Nesta segunda-feira (24), Bob Dylan completa 80 anos. Cantor, compositor, escritor, pintor e, sobretudo, influência artística até os dias de hoje, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, exatamente por sua revolução poética, Robert Allen Zimmerman, de sua maneira, inspirou a arte e a cultura ocidental. No Brasil, o norte-americano é referência declarada de vários músicos e ganhou homenagem em forma de citações (como por Belchior em “Lira dos vintes anos”, ou Caetano Veloso em “Ele me deu um beijo na boca”) e, também, em versões abrasileiradas. A lista é extensa e se renova constantemente. Para comemorar o 80º aniversário de Bob Dylan, a Tribuna lista algumas dessas versões.
“It’s all over now baby blue” é “Negro amor”
Gravada pela primeira vez por Gal Costa, no álbum de 1977 “Caras e Bocas”, “Negro Amor” é uma versão para “It’s all over now baby blue”. Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti construíram uma letra ainda mais dramática e trouxeram latinidade para o folk norte-americano de Dylan – que, por sua vez, influenciou e muito a música como um todo do compositor de Santo Amaro e sua Tropicália. “Negro amor” ganhou também regravação de outras cantores e bandas, como Zé Geraldo, Engenheiros do Hawaii e, recentemente, entrou no novo disco de Gal Costa, “Nenhuma dor”, recebendo, ainda, a participação do uruguaio Jorge Dexler.
“I want you” é “Tanto”
Chico Amaral, letrista de várias músicas da banda mineira Skank, fez uma versão de “I want you”, que ganhou o nome de “Tanto”. Apesar de manter o sentido da letra e a melodia ser bem parecida, a banda conseguiu deixar a canção caracteristicamente Skank: o folk de Bob Dylan virou quase um reggae. “Tanto” foi gravada no primeiro disco da banda, em 1992, e, até hoje, faz sucesso na voz de Samuel Rosa. Em 2001, o grupo registrou versão um pouco mais próxima da original no álbum “MTV ao vivo”.
“Knocking on heaven’s door” é “Batendo na porta do céu”
Zé Ramalho, principalmente por também ser considerado nome do folk brasileiro, conseguiu construir uma versão de “Knocking on heaven’s door” fiel a Bob Dylan. Tanto letra quanto melodia são bem parecidas. Mas, ainda assim, “Batendo na porta do céu”, muitas vezes, é considerada como música autoral, pelo sucesso que fez na voz do cantor brasileiro. Ela foi lançada em 1997 no disco duplo em comemoração aos seus 20 anos de carreira, no álbum “Antologia Acústica”, e fecha a coletânea, repleta de regravações de sucessos de Zé Ramalho.
“Romance in Durango” é “Romance no deserto”
Lançada em 1987 por Fagner, “Romance no deserto”, versão escrita por Fausto Nilo, está presente no álbum de mesmo nome que, por coincidência, foi um dos primeiros do cearense a serem lançados nos Estados Unidos, terra do compositor de “Romance in Durango”. À maneira de Fagner, cantor conhecido pelas músicas de amor, a letra descreve quase o mesmo que a original, mas, o mais interessante, é que ela consegue retratar um romance brasileiro no agreste. O deserto de Dylan é o sertão de Fagner. O cantor brasileiro, inclusive, regravou a música com vários outros músicos e, mais recentemente, fez participação na versão de Gusttavo Lima.
“Tomorrow is a long time” é “O amanhã é distante”
Geraldo Azevedo também é um dos que traduziram Bob Dylan. “O amanhã é distante” foi uma das músicas escolhidas para compor o clássico álbum “Grande Encontro”, de 1996, com Elba Ramalho, Alceu Valença, Zé Ramalho e o próprio Geraldo. No disco, ela foi gravada num dueto entre ele e Zé Ramalho. E foi na voz do segundo que a música fez sucesso no Brasil, integrando a trilha sonora da novela “Araguaia”, que a TV Globo levou ao ar entre 2010 e 2011.
“Zé Ramalho canta Bob Dylan – Tá tudo mudando”
Tamanha foi a influência de Bob Dylan em Zé Ramalho que a referência não parou em “Batendo na porta do céu”. Já em 2008, o cantor lançou um álbum todo dedicado ao artista, com 12 músicas. Dessas, dez são versões em português (inclusive “Negro amor” e “O amanhã é distante”), uma está na versão original, “If not for you” e outra foi composta especialmente para homenagear Dylan, “Wigwam / Para Dylan”. O álbum chegou até a ser indicado ao Grammy Latino de melhor álbum de rock brasileiro, em 2009.
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