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“Déficit de natureza”: saiba como as telas podem afastar crianças do contato com o meio ambiente

conectados e protegidos instituto alana
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Basta alguns minutos de conversa sobre a infância de um adulto para surgir uma coleção de histórias sobre como ele jogava bola na rua com os amigos do bairro, soltava pipa e subia em árvores. Afinal, há algum tempo atrás, para uma criança, brincar era praticamente a única opção de diversão.

Hoje os estímulos são outros e têm, cada vez mais, afastado os pequenos do convívio social e com a natureza. É sobre isso que o jornalista e especialista em advocacy infantil, Richard Louv, fala em seu livro “A última criança na natureza”. Nele, Louv cunha o termo “Transtorno do Déficit de Natureza”  abordando os impactos negativos do distanciamento das crianças do ambiente natural. Embora não seja um diagnóstico médico, o termo descreve os efeitos observáveis na saúde física, mental e comportamental das crianças que crescem sem contato com a natureza.

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Esses efeitos incluem problemas físicos, psicológicos e comportamentais, como obesidade, estresse e hiperatividade. O autor defende que o contato com a natureza é essencial para o desenvolvimento saudável das crianças, fortalecendo a imunidade, promovendo o aprendizado e valores como empatia e senso de pertencimento.

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Logo na abertura do livro, Louv cita a fala de uma criança de 4 anos em uma escola de San Diego, Califórnia, para ilustrar a atual dependência das crianças em relação à tecnologia: “Prefiro brincar dentro de casa porque é onde há tomadas.” Levando em consideração que o texto é de 2005, ao longo de 20 anos o acesso e exposição às telas em crianças e adolescentes aumentou exponencialmente. 

Entendendo o tempo do mundo

A nutricionista Clorisana Abreu é mãe de Francisco, de 14 anos, e Davi, de 10, e sempre incentivou o contato dos filhos com a natureza. “Eles aprendem a lidar com o tempo do mundo, que contrasta com a instantaneidade de hoje, onde tudo é rápido. Aqui em casa, quando plantamos duas sementes de laranja, no mesmo dia e da mesma forma, elas brotam e crescem de maneira diferente. Isso é muito educativo.”

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Diferente de muitos colegas de escola, os meninos não têm videogame em casa. Eles possuem celular, mas com regras e horário de uso. Para Clorisana, isso é uma forma de preservar a infância e a adolescência dos filhos. “Eles terão a vida toda para lidar com a tecnologia, não vou tirar a infância deles”, explica.

O resultado desse cuidado desde os primeiros meses de vida se reflete em crianças mais disciplinadas, tranquilas e focadas em atividades menos estimulantes, como a leitura. “As crianças precisam lidar com a frustração. Na internet, se elas não gostam de um vídeo, basta deslizar a tela e encontrar outro conteúdo.”

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A natureza, por sua vez, é feita de ciclos, que também precisam ser respeitados no desenvolvimento de crianças e adultos. “Os meninos me contam que alguns colegas vão dormir às 2h da manhã, porque ficam no celular. Esse excesso de estímulo está criando pessoas extremamente ansiosas”, observa.

Natureza em qualquer lugar 

A especialista em crianças e natureza do Instituto Alana, Maria Isabel Barros, explica que brincar na natureza é mais criativo, ativo e exploratório do que em ambientes tradicionais, como parques infantis. De acordo com ela, a natureza oferece oportunidades para desafios motores, como subir em árvores e brincar com galhos, além de promover a imunidade, a atividade física e a prevenção da obesidade. 

“É claro que nem toda criança tem o privilégio de ter uma árvore no quintal, mas a natureza está em todo lugar”, explica. Ela observa que brincar na rua ou em uma praça já estimula a criatividade. Para ilustrar, Maria Isabel conta que certo dia, enquanto esperava sua filha mais velha sair de uma aula, ficou 20 minutos no estacionamento com o filho mais novo, de 5 anos. “Eu poderia ter dado o celular para ele, mas não fiz isso. Abri a porta do carro, e ele passou os 20 minutos fascinado, brincando com uma trilha de formigas que atravessava o chão do estacionamento.”

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A especialista enfatiza que a criança precisa ter a oportunidade de explorar e brincar livremente, sem a interferência excessiva dos pais. “As crianças, por si só, acham esses caminhos, somo nós (pais e responsáveis) que às vezes que não permitimos isso. Tem gente que cria os filhos dizendo que a natureza é perigosa, aí a criança vai se sentindo polida nos seus movimentos.”

