas estreitas e movimentadas, condutores de veículos e motos apressados e pedestres desatentos formam uma combinação perigosa para a segurança de todos. “A cidade tem hoje um volume muito grande de ônibus e automóveis, mas o trânsito é o mesmo de 40 anos atrás. O espaço é o mesmo, mas a população aumentou demais”, ressalta o inspetor de tráfego da Ansal, José Aparecido Nascimento Rocha. Ex-motorista e ex-instrutor de autoescola, ele agora ajuda profissionais da empresa a conduzir os ônibus com mais segurança.
“Dirigir ônibus é uma atividade desgastante. Por isso, é importante participar de cursos de reciclagens e treinamentos, além de trabalhar a parte psicológica para absorver bem as situações estressantes enfrentadas no dia a dia da profissão, tanto na condução do veículo quanto no trato com o passageiro. Conduzimos pessoas com diferentes personalidades e é preciso saber lidar bem com situações adversas”, atesta o inspetor, que embarca todos os dias em uma determina linha da Ansal para analisar a conduta do motorista. “Avalio se a forma de condução dele está correta, dentro daquilo que a empresa traçou como padrão, e toda questão relacionada à segurança no trânsito, como cumprimento das regras, direção defensiva e atenção ao pedestre. Quando necessário, corrigimos o que precisa ser corrigido”, garante ele.
Há programação para que todos os motoristas da Ansal passem por esta avaliação três vezes por ano. A fiscalização, que José Aparecido divide com outro inspetor, busca manter a segurança de seus funcionários e passageiros. “Não existe sucesso, tampouco bons resultados numa empresa de transporte sem falar de segurança. Buscamos cada vez mais levar reflexões para nossos funcionários e usuários, pois acompanhamos as estatísticas e sabemos que infrações e/ou falhas operacionais podem ser fatais”, afirma o gerente geral da Ansal, Rodrigo Reis.
Foco na prevenção
Ações educativas sempre foram prioridade para a empresa, que, todo ano, apoia e participa de campanhas preventivas de temas importantes. Este mês, a Ansal está empenhada nas ações do Maio Amarelo, período dedicado à conscientização sobre a segurança no trânsito. Um ônibus plotado circula todos os dias pela Rio Branco com a mensagem da campanha deste ano: “No trânsito, o sentido é a vida”.
Paralelamente, uma equipe da empresa tem visitado o Ponto de Apoio (PA), no Bairro Manoel Honório, para distribuir o laço amarelo, simbolo da campanha, e conversar com os motoristas. “Criamos um varal para que os nossos motoristas coloquem fotos de suas famílias, enfatizando a importância de conduzir com segurança e ‘lembrá-los’ de quem os espera em casa após a jornada. Sugerimos que ele escreva uma frase sobre como melhorar a segurança no trânsito. Representantes da Comissão Municipal de Segurança e Educação no Trânsito (Comset) vão escolher uma delas. O vencedor vai ganhar entradas para o cinema”, informa o responsável pela Ouvidoria da Ansal, Rafael Raniele Alves.
Envolver os profissionais do volante é essencial para o sucesso da campanha. Por isso, representantes da Comset têm conversado com os motoristas para ouvir os fatos vivenciados por eles, como, por exemplo, a relação difícil com os motociclistas. “O ônibus é um veículo grande, sendo difícil ter o controle de todo o seu entorno. Muitas vezes, o motociclista age com imprudência e realiza manobras arriscadas em ‘pontos cegos’ para o motorista do ônibus”, esclarece Rafael.
Para Aparecido, o Maio Amarelo é importante instrumento de conscientização. “Existem corredores de tráfego que são verdadeiras armadilhas para o pedestre, como o trecho da Avenida Rio Branco entre a Avenida Itamar Franco e a Rua Benjamim Constant, no Centro. A velocidade na pista exclusiva para os ônibus é de 25km, já nas laterais, os carros podem andar a 40km. Isso influencia diretamente na segurança dos pedestres.” O inspetor ressalta o acesso, pela Rio Branco, à Rua Afonso Pinto da Mota como o mais crítico. “A sinalização confunde muito. É preciso redobrar a atenção.”
Celular: o grande vilão
Motorista da Ansal há três anos, Onésio Ribeiro de Azevedo, atualmente na linha Cidade do Sol/São Mateus, aponta o celular como o principal culpado por provocar acidentes nas ruas da cidade. A cada parada no sinal, segundo ele, os motoristas de veículos particulares aproveitam para usar o aparelho. “A gente que trabalha no ônibus, que é um veículo alto, consegue ver perfeitamente o motorista acessando a internet pelo celular. O sinal abre, e você conta até cinco. Ele não arranca, e você, atrás, tem que buzinar para avisá-lo que o sinal abriu. Apesar da lei proibir o uso de celular no volante, muita gente continua a usar.”
Mário Jorge Rodrigues da Cruz, que faz a linha Graminha/Manoel Honório, acredita que 90% dos motoristas particulares dirigem com os olhos no celular. “Se você pegar um ônibus e reparar dentro dos carros vai constatar o perigo.” O equipamento também coloca em risco a segurança dos pedestres. “Hoje todo mundo anda com o celular na mão, vai clicando e atravessando as ruas, desce uma calçada sem tomar cuidado”, diz.
“Eles atravessam a rua de cabeça baixa, de olho na tela do celular”, concorda Onésio. “Até dentro do ônibus o celular prejudica. Às vezes paramos no ponto e, quando vamos arrancar, o passageiro grita para esperar pois quer descer. Ou seja, estava distraído e não percebeu que o veiculo havia parado no ponto”, completa.
Sobre o Maio Amarelo, Mário, motorista profissional há 25 anos, considera um evento essencial. “Acho muito válido quando você lembra o pessoal para olhar de novo a cartilha de quando ele tirou carteira de motorista, rever as leis, as placas, os cuidados com veículos maiores… O ônibus é pesado, carrega passageiros em pé e isso demanda requer uma velocidade mais lenta. Muitas vezes, condutores de carros e motos impacientes querem ultrapassar o ônibus em locais impróprios. É aí que acontece a maioria das batidas, esbarradas ou quedas de motociclistas. É preciso tomar um pouco mais de cuidado com os ônibus. Somos grandes, mais lentos e todo mundo se esquece disso. O pessoal tem que voltar lá atrás e repensar de novo: ‘o que eu aprendi na autoescola?’”