Algumas tecnologias costumam “matar” suas versões anteriores, às vezes elas convivem juntas. Se a televisão não matou o cinema e o VHS não matou a televisão e o cinema juntos, o DVD conseguiu a proeza de tornar as fitas de vídeo totalmente obsoletas para a grande maioria das pessoas. Mais tarde, a disseminação da TV por assinatura, o barateamento do DVD para venda direta ao consumidor e a pirataria (torrents, DVDs piratas, que por sua vez foram – mas não em definitivo – um duro revés para os DVD originais) deram o golpe mortal no já combalido universo das locadoras, que até tinha sobrevivido à transição do analógico para o digital. Por fim, o streaming chegou e deixou os disquinhos prateados sangrando na beira do caminho, a ponto de a Disney anunciar no ano passado que encerraria a venda de DVDs e Blu-rays no Brasil.
Mas o streaming trouxe um grande problema para os cinéfilos, pelo menos quando apenas a Netflix reinava soberana por aqui: a falta de filmes antigos e clássicos no catálogo do serviço. Entre os motivos para a ausência, efeitos especiais ultrapassados, ritmo mais lento para contar a história, baixa resolução e uma ou duas gerações para quem as “velharias” não despertam o interesse.
Muita gente reclamou, mas o jogo começou a virar apenas quando os grandes estúdios resolveram investir nas plataformas de streaming, e serviços como o Disney+ e MGM passaram a disponibilizar clássicos e sucessos de décadas atrás que não encontravam espaço na Netflix ou Prime Video. E as opções aumentaram ainda mais a partir de 29 de junho, com a chegada da HBO Max no Brasil, que tem nada menos que todo o catálogo da Warner Bros. à disposição.
Quem bater os olhos nas opções do serviço vai encontrar produções lançadas desde a década de 1930, como o primeiro “King Kong” e daí por diante. Fazem parte do catálogo filmes de todos os gêneros, entre eles “Disque M para matar”, “Fogueira das vaidades”, “Inferno na torre”, “Laranja mecânica”, “Nasce uma estrela”, “O iluminado”, “Doutor Jivago”, “Cidadão Kane”, “Poltergeist _ O fenômeno”, “Sangue de Pantera”, “Seven: Os sete crimes capitais”, “Cantando na chuva”, “Férias frustradas”, “Levada da breca”, “Dirty Harry na lista negra”, “Mad Max” e “Meu ódio será sua herança”.
Para dar aquela forcinha, a Tribuna selecionou filmes de cinco décadas diferentes para que o leitor que tenha assinado o serviço possa dar o pontapé inicial na sua jornada cinematográfica, mas garantimos que qualquer um dos longas citados acima poderiam facilmente estar na nossa lista. Aos filmes, então.
“Casablanca” (1942)
“Sempre teremos Paris”, certo? Considerado um dos maiores filmes de todos os tempos, “Casablanca” venceu três prêmios do Oscar (melhor filme, roteiro adaptado e direção para Michael Curtiz). O longa tem como protagonista Rick Blane (Humprey Bogart), amargurado dono de uma casa noturna em Casablanca, no Marrocos, que é frequentada por todo tipo de figuras da Segunda Guerra Mundial: nazistas, os franceses do regime colaboracionista de Vichy, refugiados, políticos. A neutralidade de Rick na guerra, porém, é posta à prova quando sua ex-amante, Ilsa Lund (Ingrid Bergman), chega a Casablanca com o marido, líder da resistência tcheca.
“Intriga internacional” (1959)
Alfred Hitchock é considerado um dos mestres do suspense na sétima arte, e “Intriga internacional” está na lista de clássicos essenciais do diretor inglês. Aqui temos a famosa história do homem comum que está no lugar errado na hora errada: Roger Tornhill (Cary Grant) é um publicitário que é confundido com um agente secreto, e por causa disso passa a ser perseguido por uma organização misteriosa que acredita que o sujeito está tentando impedir seus planos de roubar documentos secretos do governo norte-americano. A produção concorreu a três Oscars (edição de arte, direção e roteiro original).
“Bullit” (1968)
Considerado inovador a ponto de influenciar muitos filmes policiais que vieram a seguir, o longa dirigido por Peter Yates tem Steve McQueen no papel do tenente Frank Bullit, escalado com outros policiais para proteger Johnny Roos (FeliciOrlandi), irmão de um mafioso e testemunha-chave num processo contra a quadrilha chefiada pelo criminoso. A testemunha, porém, é baleada por dois pistoleiros que descobrem seu paradeiro, e Bullit conta com a ajuda de um médico para encobrir a notícia de que Ross foi assassinado enquanto tenta encontrar os assassinos. Com Robert Vaugh e Jacqueline Bisset no elenco, “Bullit” ganhou o Oscar de melhor edição, além de ter sido indicado a melhor som.
“Um dia de cão” (1975)
Sidney Lumet é o diretor de um dos clássicos do drama policial da década de 1970, que venceu o Oscar de roteiro original e ainda foi indicado a melhor filme, diretor, montagem, ator e ator coadjuvante. Baseado em fatos reais, o longa mostra o drama de um assalto a banco que deu muito errado, em que os criminosos (Al Pacino e John Cazale) esperavam concluir em dez minutos mas se arrastou por horas sem fim, com reféns e cobertura sensacionalista da TV. Para complicar, o público fica a favor dos bandidos e contra a polícia.
“Contato” (1997)
Depois de um longo trajeto entre sua concepção e chegada aos cinemas, o longa dirigido por Robert Zemeckis adapta o romance homônimo de Carl Sagan, um dos mais brilhantes e populares cientistas do século passado. O filme tem como protagonista uma cientista do projeto SETI, Eleanor Arroway (Jodie Foster), que descobre a primeira transmissão extraterrestre, vinda da estrela Vega, com instruções para a construção de uma estrutura que permite o transporte espacial. A descoberta e posterior construção do dispositivo gera uma série de discussões filosóficas, científicas e religiosas, além de _ para variar _ ter a política no meio, sem contar o fanatismo de fanáticos que acreditam que a máquina jamais deveria se tornar realidade.