Novas formas de utilização dos espaços prometem aquecer o mercado imobiliário nos próximos anos. Entre estas tendências está o self storage, atividade que garante a locação de boxes individuais para o armazenamento de documentos e bens de pessoas físicas e empresas. Outro movimento já conhecido do juiz-forano é o coworking, que consiste no compartilhamento de salas ou escritórios por diferentes profissionais. Ambas as práticas oferecem soluções econômicas para quem precisa de espaço.
Em junho de 1999, o empresário Collen Nerhey Machado trouxe o conceito do self storage para Juiz de Fora. “Pesquisei muito, vi que a atividade tinha uma boa aceitação nos Estados Unidos, e decidi trazer para cá”, relembra. “Naquela época, o self storage no Brasil ainda estava no comecinho. Fui um dos primeiros a trabalhar nesta área em Minas Gerais.”
Hoje a empresa Box 100 possui quatro galpões, sendo três na cidade e um em Belo Horizonte. “Atendemos pessoas físicas e jurídicas. Somos procurados por profissionais autônomos como arquitetos, contadores e advogados, proprietários de microdistribuidoras, empresas físicas e e-commerce. É uma demanda muito variada.”
Para tantos perfis de consumidores, a oferta também precisa ser diversificada. O tamanho dos boxes é flexível, podendo ser desde o espaço para guardar uma caixa com documentos até grandes volumes. Os valores do aluguel são a partir de R$ 40. “Esta flexibilidade é um grande atrativo do negócio, pois o empreendedor que está começando, por exemplo, pode alugar um box menor e aumentar o espaço conforme sentir necessidade.” Collen destaca, também, a possibilidade das locações sazonais. “Há empresas que alugam por um prazo menor para guardar estoque para datas comemorativas, como o Natal.”
Na avaliação de Collen o modelo de self storage tem grandes chances de crescimento diante da realidade do mercado imobiliário no país. “Temos imóveis menores, e famílias precisando de mais espaço. Os custos da área comercial também estão muito elevados, o que propicia os empresários buscarem alternativas mais econômicas.”
De objetos de família a estoque de empresa
Embora seja um conceito mais recente, o coworking tem se consolidando com mais rapidez no Brasil. Em Juiz de Fora, chegou em 2014 e, desde então, tem ganhado cada vez mais adeptos. Para os profissionais, compartilhar salas ou escritórios permite redução de até 70% dos custos em comparação com a instalação de uma sede própria. Já o self storage, que mantém forte expressividade nos Estados Unidos há muitas décadas, surgiu no país nos anos 1990, mas só agora desponta como um nicho de mercado com grande potencial a ser explorado.
Dentre os motivos para este “despertar tardio” estão a aposta do setor imobiliário na construção de imóveis compactos, o que faz com que famílias precisem de um espaço extra para guardar pertences; a busca de pequenos empresários por menores custos, de modo que eles preferem recorrer ao aluguel do box, em vez de uma loja física maior, para depósito de estoque; e a própria adesão de profissionais autônomos ao coworking, já que sem uma sede própria, o self storage pode ser a opção mais viável para o armazenamento de objetos de trabalho.
Atividade imobiliária
Desde 2013, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) classifica o self storage como atividade imobiliária, baseado na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 6810-2) que enquadra o negócio na subclasse de aluguel de imóveis próprios.
Em abril deste ano, o Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP) promoveu evento sobre o uso de espaços de forma eficiente, e apontou o crescimento da atividade como uma das principais tendências do mercado imobiliário. Atualmente, há cerca de cem galpões que oferecem boxes para locação no país, conforme dados da Associação Brasileira de Self Storage (Asbrass).
Como funciona o self storage
A Associação Brasileira de Self Storage (Asbrass) explica que os galpões das empresas de self storage oferecem boxes individuais de variados tamanhos, conforme a necessidade do cliente. A contratação é feita no molde de contrato atípico para locação de espaço, o que difere do enquadramento de prestação de serviços ou locação tradicional, regida pela Lei de Locações.
Não há exigência de fiador ou cobrança de taxas adicionais, como IPTU, condomínio ou despesas como água e energia. O contrato é mensal e não exige tempo mínimo de permanência. A renovação é automática, e a rescisão ocorre a partir da comunicação ao locador. No documento deve ser inserido o seguro dos bens.
A Abrass alerta que o transporte dos pertences para o box é de responsabilidade do cliente, assim como, o armazenamento. Feito isto, será entregue uma chave para que apenas o locatário e pessoas autorizadas por ele tenham acesso ao espaço. Os galpões são monitorados por câmeras.
Segurança
O diretor de self storage do Secovi-SP e presidente da Asbrass, Flávio Del Soldato Júnior, destaca a segurança deste tipo de negócio. “É uma solução que pode ser usada por pessoas que vão morar fora da cidade por algum tempo e querem alugar seu imóvel para geração de renda, mas querem deixar seus objetos assegurados enquanto estiverem fora”, exemplifica. “Enquanto no storage os contratos são mensais, com renovações automáticas caso não haja desistência, nos de aluguel de imóveis residenciais há um prazo maior, multa rescisória e taxas.”
Líder no Brasil planeja expansão
A primeira empresa a atuar no mercado de self storage brasileiro foi a Kipit, hoje adquirida pela GuardeAqui, líder nacional do setor com detenção de 10% das unidades do país. São 122 mil metros quadrados de área locável disponível e, aproximadamente, 11 mil boxes. Diante das tendências de crescimento da atividade, a empresa planeja expansão. Para isto, pretende investir cerca de R$ 1 bilhão até 2020 para mais do que dobrar suas operações.
A GuardeAqui possui 20 unidades em funcionamento, e tem projeto de chegar a 50 em menos de dois anos. “Estamos atentos aos players do setor e para aquisições que façam sentido com nosso plano de investimentos. Vamos continuar liderando o processo de consolidação do setor”, afirmou o CEO, Allan Paiotti. Em Minas Gerais, possui atuação apenas em Belo Horizonte, mas a cidade de Juiz de Fora está no “radar” da empresa. “Embora ainda não exista uma ação imediata, é uma região que estamos avaliando em nosso plano de expansão”, informou a assessoria.