As discussões sobre Inteligência Artificial (IA) ainda são recentes e acompanhadas de muitas questões. Perguntas como “As IAs vão substituir os nossos empregos?” e “Quais são as regras que orientam o uso dessa tecnologia?” revelam a urgência de uma reflexão sobre os efeitos da IA em diferentes áreas da sociedade.
Thiago Britto, fotógrafo há 17 anos e pesquisador de IA, encontrou uma nova forma de expressão ao integrar a tecnologia ao seu trabalho artístico. Há quase dois anos, ele teve seu primeiro contato com ferramentas que geram imagens a partir de descrições. O que começou como uma simples curiosidade logo se transformou em pesquisa, permitindo que ele ressignifique a presença das máquinas no universo da fotografia.
Em entrevista à Tribuna em outubro, o artista contou que as possibilidades oferecidas pela IA têm sido fundamentais em dois aspectos no seu processo criativo. Primeiro, ele destaca a importância da escrita e da descrição precisa de suas ideias. Para alcançar resultados satisfatórios com a tecnologia, é essencial comunicar de forma clara como imagina suas produções. “Eu não tinha o hábito de colocar em palavras meu processo criativo, mas com uma máquina com essa potência de criar imagens, eu comecei com esse exercício”, explicou.
Em segundo lugar, para o fotógrafo, a IA desempenha um papel social na preservação da memória coletiva. Ele observa que, desde pequenos, no Brasil, somos ensinados a história sob a perspectiva dos colonizadores, enquanto as vozes dos povos originários e dos africanos trazidos ao território são raramente ouvidas. Por meio de estudos e das descrições que são oferecidas às IAs, Thiago trabalha com a possibilidade de reimaginar esses cenários e, em conjunto com a fotografia, mostrar representações que nunca foram apresentadas nos livros de história. Isso é especialmente significativo nas salas de aula, por exemplo, onde crianças negras terão a chance de enxergar suas histórias sob uma nova ótica, utilizando a IA como uma ferramenta para construir memória, explica o fotógrafo.
Embora reconheça os desafios éticos e os riscos envolvendo dados e regulamentação, Thiago acredita que a IA traz grandes possibilidades para as artes, permitindo ao artista a experimentação antes mesmo de concretizar a obra. Para ele, a tecnologia não ameaça a criatividade ou a autoria, mas funciona como uma ferramenta que potencializa o desenvolvimento de ideias já existentes. “Assim como uma câmera imita o movimento de abrir e fechar dos olhos, a IA captura e reflete nossas ideias e imaginações.”
Tecnologia, trabalho e direitos autorais exigem reflexão crítica
Diante desse cenário, o professor e pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), especialista na área, Wagner Arbex, explicou o impacto específico da IA no mercado de trabalho. “Por um lado, ela pode “salvar” trabalhadores de atividades nocivas e perigosas, mas, por outro, há o temor de que essas tecnologias resultam em um desemprego em massa”. Segundo o especialista, a realidade é mais complexa: uma substituição em massa não é esperada, mas os trabalhadores precisam estar cientes de que o ambiente de trabalho está mudando com a introdução das novas tecnologias. Isso exige uma adaptação e capacitação, especialmente em setores mais vulneráveis, que realizam tarefas operacionais repetitivas e mecanizadas.
*Estagiária sob a supervisão da editora Carolina Leonel