Casa & construção: O que você precisa para seus próximos projetos

Decoração, energia solar, jardinagem, boas opções de compra de imóveis e materiais de construção. As tendências que inspiram o novo morar

Por Cecília Itaborahy, estagiária sob supervisão da editora Isabel Pequeno

A expectativa da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) é de que o setor da construção civil cresça 4% em 2021. E vai na contramão até do esperado para os materiais de construção, que tiveram aumento no preço. O financiamento imobiliário também deve ter aumento. A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) estipula que, ainda neste ano, o crescimento seja de 30%, mesmo que a economia continue sendo prejudicada pela pandemia. Esse cenário nacional possui reflexos em Juiz de Fora, com aumento na venda de imóveis, lançamento de condomínios, assim como itens de decoração e móveis em geral.

De acordo com Marcos Casarin, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Juiz de Fora, durante todo esse período da pandemia, apenas 20% do comércio teve aumento, correspondente aos segmentos de materiais de construção, móveis e itens eletrônicos, responsáveis por movimentar a economia local. Os outros 80% tiveram diminuição.

Marcelo Alves, presidente do Núcleo Urbano, programa de Arquitetura, Design e Urbanismo em Juiz de Fora, percebeu esse crescimento, principalmente em itens de alto valor aquisitivo. Segundo ele, primeiro as pessoas passaram a consumir peças para montar escritório dentro de casa. As cadeiras, por exemplo, foram um dos produtos mais comprados desde o começo da pandemia, um mercado que cresceu 90%, ao lado da iluminação de qualidade para melhorar o dia a dia de trabalho. Agora, as maiores procuras estão voltadas para decoração, como papéis de parede, cortinas e lustres.

A venda pela internet teve recorde. Dados da CDL apontam que, nos últimos 12 meses, 91% dos internautas brasileiros realizaram alguma compra pela internet. Decoração, por exemplo, teve aumento de 23% pelo e-commerce. Apesar disso, Marcelo percebeu que as pessoas também passaram a consumir mais produtos de Juiz de Fora. No começo da pandemia, com as lojas associadas fechadas, a rede em que um indica o outro foi essencial para manter as vendas e fazer com que, hoje, as lojas estejam funcionando e em alta.

Uma coisa puxa a outra

Com alta na reforma de casas, as pessoas estão comprando mais itens de decoração e móveis. Um levantamento também da CDL, com dados de março e abril deste ano, aponta que o setor que mais cresceu foi o segmento de móveis e eletrodomésticos, com 24,8%. Agora, isso vem normalizando, como sinaliza Casarin. Neste mês, esse item foi para o terceiro lugar, perdendo para artigos de uso pessoal e doméstico, em primeiro lugar, e artigos farmacêuticos, perfumaria e cosméticos, em segundo. Para Casarin, isso mostra que as reformas estiveram localizadas no começo da pandemia. “Agora, quem tinha que fazer reformas, já reformou”, diz.

A expectativa do presidente do Núcleo Urbano é a de que, até o segundo semestre do ano que vem, o setor de decoração fique em alta. Isso porque, principalmente em Juiz de Fora, muitos condomínios e empreendimentos continuam sendo lançados e inaugurados, o que afeta diretamente seu setor.

Aproveitando cada espaço

O setor imobiliário acompanha esse crescimento, mas não é generalizado. “O mercado de aluguel teve uma queda muito grande nas locações comerciais e nos apartamentos menores, principalmente os alugados para estudantes, que acabaram indo embora da cidade enquanto as aulas não retornam. Em contrapartida, o mercado de alto padrão foi um dos que mais cresceu. Muita gente acabou antecipando planos, aproveitando o dinheiro guardado ou a taxa de juros de financiamento muito baixa para mudar para o imóvel dos sonhos, adquirir uma casa maior ou até mesmo uma segunda moradia de final de semana”, avalia Diogo Souza Gomes, presidente da Associação Juiz-forana de Administradores de Imóveis (Ajadi).

Isso tudo porque a forma para olhar a casa foi alterada. Antigamente, as pessoas iam para casa apenas à noite, para dormir. Principalmente com o home office, morar se tornou aproveitar ainda mais cada espaço de maneira confortável, onde se trabalha e descansa. “Isso fez muita gente modificar a casa, mesmo sem trocar de imóvel, passar a se conectar com os ambientes de forma muito mais intensa”, observa Diogo. Marcelo Alves acrescenta que as pessoas passaram a querer a casa bonita não apenas externamente, mas também internamente: “Morar é sentir, ter prazer, a casa é o lugar que traduz os melhores sentimentos, seja ele qual for, um local de adoração”.

