No Brasil, a Triumph trilha um caminho diferente do que percorre em outros mercados pelo mundo. Lá fora, a marca se notabiliza pelos modelos clássicos, que respondem por mais da metade das vendas. Aqui dentro, as motocicletas da fabricante inglesa no segmento de bigtrails representam algo em torno de 70% das Triumph emplacadas no país. Esse número dá a dimensão da importância da chegada das renovadas Tiger 800 e Tiger 1200. Elas vieram com ligeiras modificações estéticas, ciclística aprimorada e refinamento dos sistemas de auxílio eletrônico à condução.
A mudança na Tiger 1200 começa pelo nome. O modelo perde a alcunha “Explorer” que a acompanhou desde que foi apresentada, no Salão de Milão de 2011. Na carenagem, a alteração ficou por conta da moldura onde fica encravado o emblema da marca inglesa. Logo abaixo, a palavra “Explorer” foi substituída por Tiger, logo acima da sigla da versão. Outra modificação flagrante é o sistema de iluminação mais sofisticado, com o uso mais intensivo de leds. Na versão básica XR, é aplicado nos piscas e nas luzes de posição, o que cria uma assinatura luminosa que dá um aspecto bem tecnológico ao modelo. A partir da intermediária XCx, os faróis passam a ser em led e ela ganha ainda um sistema de iluminação em curvas – que se intensifica de acordo com a inclinação da moto. A versão top XCa incorpora ainda luzes de neblina.
A partir do uso intensivo de led — que demanda apenas 10% da energia de uma lâmpada incandescente —, a engenharia da marca decidiu reduzir drasticamente a capacidade e o tamanho da bateria nas versões de topo. Só aí são economizados 2,5 kg no peso final da motocicleta. Algumas outras fontes de emagrecimento foram o virabrequim, o volante do motor e o escape. Na versão de topo, o total chega a 10 kg. Apesar de todos os equipamentos adicionais, a XCa tem apenas 6 kg a mais que a XR: 248 contra 242 kg.
Ao fuçar os componentes do motor, o objetivo da engenharia não era apenas baixar o peso, mas também melhorar o desempenho. No caso, o motor tricilíndrico de 1.215 cc passou a render 141 cv, dois a mais. O ganho de potência veio acompanhado por diversas evoluções técnicas. De novo, a Tiger 1200 passa a contar com mais modos de condução — três na XR e seis na XCa —, que alteram parâmetros de ABS, potência, controle de tração e resposta ao acelerador. A versão de topo traz ainda recursos mais sofisticados, como suspensão semiativa e sistema para trocas sem o uso de embreagem, tanto para subir quanto para descer as marchas. Tem ainda chave presencial, que permite usar a motocicleta sem retirá-la do bolso.
A Tiger 800 também recebeu alguns aprimoramentos mecânicos, só que mais sutis. O fluxo de saída de gazes foi melhorado com um novo escapamento — que alterou o ronco do motor tricilíndrico. Com isso, apesar de manter os 95 cv, tem o pico de potência aos 9 mil giros — 250 rpm mais cedo. Também a relação da primeira marcha foi encurtada, para obter melhor resposta em baixas velocidades e dar mais agilidade no off-road. Nesse ponto, contribuiu ainda o novo modo de pilotagem Off-Road Pro — também presente na 1200 —, que desliga todos os sistemas de auxílio à pilotagem. No total, são também seis modos de pilotagem na versão de topo XCa.
No visual, as alterações na Tiger 800 também foram poucas, mas marcantes. Além de faixas e inscrições no tanque, as aletas laterais do tanque e o para-brisa tiveram o desenho modificado. A iluminação nas versões de topo também passa a ser full led, com uma assinatura em led entre os faróis. A maior parte das mudanças foi mesmo na arquitetura eletrônica do modelo.
Apesar todas as mudanças — a Triumph diz que foram mais de 100 alterações na Tiger 1.200 e mais de 200 na Tiger 800 —, os preços dos modelos atualizados não se distanciaram dos valores anteriores. A 1200 inicia em R$ 60.090 na XR, passa pelos R$ 73.190 da XCx e chega aos R$ 83.490 da XCa. Já a Tiger 800 começa em R$ 43.190 para a XR, vai a R$ 48.390 para a XRx, passa pelos R$ 51.390 da XCx e bate nos R$ 55.890 da XCa. A partir do segundo semestre, a versão XRt, mais vocacionada para o off-road, vai começar a ser vendida por R$ 54.890.
Primeiras impressões
A Triumph aposta com fervor no conceito de suas motocicletas aventureiras. Por isso mesmo, a lógica evolutiva da linha Tiger é mudar devagar e sempre. Mantém, por exemplo, o conceito de usar motor tricilíndrico, que reúne baixa inércia, pouca vibração e boa potência. Conserva também o quadro em aço tubular em treliça, que tem boa rigidez torcional e muita resistência a impactos sem ser excessivamente pesado. Já outros ingredientes, como suspensões, sistemas eletrônicos, escapamento e freios, a Triumph compra no mercado — dependendo da versão, de marcas mais ou menos sofisticadas. E é por isso mesmo que consegue se atualizar rapidamente, mantendo o estilo, o equilíbrio da ciclística, o prazer na pilotagem e a qualidade na construção e no acabamento.
Tanto a Tiger 800 quanto a 1200 se encaixam bem neste raciocínio, mas cada uma com personalidade própria. A 800 é uma motocicleta mais arisca, que instiga o pilota a explorar sua esportividade. Ela tem boa altura livre para o solo e muita agilidade em trechos off-road. Até porque pode trazer quase todos os recursos do modelo maior — com exceção da suspensão semiativa —, mas é quase 50 kg mais leve. Ela acelera forte, retoma com autoridade e tem uma posição de pilotar que permite total controle sobre o veículo. O painel, digital nas versões testadas, oferece configurações diferentes para facilitar o monitoramento por parte do piloto.
Já a 1200 é uma motocicleta que é muito bem disposta a longas viagens. Os bancos têm tamanho generoso e são extremamente confortáveis. A posição de pilotagem é um pouco mais relaxada que na 800 e melhorou com o recuo do guidão em 2 cm. Além disso, o desenho do acento permite um bom apoio no solo quando está parada — o que facilita as manobras. Nas duas, o computador de bordo é bem completo nas versões mais caras e é bem simples de navegar pelos menus de configuração.
Como forma de sofisticar e aumentar o charme dos modelos, a fabricante decidiu colocar uma assinatura em diversas peças, como a barra do guidão e o estofamento dos bancos, que passam a estampar recebem a logomarca ou o emblema da Triumph. É por cuidados como esse que a marca tem obtido um desempenho surpreendente por aqui. O Brasil é o país onde mais se compra Tiger 800 no mundo e o segundo mercado da Tiger 1200 — só perde para o Reino Unido.