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Zona Norte mostra que geração de renda e solidariedade podem caminhar juntas

Dayse
Dayse integram grupo de costureiras da Zona Norte que estão produzindo máscaras de tecido para doação. Renda de R$ 0,50 por unidade tem ajudado a custear despesas das famílias. Rede de solidariedade tem a participação do Moinho, da Simappel, da Drogaria Souza, do Rodoviário Camilo dos Santos e do Trade Hotel (Fotos: Divulgação)
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A inclusão de costureiras e artesãs da Zona Norte na rede humanitária para confecção de máscaras de tecido distribuídas gratuitamente para usuários, sobretudo, das unidades básicas de saúde de Juiz de Fora, é um bom exemplo da abrangência do termo cidadania e do quanto a pandemia da Covid-19 abre reflexões sobre a necessidade de integrar âmbitos individuais e coletivos em uma sociedade marcada pelas desigualdades sociais. Tão exponencial quanto a transmissão da Covid-19 é o benefício que iniciativas desta natureza promovem tanto na vida de quem não tem como comprar o equipamento de proteção, como na vida dos que precisam de oportunidades para se reinventar diante da nova ordem estabelecida.

Aline Mendes e a filha Camila

Costureira desde os 18 anos, Aline Carvalho Mendes,havia perdido o emprego uma semana antes de receber o convite para se juntar ao grupo e, ao lado do marido Rafael, vigilante patrimonial desempregado, e da filha Camila, que celebrou seus 15 anos na última terça, chega a produzir mil máscaras em uma única semana, o que garante à família renda de R$ 500. Moradora do Bairro Araújo, ela observa que busca se fortalecer na sua crença em Deus e na esperança de que a cura para a doença está a caminho. “Tenho fé que é só uma fase, uma tempestade que está passando, porque envolve muita coisa. Empresas demitindo, pessoas que precisam trabalhar, crianças sem escola, médicos cuidando de infectados”, conta, por tudo isso agradecida pela oportunidade de ajudar o próximo e, ao mesmo tempo, gerar um ganho para a família. “A gente espera que o projeto não pare”, diz.

 

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Gratidão e expectativa

O mesmo sentimento de gratidão e a mesma expectativa tem a artesã Marina Martins Penedo que mora em Nova Benfica. A dona de casa que está há um ano desempregada explica que a renda das 100 máscaras que produz por dia, trabalhando das 7h às 17h, com uma folguinha para o almoço, tem ajudado bastante nas despesas da casa que divide com o marido, que é porteiro, e o filho adolescente. “Sempre fui muito ativa e gosto de ter uma ocupação. E sinto que estou fazendo o bem, porque não é só pelo valor do dinheiro. É também pelo trabalho de toda uma rede, de me sentir parte”.

Marina perdeu uma cunhada no Rio de Janeiro, e a sobrinha tem Covid-19

Na última semana, Marina sentiu na pele o drama das famílias que estão perdendo parentes e amigos nesta pandemia com o falecimento de uma ex-cunhada no Rio de Janeiro. “Minha sobrinha, filha dela, também está com o vírus e o momento é muito tenso. Eu estou com medo e não tenho saído de casa. Vejo o pessoal nessas filas imensas, outros abusando mesmo. Tenho muita fé em Deus e acredito que sem ele não somos nada. Vamos pedindo proteção e vivendo”, diz.

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A infecção pelo novo coronavírus também atingiu a família da artesã Dayse Mara de Toledo, moradora de Nova Era, que veio de Barra Mansa. Por isso, ela entende bem a importância de seu trabalho na produção de máscaras para doação.“Quando aceitei não sabia que era para receber R$ 0,50 por unidade produzida. Queria mesmo participar e poder ajudar outras pessoas”, observa a dona de casa que está mais tranquila depois que tio e sobrinho que moram em Barra Mansa estão curados da Covid-19. “As primeiras amizades que fiz em Juiz de Fora foram na oficina de artesanato da Praça CEU, em Benfica. Por isso, fiquei muito feliz com a oportunidade de participar desta grande rede de solidariedade”.

CEU usa meio digital para assegurar acesso comunitário a seus serviços

Biblioteca “drive thru”, festival digital de dança e videoaulas fazem parte da programação da Praça CEU em tempos de quarentena, explica o coordenador geral, André Ferreira

A oficina de artesanato do Centro de Artes e Esportes Unificados, a Praça CEU, em Benfica, foi o ponto de partida para que a rede de ajuda humanitária, formada por representantes de diversas empresas, chegasse até as 19 costureiras da Zona Norte beneficiadas com a produção de máscaras de tecido para doação. “É um equipamento que vai além de oferecer arte, cultura e atividade física. Nesses cinco anos, se firmou na relação com a cidadania, no olhar atento às demandas da comunidade. Por isso, entendi que o convite para integrar a rede seria uma oportunidade muito bacana para as alunas do artesanato, porque elas já tinham habilidade com costura e algumas tinham também máquina em casa”, explica o coordenador geral da Praça CEU, André Noronha Ferreira.

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Com as atividades totalmente suspensas em função da pandemia, o espaço de integração comunitária está fechado, mas isso não tem impedido a mobilização dos 1,2 mil alunos divididos em 15 oficinas regulares, além de beneficiários de projetos de inclusão digital, de incentivo à leitura e para formação de público. Tanto que, na última semana, a Praça CEU realizou seu primeiro festival digital de dança que reuniu pupilos e professores, cada um em suas respectivas casas. Agora, André está envolvido com o lançamento, na próxima semana, da “biblioteca drive-thru”, com a entrega gratuita de livros emprestados da biblioteca na residência do morador da Zona Norte.

Além de servir de ponto de arrecadação de itens da cesta básica e de materiais de limpeza destinados a famílias em situação de vulnerabilidade, a Praça CEU também está desenvolvendo projeto para oferecer oficinas de forma virtual, por meio de videoaulas que estão em fase de preparação. “Estamos atentos às parcerias, como a que temos com o Moinho, para que a gente possa dar um abraço coletivo às demandas da Zona Norte neste momento tão desafiador. Nestes cinco anos de trabalho, tenho constatado como as pessoas da região tem um forte sentido de colaboração, de pertencimento e um olhar muito cuidadoso com o outro.É daí que vem a coragem para que a gente siga se reinventando”, finaliza André.

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