A jornalista, escritora e tradutora Pilar del Río afirmou ao “El País” ainda em julho de 2016 que José Saramago, de quem é viúva, dizia que o primeiro Prêmio Nobel de Literatura em português deveria ser para Jorge Amado. Saramago que, até hoje, aliás, é o único Nobel de Literatura em português. “Os dois fizeram um pacto: compartilhar o prêmio. O que acontece é que quando deram o prêmio a José, Jorge Amado estava muito mal e não pôde ir”, detalha Pilar. Jorge Amado é simplesmente um dos escritores mais traduzidos da literatura brasileira de todos os tempos. De 1961 até o fim da vida, ocupou a cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é José de Alencar e o primeiro ocupante, apenas Machado de Assis. Indicamos então cinco obras do modernista, comunista e romancista Jorge Amado para homenageá-lo na data que marca 20 anos da sua morte, ocorrida em 6 de agosto de 2001.
Jubiabá (1935)
Jorge Amado chegou às gráficas aos 19 anos, em 1931, com o romance “País do carnaval”. Mas quatro anos e dois romances depois, escreve sobre o garoto Antônio Balduíno, o Baldo, em “Jubiabá”. Desde criança Baldo deseja que a sua história seja contada em um ABC, uma composição popular em louvor de heróis e santos. A história é desencadeada quando a guarda de Baldo é entregue ao comendador Pereira após a morte de sua tia de criação. O romance caminha pela Bahia desde Salvador até o Recôncavo a partir das empreitadas de Baldo como boxeador, sambista, agricultor e líder de greve geral, cujo ABC é de um homem negro que lutou pela liberdade do próprio povo.
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Capitães de areia (1937)
Em “Capitães de areia”, Amado narra a história de um grupo de meninos pobres liderados por Pedro Bala com idade entre 9 e 16 anos, entre um fiel, um letrado, um aprendiz de cafetão e um sedutor, que vivem de golpes e pequenos furtos em Salvador. Em meio a perseguições das autoridades locais, mas também a ajuda dos misericordiosos, os capitães de areia crescem e seguem rumos distintos. O romance é tratado como um dos referenciais da influência comunista no então militante. O escritor, inclusive, viria a se filiar ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), pelo qual seria eleito deputado federal em 1946. A obra foi escrita em meio à instituição do Estado Novo pelo presidente Getúlio Vargas.
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Gabriela, cravo e canela (1958)
Alguns críticos literários filiam os romances “Jubiabá” e “Capitães de areia” a uma primeira fase da bibliografia de Jorge Amado, dita de mais cunho social. A segunda aprofundaria um apego maior de Amado a características do regionalismo, onde estaria, por exemplo, “Gabriela, cravo e canela”. O romance registra a história da mulher “que tem a cor da canela e o cheiro do cravo” recém-chegada a Ilhéus, onde subjugaria o árabe Nacib e tantos outros. A obra é um retorno do autor ao ciclo do cacau. Amado já havia lançado há 25 anos o título “Cacau”. Foi a primeira obra do escritor após deixar o PCB.
Dona Flor e seus dois maridos (1966)
Assim como “Gabriela, cravo e canela”, “Dona Flor e seus dois maridos” é tratada como magnum opus de Jorge Amado. O romance é protagonizado por Florípedes Guimarães, a Dona Flor. Viúva do vagabundo Vadinho, ela divide a vida com Teodoro Madureira e o fantasma do próprio marido. A obra ainda narra participações ilustres de personagens reais, como Dorival Caymmi, Pierre Verger, Mestre Didi, Sílvio Caldas e Carybé. Jorge Amado fora eleito poucos anos antes de escrever “Dona Flor e seus dois maridos” para a Academia Brasileira de Letras.
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Tenda dos Milagres (1969)
“Tenda dos Milagres” retoma características do protagonista de “Jubiabá”, Antônio Balduíno, para dar vida a Pedro Archanjo, também um líder negro de origem pobre. O romance é contextualizado durante a chegada do americano Prêmio Nobel James Levenson a Salvador em 1968 em busca de quatro livros que documentam a formação do povo baiano – curiosamente, 29 anos depois, o amigo José Saramago viria a ganhar o Nobel de Literatura. A Tenda dos Milagres, no Pelourinho, era especificamente o lugar não só onde amigos trabalhavam, mas também sediava o candomblé e a capoeira de Angola. O título é o predileto de Jorge Amado.