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A nova dinâmica de morar

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Um espaço, muitas funções: cozinha, sala de estar e sala de TV (Foto: Divulgação)
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Dois quartos, sendo um deles suíte, sala com dois ambientes, cozinha, dispensa, área de serviço, quarto de empregada, banheiro social e varanda. Parece anúncio de imobiliária nos classificados, mas, se puxarmos na memória, a lista de ambientes descreve muito bem como eram os apartamentos em um passado não muito distante. Embora ainda existam projetos bem divididos e com metragens generosas, a maioria dos empreendimentos atuais oferece uma nova maneira de viver, a partir de cômodos mais compactos e integrados.

“A forma de morar mudou muito, e consequentemente as características tipológicas desses imóveis, também. Naturalmente, assim como a sociedade é dinâmica, a cidade e a arquitetura respondem às suas demandas e transformações”, observa o arquiteto e urbanista Paulo César Lourenço. “Nas décadas de 1970 e 1980, os apartamentos eram divididos em muitos cômodos, como sala de estar ou de visita, sala de jantar, sala de TV. Com o passar dos anos, esses espaços foram se unindo, e a própria demanda da sociedade derrubou essas paredes. A vida das famílias está mais corrida, e elas não se reúnem mais como em 1970 para assistir televisão, por exemplo. Hoje cada um tem uma TV no quarto. A sociedade não tem mais tempo de desfrutar de espaços”, destaca.

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Com essa nova percepção, outras áreas da casa que eram coadjuvantes ganharam destaque, como as cozinhas, que aparecem de forma conjugada com a sala em muitos projetos arquitetônicos. “Se antes ela era apenas um cômodo de serviço, ganhou status e passou a fazer parte dos ambientes sociais. Todo mundo passou a cozinhar e entender de gastronomia, bebidas e outros itens. Os equipamentos, por sua vez, dão um show à parte, pois montar uma cozinha equipada, hoje, requer preocupações estéticas”, comenta Lourenço. O quarto de empregada, destinado às domésticas que no passado dormiam em seus trabalhos, também deixou de existir devido à mudança nesta prestação de serviço. Em casas que ainda abrigam esse espaço, o mesmo passou por transformações, seja para ampliar a cozinha ou área de serviço, ou para servir como um novo quarto reversível e com multifunção.

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Complementando a lista de tendências, o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFJF Frederico Braida cita a busca das pessoas por áreas públicas e de lazer, muitas vezes com piscina, churrasqueira, playground e terraço gourmet. “As edificações refletem nossos hábitos culturais, rompendo com as clássicas divisões entre setores sociais, de serviço e íntimos. Os lofts são outros exemplos dessa mudança. Se, antigamente, as quitinetes propunham, prioritariamente, a redução do espaço, obviamente para se reduzir o preço da moradia, os lofts, além de possibilitarem a redução do espaço, viabilizando a construção de apartamentos mais enxutos, evidenciam a mistura das funções e eliminam, por vezes, as barreiras entre os cômodos”, aponta.

Enxugando a metragem

Até a década de 1980, muitos apartamentos tinham um cômodo dedicado a estocagem de alimentos (Foto: Divulgação)

Embora as pessoas acreditem que a especulação imobiliária seja o fator principal para a elevação dos preços dos imóveis, o pesquisador Frederico Braida explica que, na realidade, o que mais influencia é o preço da terra. Assim, as construtoras buscam multiplicá-lo ao máximo, visando ao lucro. “O preço da terra funciona segundo as leis de mercado: da demanda e da oferta. Quanto mais infraestrutura tem um determinado espaço, maiores serão as demandas por aquele espaço e, consequentemente, mais caro. Em geral, todos nós queremos morar em um lugar que tenha rede de água e esgoto, internet, iluminação pública, transporte urbano, vias asfaltadas etc. Então, muitas incorporadoras e construtoras investem em terrenos bem localizados, onde as pessoas desejam estar, e, por sua vez, trata-se de terrenos caros”, explica.

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Contudo, o arquiteto Paulo César Lourenço pontua que existem, além do terreno, outros fatores que não são associados quando o assunto é redução dos espaços, como o tamanho dos móveis e dos eletrodomésticos. “Os televisores, há 20 anos, tinham tubos com pelo menos 60cm de profundidade, e, para acomodá-los, era necessário um móvel com a mesma medida. Atualmente as TVs têm em média 10cm de profundidade e podem ser colocadas na parede. Isso acaba refletindo na dimensão dos cômodos.”

Em relação à dispensa de alimentos, Lourenço aponta que dificilmente as pessoas almoçam em casa. “Logo, não há necessidade de guardar alimentos para um mês. A constituição da família também mudou. Hoje estão mais enxutas, alguns saem de casa cedo para morarem sozinhos, mas, ao mesmo tempo, as pessoas estão preocupadas com a eficiência e cômodos reversíveis”, afirma.

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