Economia no escuro?

Por João Víctor Lavorato e Bruno Gomes

O Brasil enfrenta uma das piores secas de sua história, que é mais severa nos locais onde estão os principais reservatórios geradores de energia elétrica. O país já passou por momentos críticos com relação ao consumo energético e, em plena pandemia, teme relembrar o passado com a incerteza do que acontecerá no restante do ano. Diante deste cenário atípico, o Operador Nacional do Sistema (ONS) reforçou que, nos último sete anos, os reservatórios das hidrelétricas receberam um volume de água inferior à média histórica e que, portanto, esforços terão de ser feitos para evitar situações indesejáveis no segundo semestre, como racionamento de energia ou, no pior cenário, apagões pelo território nacional.

Primeiramente, cabe ressaltar que os impactos da seca não se limitam à disponibilidade de recursos hídricos para a geração de energia. A falta de chuvas tem provocado perdas de safra em importantes regiões produtoras de alimentos que, consequentemente, elevam os preços de produtos como milho, açúcar, trigo e carne. Além da seca, outros dois fatores: o aumento das cotações internacionais das commodities e o dólar alto, ainda contribuem para a maior pressão no bolso do brasileiro.

No ano de 2001, o Brasil adotou o racionamento de energia, que visava uma redução média de 20% no consumo, com algumas variações da meta no período. Isso se deu devido à demanda superar a capacidade de geração naquele ano e à ineficiência do governo em diversificar a matriz energética.

Notadamente, essa crise impactou a economia do país com consequências fiscais, inflacionárias e sobre a atividade econômica, o que pode ser repetido mesmo levando em consideração o diferente contexto econômico mundial e interno. Estima-se, por exemplo, que alguns setores da indústria com alto consumo de energia reduziram em até 11,9% sua produção à época se comparado com os anos precedentes.

No caso do ano atual, com a bandeira tarifária vermelha já em vigor, o risco de desabastecimento é real apesar da diminuição do protagonismo das hidrelétricas. Além disso, nem o nível de atividade econômica estando baixo poderia evitar problemas pela falta de energia, como ressalta o Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo. Sendo assim, projetando um consumo elevado para os últimos meses do ano – em decorrência do possível reaquecimento da economia – e a efetivação do racionamento, teríamos o setor industrial bastante afetado e um consequente impacto no PIB. Sob a ótica dos preços, que já pressionam os índices de inflação, se subirem ainda mais, causarão incômodo para o consumidor.

Dessa forma, é justo encarar com preocupação os possíveis impactos de uma nova crise do setor energético, principalmente em um momento de tamanha fragilidade da economia brasileira, dos setores produtivos e da população com os reflexos da pandemia. Agora, para recuperar o tempo no planejamento do risco hídrico, o governo busca incluir maior fatia de combustíveis fósseis na matriz, além de promover o retorno de programas de economia como o extinto horário de verão.

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