Nesta entrevista, o cirurgião-dentista e médico, Gustavo Saggioro Oliveira, especialista em implantodontia e cirurgia bucomaxilofacial* destaca como a medicina hiperbárica pode auxiliar no tratamento de pacientes submetidos à radioterapia, diabéticos e tratados com bifosfonatos. Segundo ele, a anamnese, isto é, a investigação sobre o histórico de saúde do paciente, antes de qualquer intervenção nos ossos maxilares, ganha ainda mais relevância.
Indico aos pacientes que tem risco de necrose óssea decorrentes da radioterapia usada para tratar tumores malignos da cabeça e do pescoço. Por causa dela, os ossos maxilares – maxila-superior e mandíbula-inferior – ficam com pouca vascularização, devido a um efeito colateral nos vasos sanguíneos intra e extra-ósseos. Assim, um procedimento cirúrgico pode leva-los à necrose (osteorradionecrose). No ano passado, tratei mais de 40 pacientes assim. Há também a osteonecrose ou osseonecrose por uso de medicações que induzem a esclerose óssea para profilaxia de fraturas por metástases ósseas ou osteoporose. Esses medicamentos fazem parte do grupo dos bisfosfonatos. Em vista disso, um procedimento cirúrgico simples, como a extração de dentes ou mesmo um trauma(úlcera/afta) causado por uma prótese removível (Roach), pode produzir consequências desastrosas e mutilantes para os pacientes. Muitas vezes, as bactérias da boca invadem o osso necrótico e causam infecções graves (ostemielites/osterradiomielites). Dessa forma, as cirurgias ósseas intra-bucaisnos pacientes com esse histórico têm sempre indicação da oxigenoterapia hiperbárica pré e pós-operatória.
Minha conduta é sempre proporcionar um plus de oxigenação, favorecendo a formação de tecido vascular antes de qualquer intervenção.Assim, posso intervir, respeitando certos limites, nesses casos que eram anteriormente insolúveis. Nos meus pacientes que possuem o risco de osteonecrose, a oxigenoterapiahiperbárica pré-operatória foi o fator preponderante que evitou a osteonecrose, mesmo em caso de grandes cirurgias.
Como esta ação se dá de fato?
A radiação não é seletiva. Ela destrói o tumor, mas também destrói outras células normais, sensíveis e especializadas, como as das glândulas salivares e dos vasos sanguíneos.Então, o paciente apresenta sequelas pós-radioterapia com a xerostomia – a falta de saliva e a hipovascularização óssea. Isso facilita o trauma na mucosa bucal e a necrose óssea.Dessa forma, caso ocorra a osteonecrose iatrogênica ou acidental, hoje conseguimos resolver problemas que eram intratáveis, cerca de cinco a dez anos atrás. Para as osteomielites, a oxigentoreapia é também uma ótima indicação. Para pacientes diabéticos,mesmo sem histórico de uso dobifosfonato (alandronato)ou de tratamentos prévios por radiação, a profilaxia com oxigenoterapia é recomendável.
Como a oxigenoterapia pode contribuir também nas reconstruções dos ossos maxilares dos pacientes mutilados pelas cirurgias oncológicas?
Bem, na minha especialidade, realizamos dois tipos de enxertos ósseos- os livres e os vascularizados. Nestes últimos, duas equipes atuam concomitantemente para que a reconstrução seja por meio de um enxerto ósseo-músculo-cutâneo vascularizado. O enxerto é irrigado pelo sangue do paciente. Eles são mais complexos e demorados. Já no enxerto livre, a área de ressecção de umtumor da mandíbula, por exemplo,o espaço a ser preenchido não deve ultrapassar 5 cm. Assim o fragmento ósseo retirado do paciente não possuirá vasos sanguíneos que o possam nutrir (enxerto livre ou não vascularizado). Antes da oxigenoterapia hiperbárica, osenxertos maiores que 5 cm eram contra-indicados pelo risco deisquemiar, perder volume e sumir. Por isso, fazíamos enxertos vascularizados em espaçosmaiores do que 5 cm.Mas com a hiperbárica, conseguimos colocar enxertos livres de 6 cm até 10 cm que se revascularizaram com a ajuda da alta concentração de oxigênio, além da ação bactericidaque o oxigênio exerce nos tecidos, obtendo assim uma simplificação nas reconstruções.
Quantas sessões de oxigenoterapia são recomendadas nestes casos?
O protocolo internacional é de 20 sessões antes e 10 depois, ou também 30 e 20.No mínimo sempre são 20 sessões antes. Mas é importante lembrar que a oxigenoterapia é adjuvante. Só ela não resolve. Tem que haver a intervenção cirúrgica no caso de uma osteonecrose já instalada, retirando o osso necrosado. Nunca a oxigenoterapia causará danos, mas é preciso evitar o uso indevido e o exagero, para não desgastar o paciente.
Oxigenoterapia hiperbárica
A oxigenoterapia hiperbárica é um procedimento médico com cobertura obrigatória autorizada pela ANS, sendo acessível aos pacientes de diversos convênios e planos de saúde, mediante encaminhamento médico. O oxigênio na concentração de 100% é ministrado nas câmaras hiperbáricas, em sessões diárias cujo número e tempo de duração variam conforme a extensão, o estágio e a gravidade da doença. O tratamento é reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina, pela Agência Nacional
* A cirurgia bucomaxilofacial é uma especialidade da Odontologia relacionada principalmente ao tratamento cirúrgico das estruturas do aparelho estomatognático (grupos musculares, tecidos moles, dentes e ossos ). Procedimentos realizados em uma cavidade muito contaminada: a boca.
Para saber mais, acesse o site o2hiperbarica.com.br ou ligue 3232-5655.