O crescimento do mercado foi positivo para além do bem-estar. Aumentou-se também a contratação de pessoas no setor de construção civil. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), 317.159 novas vagas de emprego foram geradas entre junho de 2020 e maio de 2021. É por isso que Diogo acredita que o crescimento deve continuar. “O mercado imobiliário é sempre a mola da economia, e a construção civil, o maior empregador do país. Se com toda pandemia tivemos esse crescimento, acredito que a cada dia, com a melhora desse cenário e com o consumidor retomando a confiança na economia, nosso mercado vai crescer muito nos próximos anos.”

 

Mais perto da natureza

Para Alethéia Westermann, arquiteta e urbanista, colunista da Tribuna, a saída diante do cenário de pandemia foi procurar conforto em pequenas coisas. A classe média, principalmente, deixou de viajar e investiu na reinvenção dos espaços. Aqueles que antes não tinham tanto dinheiro para isso passaram a privilegiar a reforma na casa. “A arquitetura de interiores é bem democrática.” O faça você mesmo foi essencial para o momento.
Cada um enxerga os cômodos de uma forma. Mas alguns deles ficaram mais visíveis nos projetos arquitetônicos. O primeiro destaque que altera todo o sentido de morar foi a fuga para o campo: estar perto da natureza, confinado, mas em um espaço verde e arejado. Essas áreas abertas são tendência desde o primeiro momento da pandemia. Alethéia acredita que isso vai continuar em alta, mesmo com a volta à normalidade.

Plantas dentro e fora de casa

Nunca se valorizou tanto a luz natural e as matas, e isso reflete no interior das casas. Tanto que a varanda, seja ela gourmet ou não, ganhou maia atenção. Quem não conseguiu “fugir” para perto do mato reinventou um lugar de lazer, ao ar livre ou não, mas com espaços para churrasqueira, plantas e uma mesa confortável para, finalmente, curtir – mesmo em casa. Isso foi uma válvula de escape, a forma de encontrar conforto.

O design biofílico também está em alta. Esse termo é usado pela arquitetura para sintetizar o interesse das pessoas por trazer às casas o contato com a natureza, que pode ser inserido de várias formas. E isso foi possível mesmo em pequenos espaços. Os jardins verticais, por exemplo, passaram a ocupar os cômodos internos, para além das varandas: algo fácil de fazer e que dá uma cara nova ao espaço, além de proporcionar bem-estar.

Banheiro: um lugar para chamar de seu

O conforto pode ser encontrado até mesmo no banheiro. A arquiteta Alethéia Westermann percebeu um aumento na busca por projetos voltados para este cômodo, seja na construção de novas casas ou nas reformas. Com a casa cheia, muitas vezes o banheiro é o único lugar com privacidade. Investir em duchas ou chuveiros potentes, banheiras, bancadas grandes, revestimentos “clean” foi a forma de fazer um spa dentro de casa.

Home office na sala de jantar

Os momentos em família se tornaram mais agradáveis. A busca por mudar as salas também foi grande. As pessoas investiram em sofás mais confortáveis, para caber todo mundo e conseguir ficar mais tempo deitado assistindo às plataformas de streaming. No mercado, tem tipo para todo mundo: os retráteis, que podem virar cama, os mais sofisticados que deixam a sala chique, e os menores para quem mora sozinho – eles também podem ser confortáveis. Vale o “teste drive”.

A procura por projetos para home office também cresceu, com destaque para as cadeiras ergonômicas e os eletrônicos. Mas o lugar encontrado para juntar todas essas funções foi a sala de jantar. A mesa grande foi a solução para os pais que tiveram que trabalhar em casa e, ao mesmo tempo, ajudar as crianças com as aulas on-line. Ela foi o conforto no caos. Geralmente com lustres sobre ela, até a iluminação é melhor.

Pequenas mudanças podem ser suficientes

Além de ser democrático, Alethéia acredita que o design de interiores tem que ter personalidade. Se não tem dinheiro para redecorar a sala toda, às vezes pintar uma parede, ou apenas uma parte dela, e trocar o tecido das almofadas podem ser suficientes. Nos quartos, um abajur com luz amena e um quadro na parede que tenha a ver com você deixa tudo mais confortável. Plantas podem ser utilizadas em qualquer um desses ambientes – mas é importante saber se ela gosta ou não de sol, quantas vezes tem que regá-la, para que fique saudável.

Ainda dá tempo de reformar. Os preços estão altos por causa do dólar, e muita matéria-prima ainda está em falta, o que pode atrapalhar um pouco o andamento das obras. A dica da arquiteta é planejar, ir comprando aos poucos para que o impacto não seja tão grande. Profissionais da área são essenciais para ajudar nesse momento. As casas são um refúgio. Sentir-se bem nelas é fundamental para passar por esse momento de maneira mais leve. A saúde mental é importantíssima, e pequenos atos podem ajudar a deixar os cantos mais acolhedores. Alethéia sugere abrir mais as casas, deixar a luz natural entrar, espalhar fotos da família ou de pessoas queridas pelos cômodos, tirar da caixa objetos com valor afetivo, que fazem lembrar bons momentos.

Confira os conteúdos que patrocinam este caderno especial