De acordo com Maria Isabel, existe uma dificuldade de desintoxicar crianças do uso excessivo de telas, especialmente quando elas já estão acostumadas com esse tipo de atividade. Uma dica é que os pais busquem entender o que as crianças procuram na internet, se é conexão, desafio, vínculo, e oferecer alternativas offline para essas necessidades. “Se ele entra na internet para jogar com os amigos, às vezes estimular um esporte coletivo, como futebol, vôlei, do lado de fora das telas, pode trazer essa conexão que ele tanto preza”, exemplifica. 

Luta precisa ser coletiva 

Esse processo de desintoxicação e a luta pelo uso consciente das telas precisa ser coletivo. É o que aponta Sabrina Passos, jornalista e idealizadora do projeto Conectados e Protegidos. De acordo com ela, impor uma restrição individual pode levar à exclusão daquela criança ou adolescente do ciclo de amigos. “A gente precisa estimular essa infância mais lúdica, estimular a vida real. É isso que as crianças estão deixando de fazer, estão deixando de fazer coisas que ajudariam elas a se tornarem adultos mais funcionais”, afirma. 

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Em parceria com a pediatra Carol Santin Dal Ri, Sabrina conta que o projeto  surgiu da preocupação com a crescente influência das telas na vida das crianças. As duas, mães de crianças pequenas, perceberam que a exposição excessiva às telas, especialmente em idades precoces, pode ter consequências negativas para o desenvolvimento infantil. 

A partir disso, o projeto busca realizar palestras em escolas e empresas para conscientizar pais e responsáveis através da dados sobre esse risco. Também pelo Instagram da iniciativa (@conectadoseprotegidos), elas divulgam matérias para alertar sobre os perigos do vício em telas, do cyberbullying, da exposição a conteúdos inadequados e dos impactos negativos na saúde mental e física. 

O projeto estabeleceu oito estratégias para que pais e responsáveis adotem em casa, com o objetivo de minimizar o impacto negativo das telas no dia a dia dos filhos e, de certa forma, reverter os efeitos já causados em crianças que estão em contato com a internet desde cedo.

Veja os 8 estratégias para proteger as crianças do uso de telas

  1. Estabeleça uma idade mínima para o uso das redes sociais
    Muitas redes sociais têm políticas que exigem que os usuários tenham pelo menos 13 anos de idade. Respeite essas diretrizes e adie a introdução das crianças às redes sociais até que estejam maduras o suficiente para compreender os riscos envolvidos.

 

  1. Converse sobre comportamento on-line seguro e respeitoso
    Discuta com seus filhos como se comportar de forma segura e respeitosa nas redes sociais. Isso inclui não compartilhar fotos ou mensagens inadequadas, evitar o cyberbullying e o assédio on-line, e criar um ambiente onde eles se sintam à vontade para falar sobre qualquer situação que os deixe desconfortáveis ou preocupados.

 

  1. Mantenha linhas de comunicação abertas
    Estabeleça uma comunicação aberta com seus filhos, para que se sintam à vontade para relatar qualquer atividade suspeita ou preocupante que encontrem on-line. Esteja disponível para responder a perguntas ou preocupações que possam surgir.

 

  1. Ensine sobre a importância do consentimento
    Ajude seus filhos a entender que têm o direito de estabelecer limites e decidir, ou não, dar consentimento para interações on-line, como solicitações de amizade, compartilhamento de fotos ou participação em conversas de grupo.

 

  1. Ensine sobre compartilhamento seguro de informações
    Explique aos seus filhos a importância de não compartilhar informações pessoais, como endereço, número de telefone, escola ou localização, em postagens ou conversas on-line. Ensine como identificar golpes, proteger suas informações e lidar com o cyberbullying. Reforce a importância de usar senhas fortes, evitar compartilhar dados pessoais e pensar antes de clicar em links ou fazer downloads.

 

  1. Monitore as atividades on-line (supervisão ativa)
    Faça um esforço para monitorar regularmente as atividades on-line de seus filhos, seja verificando suas postagens nas redes sociais ou usando ferramentas de controle parental. Estar presente durante o tempo de navegação na internet, limitar o tempo on-line e conversar frequentemente sobre segurança são formas importantes de garantir um ambiente seguro.

 

  1. Conheça as plataformas
    Familiarize-se com as redes sociais que seus filhos estão usando. Entenda como funcionam, suas políticas de privacidade e segurança, e as ferramentas de controle parental disponíveis. Muitos dispositivos e serviços on-line oferecem opções para restringir o acesso a sites, controlar o tempo on-line e bloquear conteúdos inadequados.

 

  1. Ative as configurações de privacidade
    Ajude seus filhos a configurar suas contas de redes sociais com as configurações de privacidade mais restritivas possíveis. Isso pode incluir tornar os perfis privados, restringir quem pode enviar solicitações de amizade ou mensagens, e controlar quem pode ver suas postagens.
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