Certamente, na sua adolescência, você deve ter frequentado algum cursinho de inglês por insistência de seus pais, sob a justificativa de que o idioma seria fundamental para seu futuro. Na hora você pode até ter achado bobagem, mas você cresceu e se deparou com uma situação em que saber o significado de alguns termos fez diferença na sua vida. A gente sabe que a língua inglesa é, praticamente, um idioma universal, mas e quando precisamos ter uma noção básica de francês, de espanhol ou até de alemão? Às vezes, não temos tempo e nem dinheiro para investir em um curso longo ou em aulas particulares. É nestas horas que a tecnologia pode ser a salvação. Sabendo disso, as lojas de aplicativos para smartphones e tablets estão se preparando para atender diversos tipos de demanda. Atualmente, as lojas virtuais estão repletas de aplicativos gratuitos voltados para o aprendizado de idiomas. Basta escolher entre aqueles com o qual você melhor se adapta.
Foi a estratégia que a pesquisadora Marina Sad adotou. Para aperfeiçoar a leitura e a pronúncia e ampliar seus conhecimentos em espanhol, ela procurou um desses aplicativos. “Quero aprender espanhol, mas, antes de estudar formalmente em algum curso ou com algum professor particular, quero já ter alguma noção para não começar simplesmente do zero. Minha intenção, desde o ano passado, quando comecei, era também de facilitar minhas leituras para o mestrado e me preparar para uma possível prova de proficiência em espanhol em uma seleção de doutorado. Acho o método bem legal, pois você lê, escreve e fala, então, treina várias habilidades”, relata ela, que utiliza o Duolingo, o app mais baixado na Google Play e na App Store da Apple (ver arte).
Complemento
Por conta do trabalho e das viagens constantes, a servidora pública Caroline Goulart buscou os aplicativos, como o próprio Duolingo e o HelloTalk, para complementar as aulas particulares de inglês e de espanhol. Quando iniciou os estudos da língua inglesa, a sugestão partiu do próprio professor. Depois, continuou aplicando a técnica quando começou com as aulas de espanhol. “Os aplicativos ajudam a fixar o vocabulário. Dá para aprender muitas palavras novas, treinar a escuta, a escrita e a fala. Porém, não consigo desassociar com as aulas. Eles, sozinhos, não suprem as minhas necessidades, mas funcionam como um complemento. Mesmo assim, acho que ajuda muita gente, principalmente quem precisa aprender rápido para viajar”, avalia.
Apps são fonte de informação, mas não substituem aulas
Para a professora de línguas francesa e espanhola, Raniele Eveling, os aplicativos podem ser fonte de informação da pessoa que deseja ter um primeiro contato com a língua, mas não devem substituir os cursos ou aulas de idiomas. “O cenário ideal seria aquele no qual os dois atuassem de maneira conjunta. Alguns alunos não se adéquam a determinadas metodologias empregadas por cursos e/ou professores, e, muitas vezes, têm a necessidade de aprender rapidamente um idioma, seja por trabalho ou viagem. Não se deve deixar de buscar o auxílio de um professor como uma forma de contribuição e reforço aquilo que já foi aprendido, já que a maioria dos aplicativos não traz visões sociais e culturais da língua em questão”, aponta.
Ela acrescenta que aprender uma nova língua não é apenas uma questão gramatical, mas também conhecer a cultura de um povo e a forma como aquela sociedade se organiza. “O contato social com professores e falantes nativos é imprescindível para que os alunos tenham reconhecimento linguístico, cultural e social dos que falam aquela língua e possam aprender. Assim, ao escolher determinado aplicativo, os alunos devem buscar aqueles que lhes permitam trocar informações com falantes nativos e outros aprendizes daquela língua. Alguns são considerados melhores que outros, porém, tudo depende do objetivo do estudante. Ele deve se sentir à vontade com o método e perceber uma evolução logo nas primeiras lições, assim saberá que aquela será uma boa ferramenta em seu aprendizado”, orienta Raniele.
Na visão da também professora e pesquisadora na área de aprendizagem de línguas mediada por computador e dispositivos móveis, Patrícia Nora de Souza Ribeiro, o uso das tecnologias da informação e da comunicação é cada vez mais presente e necessário nas diversas instâncias sociais, mas na educação, em particular no ensino de línguas, ela ressalta que esses dispositivos – computadores, celulares e tablets – e a internet fornecem as mais variadas oportunidades para ter acesso a materiais e vivências das línguas. “A aprendizagem de línguas mediada pelos aplicativos amplia as possibilidades, mas eles não substituem os cursos de idiomas. E a escolha de um ambiente ou recurso digital deve ser feita com base nas necessidades, objetivos e estilos cognitivos do aluno”, comenta.
Uso produtivo
Além disso, Patrícia reitera que o sucesso no aprendizado não é determinado pelas tecnologias em si, mas sim pelas abordagens pedagógicas utilizadas e pela forma como são exploradas. “Por isso, dentre os aplicativos existentes, os mais produtivos para aprendizagem de línguas, a meu ver, são aqueles que propiciam atividades que envolvam a participação e a interação em contextos sociais de uso da língua e que favoreçam a aprendizagem colaborativa entre os participantes”, sugere.
Entretanto, a pesquisadora pondera quanto ao acesso e à qualidade do material digital aplicado no processo de aprendizado de um idioma. “São materiais de apoio de grande valor, mas sua seleção e uso deve ser orientada pelo professor para que o aluno não seja exposto a usos considerados inadequados e para que possam se apropriar dos mesmos de forma crítica e reflexiva. Os aplicativos propiciam o aprendizado de vários idiomas gratuitamente ou a custos mais reduzidos. Apesar das limitações de uso desses dispositivos, como tela reduzida e custo da internet, por exemplo, as vantagens são várias, como a possibilidade de organização do tempo para estudo, a motivação que pode ser favorecida por meio de estratégias de jogos, como a gamificação, contribuindo para o engajamento do aluno nas atividades. Além disso, proporciona o acesso a contextos reais de comunicação”, finaliza.