Outra preocupação que passou por sua cabeça era a de não contribuir para as frustrações de Leila, mãe do Bernardo, que, assim como outras mães e pais de crianças com algum tipo de deficiência, já lidava constantemente com tentativas de tratamento sem muito sucesso. “Ao mesmo tempo que o Bernardo foi o meu maior desafio, ele foi o meu maior acerto profissional. Por ele, pude descobrir o meu amor por essas crianças e trabalhar para a inclusão delas na sociedade”, conta a odontopediatra.
Desde então, Sabrina tem transformado a sua rotina dentro do consultório e se tornado uma referência em Juiz de Fora no acolhimento e no tratamento de problemas bucais em crianças, sobretudo aquelas que possuem Transtornos do Espectro Autista (TEA), que se manifesta nas crianças logo nos primeiros anos de vida, comprometendo o seu desenvolvimento e a sua capacidade de comunicação e interação social. Para ela, o principal objetivo é conscientizar as famílias sobre os cuidados com a saúde bucal, que devem ter início ainda na infância.
“Boa saúde bucal é sinônimo de boa saúde geral. A boca é uma porta de entrada para muitos problemas e doenças, como a cárie, que pode evoluir para um canal, criando uma infecção muito maior. O odontopediatra precisa ser também um educador, mostrando para as crianças sobre a importância de escovar os dentes de forma correta e comer alimentos mais saudáveis. É um trabalho que deve acontecer em conjunto com as famílias”, comenta.
No caso dos pacientes TEA, Sabrina ressalta que prevenção requer ainda mais atenção por parte dos pais. “Crianças com autismo costumam apresentar outras síndromes, que levam ao uso de alguns medicamentos que alteram a composição salivar da boca, contribuindo para surgimento de doenças como cárie, gengivite, boca seca dentre outras. Além disso, em razão da hiper e da hipossensibilidade, muitas podem não manifestar dores, o que dificulta ainda mais a identificação de algum problema. Por isso, a visita ao odontopediatra deve fazer parte da rotina.”
Consultório: ambiente lúdico, acolhedor e individualizado
Quem está acostumado a ver dentistas vestindo branco vai se assustar ao chegar ao consultório de Sabrina. Ela mesma evita usar a cor branca, dando preferência a tons mais alegres, presentes nos jalecos e nos equipamentos de proteção individual, como luvas, touca e máscaras. As cores também aparecem nos brinquedos, paredes e livros educativos utilizados por ela durante os atendimentos. Sabe o que também não é branco por lá? A luz. A dentista optou por tons mais quentes, uma estratégia para não provocar quadros de sensibilidade nos pacientes TEA.
“Quando se trabalha com autismo, é preciso saber que cada criança terá suas particularidades, e que estas se manifestam em diferentes níveis. Muitas se incomodam com a luz e o barulho, por isso o consultório foi todo ambientado. O meu compressor foi colocado do lado de fora para não ter ruído. Algumas crianças se incomodam com o cheiro, logo trabalho também com a aromaterapia, com cheiros que ajudam a tranquilizá-las”, explica a odontopediatra.
Para traçar o plano de tratamento desse paciente, Sabrina realiza uma anamnese completa da criança, aplicando um questionário bastante abrangente com as famílias para identificar preferências e padrões de comportamento. “O questionário me ajuda a descobrir o que a criança gosta, pode ser um objeto ou personagens, que funcionam como um reforçador positivo, já que os brinquedos comuns não chamam a atenção delas. Esses objetos são as moedas de troca e me ajudam a aproximar delas, fazendo com que eu consiga realizar o atendimento, mas sempre respeitando o tempo delas.”
Trabalho educativo
Outros recursos que Sabrina utiliza nesses atendimentos são baseados em métodos da terapia ocupacional. Inclusive ela desenvolveu uma técnica para trabalhar consultas com viés mais educativo. São encartes do método ABA e PECS, para a comunicação não verbal. Em conjunto com as famílias, a dentista lança mão do livro social, que ajuda a preparar a criança para as consultas e para o ambiente do consultório, uma vez que o autista preza por organização e previsibilidade.
Para os atendimentos, ela age dentro do que é possível, pois nem sempre a criança consegue ficar deitada na cadeira. “Desde que eu consiga examinar e fazer o que é preciso, não vejo problema. Já atendi pacientes que quiseram sentar na minha cadeira. Penso que profissionais que cuidam dessas crianças precisam, em primeiro lugar, se colocar no lugar dos pais e das crianças, tendo em mente que a criança não vai se comportar da forma que o profissional imagina. Tem que enxergar o paciente como um todo e ter a sensibilidade para saber discernir uma birra de uma crise sensorial, que é muito comum. O autismo requer constante estudo e atualização para que o atendimento possa ser mais facilitado”, finaliza Sabrina.
Clínica Sabrina Novaes
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